CRISE DE ALIMENTOS EM 2012???, por Pedro Dejneka

Publicado em 20/07/2012 19:04 e atualizado em 20/07/2012 21:35
Vamos começar hoje com um pequeno exercício:

1.       Entre no www.google.com
2.       Coloque “Crise de Alimentos” no campo de busca
3.       Quando os resultados aparecerem, no lado esquerdo da página, limite a busca para resultados apenas durante a última semana...
a.       Vejam a quantidade de resultados que aparecem falando sobre  A PRÓXIMA GRANDE CRISE DE ALIMENTOS MUNDIAL desde a CRISE DE ALIMENTOS DE 2008.

Quem acompanha meus comentários, palestras e entrevistas, sabe muito bem que eu venho já á alguns meses alertando sobre a dramática situação de estoques de soja para 2012/2013.
Eu já falava sobre isso antes até de saber que o período de Julho 2011 á Junho 2012 viría ser o mais quente em 117 anos aqui nos EUA, de acordo com a agência de metereologia do governo Americano, NOAA (e pelo que tudo indica, Julho 2012 não será exceção...)
 
https://www.ncdc.noaa.gov/sotc/service/national/Nationaltrank/201107-201206.gif">
 
Imaginem então agora, com perdas estimadas em até 20% para a Soja e 25% para o Milho aqui nos EUA.
Nos últimos comentários já exploramos em detalhes o enorme impacto desta tendência de clima na atual safra Americana.
(Quem ainda não leu, acha link para os comentários na nova página do Facebook da PHDerivativos www.facebook.com/PHDerivativos ).
 
Hoje eu quero focar a conversa em torno do pequeno exercício que fizemos logo acima.
 
A CRISE DE ALIMENTOS DE 2012
 
Ou – para ser mais exato... A NÃO EXISTENTE CRISE DE ALIMENTOS DE 2012!
 
“O que Pedrão?? Ficou louco? Está todo mundo falando sobre a crise que a seca dos EUA trará nos preços de alimentos este ano e ano que vem? Como você pode estar falando que não teremos crise? Além de careca ficou louco agora???”
 
Oooopa... rsrsrs... vamos com calma... vocês que me acompanham sabem melhor que ninguém que eu me preocupo em falar e escrever o que eu entendo ser a realidade – simples, pura e irreverente. 
Não me preocupo se a maioria concorda ou não com o que digo; procuro “desafiar o pensamento”, “quebrar estigmas”, enfim... vocês sabem muito bem...
 
Assim sendo, peço que acompanhem meu raciocínio por favor...
Não peço que concordem ou discordem, apenas peço que leiam e levem os fatos abaixo em consideração, pois na minha opinião, a conversa sobre um nova Crise Alimentar Mundial está um tanto prematura...
 
Muito do que é escrito e falado hoje sobre uma nova Crise de Alimentos, usa a Crise Alimentar de 2008 como padrão de comparações.
O fato dos preços de Soja e Milho terem ultrapassado as altas históricas (cravadas durante a crise de 2008) aqui em Chicago no CBOT e em portos aí na América do Sul este mês, traz o assunto cada vez mais á tona.
 
VAMOS ENTÃO AOS FATOS:
 
2008
•         Em 2008,  após 6 anos de seca nas áreas produtoras do cereal na Austrália, os estoques de ARROZ, que É RESPONSÁVEL POR 20% DE TODAS AS CALORIAS INGERIDAS POR SERES HUMANOS AO REDOR DO PLANETA, chegaram á níveis baixíssimos, levando o preço da commodity á subir 100% de meados de 2007 á Abril de 2008.  Ao redor do mundo, inclusive nos EUA, empresas racionavam suas vendas do cereal e governos ao redor do mundo cessavam suas exportações do cereal na tentativa de conter preços domésticos do alimento.
•         Em meados de 2008, não só os preços de commodities agrícolas chegavam á preços recordes, mas o preço do barril de Petróleo atingia preço recorde de $147 dólares!
o   O Petróleo está diretamente relacionado ao preço de alimentos e fertilizantes, etc... não se produz e distribui alimentos em massa hoje em dia sem a presença maciça de energia, o Petróleo sendo a maior fonte desta...
 
•         Em início de 2008, a INFLAÇÃO preocupava políticos e economistas ao redor do mundo, pois a economia mundial ainda flutuava na “bolha de prosperidade econômica” criada principalmente por uma política de taxas de juros artificialmente baixas no início dos anos 2000, incentivos á economia e a ilusão de que o mercado imobiliário nos EUA e alguns outros países subiría para sempre (hmmmm... estranhamente parecido com o que acontece atualmente em um certo país muito próximo á mim aí na América do Sul no momento...)
 
