Boi Gordo: Começo das fases de baixa é moderado

Publicado em 05/03/2012 08:56 e atualizado em 05/03/2012 11:56
Por Lygia Pimentel, médica veterinária, pecuarista e especialista em commodities.
O que dizer desse mercado, hein? Ele não está em seu melhor momento para nós, que 
vivemos da venda do boi gordo. E se a venda de animais passa por um período ruim – e, diga-
se de passagem, o que vemos é a cara da safra, mesmo – o mercado futuro também não nos 
ajuda a desenhar um horizonte muito positivo sobre o que será do produtor no segundo 
semestre.  

Mas todo mundo que lê esta coluna há algum tempo sabe que não costumo ser torcedora. Posso ou não gostar do que está acontecendo com o mercado, mas aqui procuramos deixar a emoção de lado e trabalhar com a realidade, mesmo que ela não seja agradável. Isso nos dá o máximo de tempo possível para refazer o percurso e desviar do iceberg. Sabemos que negar os fatos não ajuda nada e que cedo ou tarde, a lei da oferta e demanda fala mais alto. 

Pra começarmos, vamos analisar ano a ano o comportamento do boi gordo em safras 
passadas. Quero saber se estamos dentro da normalidade e até onde a história nos sugere que 
esse movimento pode ir. Observe o gráfico: 

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Bom, dá pra tirar algumas conclusões quando olhamos para o gráfico acima. A primeira – e para mim, mais importante – é saber que nada é regra. Isso significa que em algumas ocasiões os preços do boi gordo subiram durante a safra. Acontece! 

Mas o interessante mesmo é associar essas exceções à fase dos ciclos pecuários anteriores. O que quero dizer é que fica claro no gráfico acima que a incidência de preços em alta durante a safra costuma ser menor em anos de fase de alta, traduzidos pelo fundo azul. Já em anos de fase de baixa (traduzidos pelo fundo vermelho), temos uma menor incidência de exceções.
 
Mas assim mesmo elas são possíveis, afinal de contas, exportações, consumo interno, proteínas concorrentes, macroeconomia, custos de produção e outras variáveis também entram na conta. 

Outro dado que não é novidade, mas que foi provado pelo gráfico acima, é que na maioria dos anos os preços caem nessa época. Tem gente que diz que o volume de animais confinados está anulando essa regra e que não temos mais safra e entressafra, mas eu discordo.
  
Mesmo em anos recentes, o regime de chuvas e o impacto que ele tem sobre os custos de produção ainda fazem o boi gordo reagir no segundo semestre. É claro que assim como a safra, a entressafra também tem suas exceções. Observe o gráfico 2. 

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Desde 2006 adentramos a fase de alta do 8º ciclo pecuário desde o início da série histórica mais longa que tenho aqui para os preços do boi gordo. É claro que tivemos outros ciclos antes disso, mas considerarei a minha série histórica. 

Nela, fica claro que na maioria dos anos a entressafra obedece a premissa de que a falta de chuvas acarreta um custo maior para o invernista e, consequentemente, necessita uma remuneração maior para que a atividade compense. Isso não é regra. Em 2009, por exemplo, não foi o que ocorreu. Adianta reclamar? Não. É a verdade nua e crua do mercado. Quando a oferta é maior do que a demanda, os preços não acompanham os custos necessariamente. 

Certo. Quanto blá, blá, blá. 

Vamos ao ponto. O que quero mostrar aqui é que a recente queda já ultrapassou o limite médio que costuma respeitar em fases de alta do ciclo pecuário, mas também não chegou onde uma possível fase de baixa poderia nos levar. Observe: 

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O que temos até o momento é um preço médio de R$99,55/@. 

Considerando um cenário pouco melhor, uma queda de apenas 2% de preço médio entre entressafra/safra levaria a arroba aos R$97,34 no balanço do primeiro semestre do ano.
  
Na pior situação, a arroba poderia chegar aos R$95,46 na média do primeiro semestre, o que justificaria o contrato de maio estar cotado no patamar em que está – que é de R$93,00/@. 

Mas é importante lembrar que se isso acontecesse, seria o equivalente ao pior cenário possível, típico de anos de fase de baixa do ciclo. 

Uma situação intermediária levaria a arroba a ter sua cotação média nos R$96,60. Pra mim, é o que faz mais sentido por enquanto. 

Mas tenho algo mais a considerar. Observe: 

Clique aqui para ampliar!

Na última tabela traçamos três possibilidades dentro dos três cenários que a safra desenhou pra gente. Temos várias possibilidades, fica até meio vago analisar assim. Mas acredito que o que a entressafra tem para nos dar está localizado ali, onde fiz um círculo. Ou algo em torno disso. Explicarei por que me parece ser a escolha mais sensata. 

Acho que pelos dados que temos de abate, tempo de retenção de fêmeas, oferta de machos entre 24/36 meses e margem do produtor, fica claro que já não dá pra descartar que a fase de baixa deste ciclo pecuário está próxima. É claro que podemos ter uma fase de estabilidade ainda, mas vários dados que tenho colocado nesta coluna ao longo das semanas nos indicam que a oferta de animais adultos é maior hoje. Não vou me alongar nessa análise hoje, já  falamos dela há poucas semanas. Aliás, tem sido uma constante. 

Mas outra coisa que devemos considerar. O começo das fases de baixa também é moderado, 
historicamente. Não ocorre abruptamente nem com força total, quando comparado aos anos 
intermediários dessa fase do ciclo. Acredito também que por isso temos uma fase intermediária, de acomodação, dentro dos ciclos. Portanto, prefiro acreditar na sazonalidade e também que mesmo que essa fase esteja começando, ela não mostrará toda a sua força ainda. Não agora. 

Então, por enquanto é isso. Um abraço a todos e até a semana que vem! 
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Fonte:
Lygia Pimentel

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1 comentário

  • Márcio Silva Maluf Porto Velho - RO

    Cumprimento a autora pelo esclarecedor artigo, más faço uma séria ressalva quanto à orientação do possível início do ciclo de baixa do boi, vislumbrado num horizonte perto. Não temos hoje, no Brasil, em nenhum estado, horizontalização de pastagens. Desde 2008 o rebanho nacional está nos mesmos números, prova inconteste de estabilização do rebanho. A verticalização de pastagens, com a arroba nos preços atuais é praticamente impossível. Não vou citar números para não tornar esse comentário técnico, más há mais de 60 dias as fêmeas vem ¨segurando¨ o preço do boi, e por que? Não que o pecuarista esteja apertado ou as pastagens cansadas. É que não há lugar para colocá-las, simples assim. Os produtores nacionais e norte americanos de soja anunciaram os menores estoques mundiais do produto neste 2012 e também o elegeram ö ano da soja¨ em rentabilidade do grão. Adivinha o que vai acontecer: vão, literalmente, voar em cima de áreas de pastagens, junto com os 120 novos usineiros anunciados pela Única até 2015. De passagem, usina funciona com cana. Tivemos em fevereiro a maior queda em volume de exportação de carne (não em valor), tendência que deve ser seguida em março. Acredito que, nesse cenário, precisamos ampliar a análise das tendências de mercado do boi gordo para informações de toda a cadeia produtiva agropecuária e não somente em cima de dados particulares, que, ao meu ver, podem levar a resultados inesperados, apesar de tão bem elucidados pela autora. Bom trabalho! Márcio

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