O martírio do ouro verde chamado café
Estamos atravessando uma das piores crises da cafeicultura das últimas décadas, senão a pior. A cafeicultura sempre teve, e ainda tem, um peso econômico considerável para muitas regiões e para o Brasil como um todo. Sua derrocada fará com que outros setores da economia entrem em declínio, com um efeito devastador. Mas parece que as autoridades responsáveis não enxergam isso, quando deveriam.
Há tempos estamos vendo a situação da cafeicultura se deteriorando e o produtor já não sabe mais o que fazer ou a quem recorrer. Os mais prejudicados por esta situação são justamente aqueles que mais colaboram para a divulgação do bom nome do café brasileiro no mercado internacional, tido como um dos melhores do mundo. Para colher um café de qualidade, independente de onde ele é produzido, são necessários investimentos constantes em todo o ciclo produtivo. Quem investe, quem se preocupa com qualidade, está sendo severamente penalizado com os atuais preços. O que dizer, então, daqueles que tem a qualidade como única arma para competir no mercado, como os cafeicultores de montanha, cujos custos de produção são muito mais elevados.
Chegamos ao paradoxo de ficar tristes por termos uma boa safra. Porém, na situação atual, quanto mais café, maior o prejuízo.
Os cafeicultores não estão com o pires na mão, mendigando ajuda dos nossos governantes. Nós, cafeicultores, queremos apenas a mesma atenção e o mesmo respeito dispensado à outros setores econômicos. Ou será que já não somos mais importantes para este país que, se é o que é hoje, deve muito ao café, nosso ouro verde.
Políticas para o setor cafeeiro, quando existem, servem apenas para apagar incêndio, quando o estrago já foi feito. Vem em hora errada, com atraso, denotando uma clara falta de interesse, ou talvez competência, para lidar com o problema. E não estamos falando de um produtozinho qualquer. Estamos falando de um dos itens que mais contribuem para o PIB agrícola do pais, e um dos mais importantes da nossa balança comercial. Meios existem, basta vontade.
O auge da hipocrisia se dá quando, após todas as agruras passadas por quem produz, autoridades trombeteiam o resultado positivo da economia e das exportações brasileiras, como se deles dependesse este sucesso. Mal sabem que tal resultado é alcançado apesar deles.
O que pode ser feito não cabe a nós definir. Estamos numa situação desesperadora para a qual não contribuímos em nada para chegar a ela. Sempre fizemos, e continuamos a fazer, aquilo que se espera de um agricultor, ou seja, produzimos utilizando as melhores técnicas, para termos produtividade e qualidade; investimos na nossa atividade; geramos muitos empregos; pagamos impostos. Queremos apenas, ou melhor, exigimos, como contribuintes e cidadãos, que as autoridades constituídas desse país se dignem a olhar o campo, em especial a cafeicultura, com mais atenção e com mais respeito.
Nós, produtores rurais, temos sindicatos, cooperativas, câmaras, conselhos, comissões, federações, confederações, frentes parlamentares estaduais e federais, que existem para nos representar. No entanto, estamos todos mudos. Estamos morrendo calados. Nem no reino animal isso acontece. Qualquer bicho, frente ao perigo iminente, grita, esperneia, luta por sua sobrevivência. E nós, seres humanos conscientes e capazes, estamos morrendo sem esboçar nenhuma reação. Estamos aceitando passivamente tudo o que está acontecendo. Temos tantas organizações que são incapazes de organizar um mísero protesto que mostre a nossa situação.
Este é um desabafo de uma região de montanha indignada com a situação atual da nossa cafeicultura, e com a passividade reinante. É o desabafo de uma cooperativa que durante mais de 55 anos sempre lutou por seus produtores, mas que, sozinha, não tem forças para mudar o cenário atual.
Por isso, conclamamos à todos que comungam deste mesmo sentimento, a nos unirmos em uma corrente forte o suficiente para exigir que uma atitude seja tomada por aqueles que detém o poder para tanto. Esta é a opção que nos resta.
Atenciosamente,
LUIZ FERNANDO RIBEIRO ROBERTO MACHADO M.DE BARROS
Diretor Presidente Diretor de Café
4 comentários
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Gino Azzolini Neto Londrina - PR
Todos os eventos do ano deveriam marcar posição com cartas como esta, enviando a todos os membros do Congresso Nacional, Ministro da Fazenda e Agricultura, Federação da Agricultura e outros
Christina Ribeiro do Valle Guaranesia - MG
A situação da cafeicultura e a mesma em todas as regiões produtoras.Que Santa Rita ilumine o caminho desses guerreiros que estao lutando para que o café permaneça como atividade econômica.Produtores,esta na hora de todos se manifestarem.
Roberto Mesquita Piedade Junior Três Pontas - MG
A impressão que se tem é que algumas cooperativas esqueceram qual é o seu objetivo.Se tornaram grandes empresas que estão lucrando alto e tirando proveito da situação vivida pelos produtores.Mas não estamos mortos não,estamos desamparados por nossas cooperativas mas se não podemos contar com elas com certeza vamos nos organizar e lutar por nossos DIREITOS sem elas.Parabéns aos diretores da CooperRita por vestir a camisa pela causa de seus cooperados. É assim que se faz.......
Giovane Carvalho Gonçalves Botelhos - MG
parabens luiz fernado e roberto machado por esta carta!!resumiu o que milhares de cafeicultores estao sentindo nesse momento de crise!!