Uma ponte longe demais, por Rogério Arioli

Publicado em 03/05/2013 11:20
Por Rogério Arioli Silva, engenheiro agrônomo e produtor rural.
Quem hoje está nos arredores dos “cinquentinha” lembra que um dos principais passatempos dos jovens nos sábados à tarde eram as sessões de cinema.  Naquele tempo, geralmente os filmes vespertinos em cartaz eram três, sendo um do gênero western (“bang- bang”), uma comédia e um de guerra.  Filmes brasileiros eram proibidos para menores, pois era o auge da pornochanchada gênero que agredia mais pela péssima qualidade do que pela nudez propriamente dita.  O filme que empresta o título a este artigo foi muito marcante e até hoje é muito comentado por inúmeras razões.

Trata-se da história de um erro militar estratégico e, por isso catastrófico, ocorrido durante a segunda guerra mundial, onde os aliados tentaram dominar várias pontes através das linhas alemãs, que já dominavam grande parte da Europa.  A operação conhecida como “Market Garden” aconteceu em setembro de 1944 e causou mais baixas ao exército aliado do que o próprio desembarque na Normandia, o conhecido dia “D” (6 de junho de 1944) que marcou o início da capitulação do exército alemão. 

Talvez pelo efeito que um erro estratégico possa ter com seus desdobramentos muitas vezes irrecuperáveis, este filme me vem à cabeça sempre que percebo excesso de planejamento e falta de objetividade.  Transferir para questões atuais situações ocorridas no passado de forma alguma se traduz em saudosismo, muito pelo contrário, demonstram a lucidez e sabedoria de quem sabe aprender com erros alheios que, não raro, perdem-se na memória.  Através da realidade, colidimos com o futuro, conforme ensina o filósofo Ortega Y Gasset, porém a compreensão do passado fornece a amálgama do resultado presente.

Voltando ao referido filme, também composto de um elenco notável que talvez nunca mais tenha sido reunido na história do cinema moderno, o realismo oferecido é fantástico, e parece que o espectador também participa como ator naquele teatro bélico devastador.  Aliás, muitas vezes os coadjuvantes prestam colaboração tão valiosa quanto os atores principais, pois ao protagonismo secundário nem sempre a crítica consegue atingir, o que acaba facilitando o desempenho. 

A manifestação de governantes falando em planejamento de ações quando já são decorridos mais da metade de seus mandatos, provoca uma total descrença nas políticas públicas concebidas para promover o resgate da leprosa infraestrutura brasileira.  Papéis são rabiscados, discursos empreendidos, bravatas vomitadas, factoides disparados e, todavia, as ações continuam imersas no imbróglio burocrático em que o país se enredou.  Com a justificativa de melhorar as contas públicas subtrai-se a diminuta capacidade de investimento das empresas, levando-as a uma situação pré-falimentar que abre as portas à sonegação.

A sociedade foi escravizada.  Trabalha cada vez mais para perpetuar uma máquina perdulária, irresponsável, contaminada pela corrupção e pelo desvio que, pela sua ineficiência, promete o paraíso e direciona ao inferno.  De planos e projetos as gavetas transbordam.  Nem sequer fecham mais, pois abertas estão mais acessíveis a novas e inexequíveis propostas.  Enquanto se empreende uma caminhada como num passeio outonal, observando a paisagem, os concorrentes correm em busca de eficiência e competitividade.  O aparato ambientalista impede que as obras importantes para a infraestrutura nacional saiam do papel tornando-se realidade e, consequentemente, beneficiando toda a população. No centro das decisões estratégicas permite-se, de maneira leniente, uma ingerência nefasta de quem não tem compromisso com o desenvolvimento do país.

A visão revanchista e demagógica de sacrificar quem acumulou algum bem em detrimento de quem não o fez, embota as ações no sentido de proporcionar criação de novas riquezas para todos.  Toda vez que alguém sentir vergonha de ser bem sucedido de maneira honesta é porque algo está errado, pois, jamais a apologia do sucesso deve ceder lugar a do fracasso.

No filme descrito inicialmente o general alertou ao seu marechal de campo que talvez aquela ponte estivesse “longe demais” para o sucesso da operação.  Parece que, às vezes, a construção da infraestrutura necessária ao ganho de competitividade não será alcançada devido às dificuldades que o país impôs a si mesmo.  Assim como na guerra, a estratégia econômica não deve distanciar-se muito do objetivo final, sob pena de ambas perecerem.
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Rogério Arioli

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