Analise de café: "O que o mercado está esperando para explodir", por Marcelo Fraga Moreira*

Publicado em 07/12/2020 05:42
*Marcelo Fraga Moreira escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.

Ao invés do mercado seguir subindo, buscando novas máximas, nessa semana ocorreu tudo ao contrário! Café caiu -5,13% (saindo de 128,60 para 122,00 centavos de dólar por libra-peso) e o Real valorizou +5% (saindo de 5,39 R$/US$ para 5,12 R$/US$)! Fundos! Onde vocês estão? O que estão vendo que o mercado ainda não viu?

Aparentemente a previsão de chuvas abundantes até dia 17 de dezembro foi o  estopim para esse “banho de água-fria” (segundo a previsão do World Weather, Inc.).

Segunda-feira e terça-feira, no Set-21, vimos o mercado negociar nos “highs” da semana @ 128,60 centavos de dólar por libra-peso com volume razoável nesses dois primeiros dias (43.500 lotes na segunda-feira e 44.000 lotes na terça-feira). Já na terça-feira o mercado não aguentou e praticamente negociou nas mínimas da semana @ 122,90 centavos de dólar por libra-peso (a mínima da semana foi na sexta-feira @ 122.00 centavos de dólar por libra-peso). O Set-21 fechou cotado  @ 122,45 centavos de dólar por libra-peso. E o Real @ 5,12 R$/US$.

Na terça-feira o estrago já estava feito com o mercado oscilando 570 pontos (não tendo forças para seguir trabalhando acima da resistência da média móvel dos 50 dias @ 127,40 centavos de dólar por libra-peso). o Set-21 fechou a semana abaixo do primeiro importante suporte da média-móvel dos 10 dias @ 123,80 centavos de dólar por libra-peso. Agora precisamos ficar atentos nos próximos suportes @ 117,60/20 centavos de dólar por libra-peso (respectivamente o suporte da média-móvel dos 21 dias e o suporte da média-móvel dos 50 dias). Será que vamos ver isso acontecer?  

Os fundos terminaram a semana comprados em +23,737 lotes. Com baixo volume negociado na quinta-feira e sexta-feira podemos supor que os produtores se retiraram do mercado (20.700 lotes negociados na quinta-feira e 24.000 lotes negociados na sexta-feira).

Para os produtores que não aproveitaram as oportunidades das últimas semanas, seja via a compra de “Put-Spreads” vendendo as “Calls” e vendendo as NDF (cambio futuro) para travar a remuneração em Reais/saca (garantindo um “piso/teto” em Reais/saca entre 600-800 R$/saca) o prejuízo/frustração foi enorme. A remuneração para o produtor na semana caiu aproximadamente -12% (saindo de 670 R$/saca para 580 R$/saca)! Se o mercado seguir caindo, for buscar os 117,00 centavos por libra-peso e o Real os 4,70 R$/US$ o cenário será ainda pior com, com a liquidação para o produtor podendo voltar a ficar abaixo dos 500 R$/saca! 

Negócios para o próximo ano praticamente pararam com os produtores ainda almejando preços acima dos 650 R$/saca.

No mês de novembro investidores estrangeiros entraram com mais de 3.5 Bilhões de dólares no Brasil, via mercado financeiro. Bancos já sinalizam o Real valorizando para 4,70 R$/US$ (conforme informado no nosso “comentário semanal” anterior).

Estados Unidos estão tentando aprovar novo pacote de estímulos (entre 1-2 TRILHÕES de  US$) para manter a estabilidade/crescimento da sua economia! Existe muito dinheiro “especulativo” nas mãos dos bancos/fundos procurando remuneração para seus clientes! Com os juros próximos de zero em muitos países o mercado de commodities poderá ser fortemente favorecido.

