Cenário positivo para a soja em 2012, por Glauber Silveira

Enquanto o Brasil pulava o Carnaval, nos EUA acontecia um dos eventos mais importantes do agronegócio mundial: O Agricultural Outlook Fórum 2012, promovido pelo USDA (Departamento de Agricultura Americano). Evento este que reúne especialistas do mundo todo para tratar dos cenários e perspectivas da agricultura mundial.Claro que o Brasil não poderia estar de fora, portanto, tivemos lá nossos representantes.

A palestra proferida por Ed. Allen, economista do USDA, mostrou um cenário geral para as principais culturas mundiais, como soja, milho, trigo e algodão. É com base na sua apresentação e nas discussões que tive com outros economistas que lá estiveram que vou expor o que se segue.

  

Estamos em um momento importante, onde estamos colhendo a safra da América do Sul e se iniciam as projeções para o plantio da safra norte-americana. Se observarmos as médias dos preços agrícolas e os fundamentos de oferta e demanda, podemos observar que o preço do trigo tem sido apoiado pelo preço do milho, o preço do milho tem apoiado o preço da soja também durante 2011/12. Sendo assim, com os atuais patamares do preço do milho, o plantio do grão é favorecido para a maioria dos produtores norte-americanos.

O fato dos EUA aumentarem sua área de milho, manterem a área de soja, ou reduzirem mesmo que seja pouco, faz com que o mercado para a soja tenha perspectivas positivas, uma vez que os EUA é o maior produtor mundial destas commodities. 

Mas não é só o fundamento acima que influenciará o preço da soja, a atual perspectiva de queda na produção daAmérica do Sul e a demanda da China favorecem os preços futuros das commodities. 

O milho torna-se mais importante a cada ano, influenciando o preço das principais commodities agrícolas. Enquanto a produção global de milho e uso são projetados praticamente equilibrados, ou seja, oferta e demanda equilibradas, isto favorece o aumento no preço do milho.

Os Estados Unidos é o maior produtor mundial de milho, consumidor e exportador. Assim, os preços mundiais são largamente determinados no mercado dos EUA. A Produtividade do milho tem ficado abaixo da tendência projetada nos últimos dois anos, isto influenciado principalmente pelo clima.

A Argentina, o segundo exportador mundial de milho, aumentou sua área nos últimos dois anos, mas o rendimento tem ficado abaixo da tendência, o que colocou sua produção em declínio.

O que começa a chamar atenção dos analistas é o fato da Ucrânia ter aumentado muito sua área de milho. Em cinco anos, dobrou sua produção saindo de 10 para 20 milhões de toneladas. A Rússia também tem aumentado muito sua produção. A expectativa é que em breve esses dois países passem a Argentina, tornando-se o segundo exportador mundial do cereal. Podemos ver que teremos competidores com potencial de área muito em breve.

A Ucrânia e a Rússia foram os grandes abastecedores do crescimento da demanda de milho mundial, assim como o Brasil tem sido para a soja. Esses países tem um solo muito fértil com uma camada de dois metros de fertilidade natural, mas as restrições ao seu crescimento são duas: a primeira delas é o clima, pois há um curto espaço de tempo para cultivo; o segundo fator restritivo é político, pois os países estão em um processo de transição de comunismo para o capitalismo, e isso restringe os produtores de garantias para a busca de financiamentos agrícolas.

O questionamento de muitos é: qual o rendimentoesperado para o milho em 2012? Obtentores de sementes dizem que com tecnologias avançadas o crescimento do rendimento futuro será superior a taxas históricas. Outros, olhando para os últimos dois anos e preocupados com a mudança climática, acham que o crescimento futuro será mais lento do que as tendências passadas.  O USDA fica com a tendência histórica.

A produtividade e a produção do milho mundial são fundamentais no comportamento do preço da soja, logo que uma produção muito elevada destas commodities pode puxar o preço da soja para patamares baixistas. Para nossa sorte, os fundamentos do milho não são tão positivos para altas produtividades no curto prazo, mas não deixa de ser uma preocupação.

As importações de soja pela China estãoprojetadas para exceder em 60% do comércio mundial em 2011/12. As importações chinesas de milho são muito menores, mas ainda assim, fazem a China ser projetada o sexto maior importador mundial de milho, correspondente a importaçãoUE.

A mudança na China, em alimentar sua criação de suínos com ração balanceada, alterou todo o mercado de milho e soja mundial, uma vez que eles produzem metade dos suínos do mundo, e consomem tudo. Como a China passou a ser muito importante para a manutenção do preço do milho e da soja, todos os olhos se voltam a eles, principalmente por ser um mercado ainda incerto, já que existe uma desconexão entre a produção de carne e uso de ração aparente de milho e farelo de soja. Isto gera incerteza sobre projeções futuras de continuo crescimento de importação de milho e soja.

Apesar das incertezas chinesas, tem um fator muito importante a ser observado, que é o preço interno do milho na China. O preço pago pelos importadores chineses no milho é abaixo do preço pago internamente, e isto tem favorecido a importação. Sendo assim, se o preço internacional do milho se mantiver nos patamares atuais ou levemente abaixo, isto pode influenciar uma maior importação de milho pela China, o que é muito positivo.

Lavouras de soja no Sul do Brasil e Argentina foram prejudicadas. Seca e altas temperaturas, precipitação abaixo do normal,  associados  ao La Niña no Pacífico, frustraram o crescimento esperado pelo mercado. A menor produção esperada na América do Sul durante 2012 deve resultar em uma menor concorrência para as exportações de soja dos EUA, limitando a queda de preços para a soja naquele país.

Como podemos ver, temos um cenário favorável para a produção de soja brasileira em 2012/13. Os produtores podem esperar preços positivos, já que os fundamentos para um preço estável da soja são maiores que para redução de preço. Mas gosto sempre de lembrar, o exposto acima são fundamentos, fundamentos mudam muito rapidamente, sendo assim seguro morreu de velho, precisamos estar atentos ao mercado e aproveitar os melhores momentos.