Santa Maria e os corredores vazios da UFSM
Santa Maria está situada na Campanha do Rio Grande do Sul, caracterizando-se por ser entroncamento rodo-ferroviário, centro militar e por abrigar a obra impressionante de um homem, Mariano da Rocha Filho, que sonhou e implantou a Universidade Federal, do nada, num campo desabitado.Planejada, modelar, mesmo hoje é motivo de elogios pela sua arquitetura funcional e distribuição espacial. Teve preocupação de dotar a universidade, tanto no campus como na cidade, com casas de estudantes, refeitórios e centros de lazer, com uma concepção clara de que ela abrigaria jovens vindos de todos os quadrantes e de todo o espectro social. Seu sonho foi o de qualificar pessoas interiorizando o conhecimento, longe dos grandes centros, que era a tônica até então.
Afinal, foi a Campanha rio-grandense palco de tantas lutas épicas pela delimitação dos limites do território brasileiro, bem como berço de personagens como Getúlio Vargas, Batista Luzardo, Assis Brasil, Raul Pilla entre outros, que apontavam com seu ideário forjado em batalhas campais, novos rumos para a vida nacional. São esses os contornos da universidade, que teve alunos seus estupidamente mortos em uma comemoração. Sim, sou egresso de lá e minha memória é povoada de ecos e personagens como os professores Mario Bastos Lagos, Elocy Minussi, dos embates políticos no Diretório Acadêmico Orlando Nobre e, no DCE local em que foram defendidos os sonhos daquela época tantas vezes pela voz de Cezar Schirmer, atual prefeito de Santa Maria, que apequenou a sua biografia, com a tragédia das 239 mortes. Seu comportamento patético frente às TVs de nada lembrou o orador eloqüente que verbalizava o ideário de lutas daqueles anos vividos tão intensamente. Retomo claramente, que os valores da época são atuais também, mas sem aquele brilho e importância, banalizados pela fugacidade estampada no modo de vida atual.
Os corredores do Centro de Ciências Rurais, da Universidade Federal de Santa Maria estão mais vazios nesse reinício de aulas. Morreram 26 estudantes de Agronomia, 16 de Tecnologia de Alimentos, 15 de Veterinária, 5 de Zootecnia, 2 da Engenharia Florestal e 1 mestrando de Agronomia. Foram 65 futuros profissionais que tiveram suas vidas e sonhos cortados abruptamente, pela irresponsabilidade dos gestores públicos, que em crises como essa se fazem de avestruz. São tempos tão diferentes não só o dessa tragédia, como o da renúncia do Papa Bento XVl, que a ambos os fatos empresto frase de Mário Vargas Llosa como sendo: “um vislumbre inquietante de quão incompatível nossa época seja com tudo o que representa a vida espiritual, preocupação pelos valores éticos e vocação pela cultura e pelas idéias.” São tempos sombrios esses em que os mortos estão enterrados e os responsáveis soltos se valendo da elasticidade legal existente e contando com o tempo para relativizar o ocorrido. Dos 239 mortos, tão jovens, foram roubados 12.412 anos de vida.
Rui Alberto Wolfart
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