•         Toda uma combinação dos fatores acima, assim como anos de aumento no uso de alimentos para produção de combustíveis, o rápido aumento de poder econômico de classes médias no mundo emergente (China, Brasil, Índia, Rússia, etc...), e algums outros fatores, foram o ESTOPIM para a Crise de Alimentos de 2008.
 
2012
•         Hoje, o preço do Arroz é quase metade do que era em Abril de 2008!
o   Os estoques mundias estão plenos para o cereal, que reforço, é a maior fonte de calorias utilizadas por humanos...
•         O preço do Petróleo hoje, é praticamente 40% mais barato do que era em meados de 2008
•         A atual crise econômica mundial afeta a demanda de vários produtos e serviços de maneira negativa no momento (contrário do que ocorria em 2007 e 2008 no pré-crise).
o   A demanda por alimentos como Milho e Soja continua crescendo, mas ao mesmo tempo a oferta também tem aumentado
 
A maior causa da atual alta de preços são os contínuos choques de produção de Soja e Milho. 
Choques estes que iniciaram-se ano passado nos EUA, continuou com a quebra de produção na América do Sul e agora continua aqui nos EUA...
Muito se fala sobre o efeito desta alta nas prateleiras dos supermercados.
 
Mas vamos devagar... lembremos alguns pontos IMPORTANTÍSSIMOS sobre a cadeia mundial de alimentos:
 
1.       O preço da commodity agrícola originada na fazenda é responsável por apenas 10% á 15% do custo final do produto derivado nos supermercados!
a.       Perceba na figura abaixo que ítems como processamento, embalagem, marketing, energia, etc... são responsáveis pelos outros 80 á 85% do custo final...
2.       Empresas do setor de produção de alimentos entendem (ou se não entendem, DEVEM e ESPERO que entendam) que não podem repassar TODO o aumento de preço de matéria básica para o consumidor final NA ATUAL SITUAÇÃO ECONÔMICA QUE VIVEMOS.
a.       A situação atual é sazonal (esperamos todos), e uma possível excelente safra na América do Sul este ano seguinte deve levar os preços e margens á patamares mais “amigáveis” á indústria.
                                                               i.      Ou seja, a fórmula para a indústria é:
1.       AUMENTO DE CUSTOS DE MATÉRIA PRIMA
2.       NÃO REPASSAR TODO O AUMENTO AO CONSUMIDOR, ACEITAR MENORES MARGENS DE LUCRO OU ATÉ PREJUÍZOS TEMPORÁRIOS
3.       ASSIM NÃO “ALIENANDO” O CONSUMIDOR FINAL E ARRISCANDO PERDER O CONSUMIDOR FIEL Á OUTRAS MARCAS OU ATÉ MARCAS GENÉRICAS.
 
Tudo isto que descrevo é explicado pela simples lei de OFERTA X DEMANDA. 
Se o preço subir demais, os demandantes procurarão outras opções de consumo OU consumirão menos de um certo produto ou serviço.
Existe um ponto de equilíbrio que deve ser seguido... e este ponto de equilíbrio é muito mais baixo hoje em dia (com economias e consumidores frágeis) do que era em 2008 pré-crise.
 
Empresas devem entender que re-conquistar um consumidor perdido por uma falta de equilíbrio na formulação de preços SAI MUITO MAIS CARO que ajustar suas estratégias e expectativas de lucros para estarem preparadas para lidar com eventos imprevisíveis mas comuns como quebras de produção devido á situações climáticas.
 
Por fim, apenas quero dizer com tudo isto que a idéia de uma CRISE DE ALIMENTOS no momento é PREMATURA.
 
Sim, veremos um certo aumento de preços, mas estes, serão uma fração do que a alta nos preços de commodities dão a impressão que possam ser.
Temos estoques amplos de outras commodities essenciais como o Arroz por exemplo, que pode “aguentar” um possível aumento de demanda sem maiores sequelas ao consumidor.
Empresas que tem capital de fluxo suficiente para aguentar, aguentarão o “tranco” das altas recentes, mesmo com menores margens, sabendo que é um efeito sazonal e não irão “alienar ou excluir” seu fiel consumidor.
 
