Sem sustentabilidade econômica não existe sustentabilidade ambiental

Publicado em 31/07/2012 18:21 e atualizado em 31/07/2012 19:07
Por Marcos Fava Neves, professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat.
Terminou um dos grandes encontros de organizações mundiais, a conferência Rio + 20, com representantes de diversos países, chefes de Estado, organizações não governamentais e empresas, discutindo as questões de sustentabilidade.

No geral ficam os parabéns ao Brasil e particularmente ao Rio de Janeiro, pois o evento funcionou e transcorreu sem grandes sobressaltos, tirando uns poucos problemas até normais considerando o volume de culturas, de grupos exóticos e as diferenças de interesses existentes entres todos.

Notou-se avanços interessantes, principalmente porque foram plantadas iniciativas por organizações privadas, públicas, cidades, Estados e Países, que trarão frutos. Estas iniciativas se materializaram através de muitos convênios, parcerias, memorandos. Também pessoas se conheceram e estabeleceram redes de contatos, que resultarão em muitas ações visando o crescimento da discussão em sustentabilidade.

Apesar do documento final ter decepcionado alguns por não conter metas quantitativas e alocações orçamentárias, vale ressaltar que sua própria existência mostra um consenso e que realmente existe a preocupação na sociedade em caminharmos para um modo mais sustentável de vida e de produção. Elaborar um documento com tantos povos e interesses é um grande desafio, houve sim êxito.

Para dizer qual a mensagem principal tirada da conferência, é preciso resgatar um conceito. A sustentabilidade vem sendo tratada num tripé que envolve os três P’s, na língua inglesa. São as palavras profit (lucro) que é a dimensão econômica, a palavra people (pessoas), representando a dimensão da inclusão, principalmente, e a palavra planet (planeta), representando a preservação ambiental. Recentemente foi adicionada proactiveness (proatividade) como uma quarta dimensão, para se ter mais dinamismo, ações e menos discurso.

A Rio + 20 deixa uma mensagem de racionalidade muito importante. Se os países, ou as organizações privadas e públicas, não acertarem o pilar da economia, que é o gerador de renda, os outros pilares, ambiental e de pessoas, que são mais de perfil distribuidor da renda gerada, não acontecerão na magnitude desejada. Ou seja, sem o pilar econômico, os outros caem por terra.

No caso do Brasil, tem-se um evidente contraste nas mensagens recebidas.  Numa direção, importantes organizações internacionais dão claros sinais para que o país produza muito mais alimentos e biocombustíveis visando saciar a demanda crescente vinda da Ásia, África, Oriente Médio, entre outros locais, abrindo uma grande oportunidade de negócios e de desenvolvimento ao Brasil.

Em outra direção, organizações internacionais vindas principalmente de lugares que já usaram seus recursos para promover elevado grau de desenvolvimento, desejam que o Brasil seja o grande pilar ambiental do planeta, uma imensa floresta, deixando de usar seus recursos para expandir a produção e promover o necessário desenvolvimento social. Se esta segunda parte prevalecer, e for a economia lá e o ambiente aqui, é preciso ter uma grande compensação financeira.

A mensagem é que é necessário ser mais racional e menos emotivo e influenciável em questões que coloquem limitações ao crescimento sustentável brasileiro, como as grandes restrições ambientais vindas do código florestal, as solicitações de demarcações de vastas extensões de terras para minorias, as restrições trabalhistas que se avolumam e outros tipos de restrições colocadas diariamente para quem produz.

Sem racionalidade e levado pela emoção das influências vindas de fora e também de arcaicos grupos internos que pregam o não desenvolvimento, a obsolescência, e consequentemente a perpetuação da miséria, o Brasil corre o risco de não gerar a renda adicional necessária e para promover a distribuição de renda, inclusão e desenvolvimento social e ambiental.

Não ser racional é a principal ameaça ao desenvolvimento e expansão do agro e da produção sustentável de alimentos e bioenergia, o grande gerador da renda do Brasil, provavelmente o único negócio onde temos ampla capacidade de crescimento e inserção mundial.
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Fonte:
Marcos Fava Neves

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6 comentários

  • Romão Miranda Vidal Palmas - TO

    Existe um ditado popular" DEUS,criou o planeta Terra uma vez e não pretende criar mais outro" E então pergunto. Por quantos séculos os países como China, Japão, Vietnãn.Coréia do Sul e do Norte,além de todos os países europeus, estão há cultivar seus solos? Qual o grau de exaustão em que se encontram? Os solos japoneses,não cheiram - fedem - de tanta matéria orgânica.Os solos europeus estão praticamente estéreis.Veja o caso da Alemanha, na Floresta Negra, que um dia cogitou em importar humus do Brasil.Oes EEUU estão caminhando para o mesmo destino.Destruirão toda a Biodiversidade.Milhares de búfalos foram mortos.Milhares de acres de florestas idem. O que restou? África? Quem sabe daqui uns 300 anos. No momento o "player" é chamado de Brasil.E em se tratando do Brasil o último grande "bang" é o Estado do Tocantins.Se o aumento de áreas para Matas Ciliares, prejudica os agropecuaristas, e eu creio que sim, há de se buscar uma fórmula sustentável economicamente.Não seria o caso de replantar nativas de valor econômico? Hoje no Paraná há um déficit madeireiro,que só poderá ser atendido dentro de 25 anos.Se a indústria moveleira parar no tempo, só daqui um quarto de século terá a sua demanda atendida. A Europa tem no momento 27 milhões de hectares que estão sendo estudados para uma possível re-adaptção para a agropecuária.Nós brasileiros, repito temos 140 milhões de has., que apresentam condições de produzir:arroz,feijão,milho,sorgo,milheto,soja,aveia,centeio,cevada, cambre,colza,girassol,trigo comum e trigo sarraceno, sem contar plantas para bio-energia. É o momento de usar o que temos falado: SEGURANÇA ALIMENTAR, não só no sentido fito-sanitário,mas como IMPOSIÇÃO de condições econômicas e financeiras. Países como a Malásia, Cingapura, Coréia do Sul, Japão,China, produzem "chips eletrônicos" e todos os produtos de informática. Pergunto.Quem come chips, IAPOD e etc? Se nos orientarmos dentro das Ciências Agrárias, para a produção em 140 milhões de has. degradados, devidamente recuperados e obtivermos uma simples produção de 30 sacas por hectare de soja,imagine o que aconteceria com o Brasil.Todas as Cadeias Produtivas que dependem desta oleaginosa. Agora aplique em um "mix" de culturas e veremos que não se fará necessário abrir nenhum hectare a mais. É só manter o que temos e agregar aos que já existem. E a pecuária de corte como fica? É questão de planejamento. Nossos respeitos. Médico Veterinário Romão Miranda Vidal.