Economias ao redor do mundo seguem crescendo, com a renda per capita ultrapassando os US$ 2.000/per capita (segundo Jean van de Walle e sua publicação “The Next Commodity Cycle and Emerging Markets” esse é um importante sinalizador. Ele indica que quando essa patamar é atingido a demanda por commodities minerais/petróleo/energia e comida nesses países aumentam consideravelmente. Segundo este artigo, desde 1994 a renda per capita chinesa saiu de US$ 746 para US$ 7.784. Seguindo o exemplo da China outros países como Índia, Indonésia, Filipinas, Egito, Bangladesh, Kenya, Ghana estão crescendo ano após ano e já ultrapassando essa barreira dos US$ 2.000/per capita. Com a recuperação das economias após o término dessa pandemia e com o crescimento populacional nesses países a demanda por esses produtos continuará firme e forte!

Na quinta-feira a EDF&Man soltou sua estimativa para próxima safra com redução de -30%, para uma produção entre “café arábica e conillon/robusta” ao redor dos 50 milhões de sacas (-10 milhões de sacas se comparado com o relatório do Rabobank divulgado na semana passada).

Neste mesmo relatório da EDF&Man foi apresentado um estudo da NOAA (Administração Oceanica e Atmosférica Nacional dos EUA) sobre o efeito La Nina podendo durar até o primeiro semestre de 2021. Se isso vier a ocorrer a probabilidade é alta para baixas temperaturas e risco de geadas durante o período da próxima colheita .

Então, por que o mercado caiu e poderá cair mais 500-1000 pontos nos próximos dias com tantos fatores “altistas”? Tirando o lado “técnico/gráfico” para nós essa queda não faz sentido e os preços deverão se recuperar em breve!

Graficamente o mercado estava indicando uma formação conhecida como “Ombro-Cabeça-Ombro invertida”. Acreditamos que esse movimento será de consolidação/latelarização de curto prazo. Em breve veremos os fundos voltando a comprar. Produtores já fixaram um bom volume para a próxima safra 21/22 e 22/23, e segundo nossas fontes, alguns produtores já estão preocupados com o “tamanho da quebra” e se serão capazes de cumprir com seus compromissos já assumidos!

Fatores altistas não faltam: período de seca durante os meses de agosto-outubro 2020 com quebra da próxima safra 21/22 já sendo estimada entre -10/-40%; problemas com produção na América Central; produtores brasileiros já sinalizando receio com seus contratos; valorização do Real frente ao US$, dentre outros!

Continuamos acreditando que o Set-21 poderá superar os 200 centavos de dólar por libra-peso! Os fundos deverão voltar a comprar e muitos produtores não terão “força” e/ou “coragem” para vender.

Para quem realizou a compra dos “Put-Spreads” quando o mercado estava nos “highs” das últimas semanas (entre 120-128,50 centavos de dólar por libra-peso) considerem vender essa posição e colocar o lucro no bolso. Ou, para os mais conservadores, mantenham os “Put-Spreads” nos livros, e aproveitem essa baixa para recomprar as “Calls” que foram vendidas @ 130-150 centavos de dólar por libra peso (deixando assim o “upside” aberto para novas fixações)!

Vamos seguir monitorando o clima, o cambio, desenvolvimento das lavouras, o interesse pela demanda, ritmo das exportações brasileiras, o apetite por parte das tradings/compradores/torrefadores no destino final, e o cenário político doméstico e internacional. Se tivermos geadas fortes em 2021 no Brasil e algum novo fator altista seguimos acreditando no mercado negociando acima dos 200 centavos de dólar por libra-peso!

Como sempre, cuidado com as “operações estruturadas” nos livros (os famosos acumuladores que podem dobrar, aparecer se o mercado negociar a X nível).

Não coloquem riscos desnecessários nos livros! Façam suas contas, lição de casa, e aproveitem as oportunidades!

Boa semana a todos!

Marcelo Fraga Moreira*

** “Call” = opção de Compra

** “Put” = opção de Venda

** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício  mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);

** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício  mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);

** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício  mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);

** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício  mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);

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Fonte:
Archer Consulting

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