Não é hora de pânico...
Vocês sabem o que penso sobre os preços de Soja e Milho... que ainda não vimos nada e que podem aumentar  muito mais...
Mas a correlação entre essas altas de preços e preços de produtos finais no supermercado não é tão simples e exata como muitos fazem pensar...
Podemos ter preços mais altos sim nas prateleiras, mas nem perto de serem o suficiente para chamarmos a situação atual de uma CRISE DE ALIMENTOS!
 
Agora... ... se a América do Sul sofrer mais uma quebra de produção nesta próxima safra... .... ... a conversa pode muito bem mudar...
NUNCA O MUNDO DEPENDEU TANTO DO PRODUTOR DA AMÉRICA DO SUL... NUNCA!
 
Continuemos juntos na busca da realidade pura, simples e objetiva! 
Até a próxima e um excelente final de semana á todo
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Fonte:
Pedro Dejneka

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6 comentários

  • Vilson Ambrozi Chapadinha - MA

    Apesar de não estar lembrado de ter ouvido ou lido, matéria ou entrevista do Sr Pedro nos alertando sobre o extraordinário calor que se abateria sobre os USA, concordo com o Sr, que isto não configurará uma crise de alimentos.Tem muita gordura prá queimar antes disso.Porém uma mudança em hábitos de consumo poderemos ver,por exemplo: Comer fora à 40,00 o quilo, deixar comida no prato, só querer o corte especial, tipo cota HILTON, etc. Agora, quanto a soja, ou milho, mesmo que dobrem de preço, no computo final, dos gastos mensais, nada que um tanque de gasolina de uma moto, a menos por mês ,não resolva. E é isto que nos agricultores, estávamos esperando ha décadas, nossos produtos VALORIZADOS. Obrigado senhor, pelas diversas secas deste ano.Isso fará com que nos respeitem mais, eu mesmo perdi 25 000 sacas de soja com seca deste ano.

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  • Bertholdo Fernando Ullmann Patos de Minas - MG

    Belo raciocinio Pedro. Temos que lembrar, que o mundo, apesar de estar com as economias fracas, os juros na maior parte estão baixos e ou negativos, o que pode gerar inflação. Quando o mundo tem o medo da inflação, os fundos vão para onde? Commodities.

    Mais um ponto em relação aos preços das commodities: o que a maioria das pessoas não entendem, são que elas, as commodities, tem inflação. Quando a soja estava 12 o bushel e a turma vem dizer que está o dobro do preço histórico, eles não levam em consideração a inflação. A dez anos atras, nós produtores conseguia ter renda com soja a 6 o bushel. Hoje, o custo para produzir uma saca de soja gira em torno de US$ 8,00 por bushel, ou seja, bem acima do preço "HISTÓRICO".

    Pessoal, vamos aproveitar esses preços, pois uma safra cheia aqui na America do Sul, somada a uma safra cheia no EUA, os preços vão cair a preço de custo.

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  • Vilson Ambrozi Chapadinha - MA

    Apezar de não estar lembrado de ter ouvido ou lido,matéria ou entrevista do sr Pedro nos alertando sobre o estraordinário calor que se abateria sobre os USA,concordo com o sr.que isto não configurará uma crise de alimentos.Tem muita gordura pra queimar antes disso.Porém uma mudança em habitos de consumo poderemos ver.ex.comer fora à 40,00 o kilo.deixar comida no prato,so querer o corte especial,tipo cota HILTON ,etc.Agora quanto a soja mesmo que dobre de preço,ou milho,no computo final, nos gastos mensais nada que um tanque de gasolina ,de uma moto, a menos por mes não resolva.e é isto que nos agricultores estavamos esprtando a decadas,nossos produtos VALORIZADOS.Obrigado senhor,pelas diversas secas deste ano.Isso fará com que nos respeitem mais,eu mesmo perdi 25 000 sacas de soja com seca este ano.

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  • Ivan Soder Nueva Esperanza - PR

    Super Interessante Sr. Pedro!

    E tem mais um detalhe! enquanto se fala tanto em Crise de Alimentos, existem produtores de Laranja, por citar um exemplo, que estão deixando a safra literalmente apodrecendo por falta de... (mercado?)!

    Eita mundo velho! rsrs

    ótimo final de semana!

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  • Carlos Alberto Erhart Sulina - PR

    Agora é só plantarmos 20% das nossas lavouras em mato e teremos bons preços por muito tempo, assim os ambientalistas estarão satisfeitos e nós tbm, e muitos passarão fome.

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