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  • CARLOS ANTONIO ANATRIELLO Pirangi - SP

    Concordo que o Brasil tem muito o que fazer sobre as áreas degradadas. Será que ninguém percebe que qualquer ação que "melhore mais ainda" a nossa capacidade de aumentar a produção por há atinge diretamente a agricultura de outros países. Temos sim muitas culturas tecnificadas, plantio direto e muito exemplo de sustentabilidade que pode deixar muita gente preocupada lá fora. Tirar terras produtivas e trocar por matas para diminuir nossa capacidade e tudo o que eles querem. Todos concordamos que mata ciliar deve existir para a preservação das águas e conservação de lagos, rios e nascentes; mas construir uma reserva legal que é complicada de se fazer em termos de imitar a biodiversidade como era antes, tirando terras, onerando o produtor num país riquíssimo em matas, isso é uma piada. Infelizmente uma piada contada por alguns meios de comunicação, escolas, ONGs, ambientalistas, parlamentares ignorantes, algumas já furadas hipóteses cientificas, etc como sendo o Brasil o ultimo recurso de Salvar um Planeta mal preservado por todos. Para isso fizeram dos produtores "BRASILEIROS" os maiores bandidos da humanidade, que para não serem condenados tem que pagar uma alta fiança. O maior problema esta para os de 4,1 módulos até 5, esses vão pagar mais que todos podendo inviabilizar sua propriedade e muitos ainda não se deram conta disso. Não quero dizer que não concordo com a lei tanto antiga como atual no que se diz em respeitar e preservar as Matas que hoje existem. Quem descumprir esses termos tem sim que ser punidos ao rigor da lei.

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  • Romão Miranda Vidal Palmas - TO

    Na realidade quem promoveu os maiores desastres ambientais e exauriu suas reservas telúricas, hoje passa a exigir de outros que não pratiquem ações nefastas de cunho ambiental por eles praticadas. Mas...nós estamos caminhando a passos largos para imitá-los. Hoje são 140.000.000,00 de hectares de areas e pastagens degradadas.Hoje o Programa Agricultura Baixo Carbono -ABC- aliado a Integração Lavoura Pecuária,o Brasil pode e deve partir para a implantação de uma política Agro-Silvo-Pastoril, exingdo sim, a contra-partida internacional, não só em termos financeiros compensatórios,mas em outros, como liberação de barreiras alfandegárias, fiscais, protecionistas, subsídiárias e de mercado. Ai sim a Sustentabilidade e a Economia,quem sabe, repito quem sabe possam andar de mão dadas. Atenciosamente Médico Veterinário Romão Miranda Vidal

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  • josé Hermano machado são paulo - SP

    Concordo com sua análise.No entanto, os países desenvolvidos, que planejam seus passos 30, 40, 50 anos antes de sua realização, sabem que irá faltar espaço para plantar e criar, para alimentar suas futuras populações.Investem discretamente em organizações, que lutam, a peso de ouro, por tornar nosso país uma grande floresta, criando na realidade, reservas de terras para o futuro deles.

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  • CARLOS ANTONIO ANATRIELLO Pirangi - SP

    Numa breve conversa que tive com a advogada Samanta Pineda, parece que vai ser impossível os parlamentares reverter o quadro em que os produtores acima de 4 módulos fiscais estão obrigados a fazer a RESERVA LEGAL em 20% da propriedade, mesmo os de 4,1 em diante. Salvo alguns casos em que os proprietários conseguirem provas em que sua propriedade já não tinha mais essa reserva quando essa lei foi instituída. Sugiro uma matéria em que se trate melhor desse assunto para que se saiba se ainda há tempo ou não dos deputados reverterem isso. Qual seria a melhor forma de buscarmos a situação que eram nossas propriedades antes dessa data para informarmos o CAR quando ele for criado. A matéria é excelente, mas pelo visto nós ainda iremos pagar o pato com perca de nossas terras e de muita produtividade necessária para o futuro, para nossa lucratividade e para o desenvolvimento do Brasil como trata a matéria acima.

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  • Decio Barbosa Freire Belo Horizonte - MG

    Professor Marcos:

    Excelente artigo.È isto mesmo que acontece.Graças a estas ongs já perdemos por exemplo nossa soberania sobre a Amazonia.Se em caso de necessidade nacional, precisarmos explora-la economicamente, não tenho a menor dúvida que seremos impedidos.Com repeito Decio Flavio Barbosa Freire

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