Afinal, de quem é a fumaça?, por Amilcar Centeno

Publicado em 18/02/2013 09:13
Por Amilcar Centeno Silva.
Amilcar Centeno - Páginas Internas
Há vários anos encontra-se em discussão no Brasil a regulamentação para o controle de emissões em veículos fora de estrada, incluindo as máquinas e equipamentos agrícolas.

Ninguém de sã consciência pode ser contra esta iniciativa, porém gostaria de chamar a atenção para um fato que não podemos aceitar: esta discussão tem sido conduzida  tanto por órgãos públicos como por associações técnicas, porém sem a participação daquele que vai pagar a conta: o agricultor!

Em legislações similares implantadas em outros países o custo das soluções para controle de emissões chega a USD 5 mil por trator. Este custo é introduzido no custo do equipamento e transferido ao preço pago pelo agricultor na aquisição destas máquinas.

Além disso, estudos realizados nos Estado Unidos analisaram o impacto potencial na agricultura do país pelo Ato de Segurança Climática (America’s Climate Security Act), que visa reduzir em 70% as emissões do país até 2050 e concluíram que esta legislação poderá aumentar os custos de produção em cerca de USD 6 a12 billion. Os custos de produção do milho, por exemplo, deverão aumentar em cerca de USD 148,54/ha até 2020. 

É evidente que estes aumentos de custos precisam ser transferidos aos principais países concorrentes, de modo a preservar a competitividade da agricultura norte-americana, independentemente do que já estejam fazendo para preservar o meio-ambiente.

Como dissemos antes, apesar de todo o mérito da iniciativa de se controlar as emissões em máquinas agrícola, não podemos concordar com a forma extremamente injusta como está sendo proposta. Afinal, quem vai pagar os custos do processo é um agente que na verdade captura mais emissões do que as emites, ou seja, tem um balanço positivo de carbono: o agricultor brasileiro!

Esta iniciativa, assim como grande parte das críticas feitas ao setor agrícola Brasileiro, baseia-se no fato de indicar o setor como responsável por 30% das emissões de gases de efeito estufa. Porém estas afirmações baseiam-se apenas em metade dos fatos, exatamente o lado negativo, e ignora o lado altamente positivo da atividade agrícola, que é sua grande capacidade de recapturar suas emissões e ainda oferecer um saldo positivo, capturando parte do carbono emitido por outros setores da sociedade (a maior parte deles tipicamente urbano).

Dezenas de trabalhos científicos já comprovaram que lavouras de grãos sob plantio direto e canaviais colhidos mecanicamente sem o uso de queimadas, oferecem um balanço positivo na captura de carbono.

Esta duas praticas são dominante em nossa agricultura tropical e totalmente diversas daquelas praticadas nos países que controlam emissões por máquinas e equipamentos agrícolas!

Com a utilização de técnicas como o plantio direto e a rotação de culturas, nossos agricultores deveriam lucrar com a venda de crédito de carbono, e não serem penalizados como propõe esta legislação “alienígena”.

Inúmeros trabalhos científicos indicam que, ao contrário do cultivo tradicional, que promove intensa mobilização dos solos através de operações como a aração e a gradagem, o plantio direto, aliado à rotação de culturas, tem capacidade de sequestrar cerca de 0,5 tonelada de CO2 por hectare/ano. Isto já considerando o balanço entre o que é emitido e o que é capturado durante o processo produtivo. 

Estima-se que atualmente no Brasil cultivamos mais de 35 milhões de hectares sob plantio direto, o que equivale dizer que todos os anos estas lavouras capturam cerca de 17 milhões de toneladas de CO2.

Isto se dá pelo fato de que existe três vezes mais CO2 fixado no solo do que na atmosfera. Se o solo não for manejado de forma adequada, esse carbono é liberado e contribui para o aquecimento global o carbono produto da matéria orgânica no solo se encontra protegido dentro de agregados do solo, formados por um conjunto de partículas que se aderem umas às outras por ação bioquímica. O plantio direto preserva estes agregados, enquanto o preparo intensivo do solo os destrói.

Em estudo realizado recentemente por uma rede de instituições de pesquisa, incluindo várias unidades da Embrapa e a Universidade Federal Fluminense, constatou-se que o manejo do solo em plantio convencional, com o uso de gradagens e arados, acumula cerca de duas vezes menos carbono orgânico no solo do que o plantio direto. De acordo com os resultados deste trabalho, o solo sob plantio direto contínuo por vários anos evita que 79,4 quilos de carbono por hectare por hora sejam emitidos para a atmosfera. No solo sob plantio convencional, o desempenho foi 63,3% inferior.  

Outro ponto extremamente importante, e muitas vezes ignorado nas discussões sobre controle de emissões é de que o Brasil vem percorrendo um caminho próprio no controle de emissões por veículos. Enquanto na maioria dos países os esforços se concen controles formaram na tecnologia aplicada aos motores, em nosso país a maior parte dos resultados alcançados até agora se deu via tecnologia dos combustíveis, notadamente o etanol. Tanto que hoje o Brasil é o país com maior percentagem (cerca de 45%) de sua matriz energética originada de fontes renováveis.

Por falar em etanol, este é outro produto da agricultura nacional que captura carbono ao longo do seu ciclo de produção e utilização, permitindo uma redução de até 90% na emissão de CO2, em comparação com o uso da gasolina.

Mas este é um assunto para nosso artigo da próxima semana, pois por hoje já abusamos do tempo de nossos leitores.

Até lá, PENSE NISSO!
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Fonte:
Amilcar Centeno

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4 comentários

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Isso tudo è conversa mole. O problema jà tem solução, a energia elètrica gerada pelo sol. Isso acabaria com essa porcaria de petrobras e com a mamata de usineiros. O bolsa Louis Vitton que o governo distribui para essa gente a juros subsidiados via BNDS.

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  • Bertholdo Fernando Ullmann Patos de Minas - MG

    Como disse um Usineiro poucos dias atras: "Todo mundo é a favor do meio ambiente, mas quando tem que colocar etanol no tanque(gasolina está mais favorável) esqueçe do meio ambiente, pois pesa no BOLSO"

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    O "Gás da Vida" é o Gás Carbônico (CO2). Quanto maior o seu teror no ar, melhor para as plantas. Atualmente a quantidade disponivel é de 0,38% ou seja 380 ppm. Nas cidades ele, acumulado e por falta de dissipação adequada pode representar poluição. RIDÍCULO no entanto, [MUITÍSSIMO ridículo] é permitir aos AMBIENTALÓIDES implantar regras para o controle da emissão de CO2 por motores que funcionam na área rural do país. RIDÍCULO mesmo é nossa classe servir novamente de inocentes úteis para os argumentos "deles"

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  • marco possenti melnek san albero paraguay - PR

    E fasil anda un dia dentro de uma sidade. E depois. Um dia no campo. Mais e asin alguei tei que paga o pato. Adivinha quei vai paga o pato.

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