Melhoramento genético em propriedades leiteiras do Acre, por José Marques Carneiro Junior

Publicado em 29/09/2016 11:28
José Marques Carneiro Junior é Pesquisador da Embrapa Acre e Doutor em Melhoramento Genético

A pecuária leiteira é uma atividade de grande importância econômica para o estado do Acre, entretanto, ainda apresenta sérias dificuldades para seu desenvolvimento. O baixo nível tecnológico da maioria das propriedades, associado à utilização de animais de baixa aptidão leiteira, resulta em uma produção média diária de 3 a 5 kg de leite por vaca nos períodos chuvosos.

A Embrapa Acre vem desenvolvendo, adaptando e testando tecnologias de custo relativamente baixo, que podem contribuir para o aumento da produção leiteira e da renda e melhoria da qualidade de vida dos produtores rurais e no da sustentabilidade ambiental. Resultados recentes de pesquisa demonstram que o maior “gargalo” de produção de leite no estado está relacionado à utilização de vacas de baixa qualidade genética. O produtor acreano que deseja melhorar efetivamente a produção leiteira precisa investir em genética e na adoção de tecnologias simples e de baixo custo.

O melhoramento genético leiteiro consiste em um conjunto de técnicas utilizadas com o propósito de obter animais de maior qualidade genética para serem utilizados em sistemas de produção de leite. Duas ferramentas são comumente utilizadas: seleção e cruzamento. A seleção pode ser definida como a escolha das melhores vacas e touros a serem utilizados no processo reprodutivo. O cruzamento consiste no acasalamento de indivíduos de raças distintas com o propósito de utilizar o efeito de heterose, comumente conhecido como “choque de sangue”, e a complementariedade entre raças. A heterose representa a superioridade média dos filhos em relação à média dos pais e será maior quanto maior for a diferença genética entre as raças utilizadas.

A inseminação artificial representa a maneira mais simples e eficaz de realizar o melhoramento genético na propriedade. Por meio desta tecnologia pode-se ter acesso a animais de alto mérito genético, utilizando sêmen de touros testados e aprovados para a produção de leite. As raças comumente utilizadas nos cruzamentos podem ser divididas em dois grupos principais: Raças Europeias, como Holandesa, Jersey e Pardo Suíça, e Raças Indianas ou zebuínas, como Gir e Guzerá. As raças européias foram selecionadas em países de clima frio e são caracterizadas pela alta produção, enquanto as zebuínas são raças rústicas provenientes de regiões de clima quente e, apesar de apresentar menor produção de leite, são mais resistentes a carrapatos e verminoses.

A utilização da vaca holandesa pura não é recomendada para regiões de clima quente, como é o caso do Acre. Apesar de ser uma raça de alta produção de leite, apresenta grande desconforto térmico em regiões de clima quente, com conseqüente redução na produção de leite e alta incidência de carrapatos e verminoses. No Brasil, a raça holandesa só é recomendada para a região Sul e parte do Sudeste, ainda assim, associada à sistemas intensivos de produção. Na região Norte, devido as altas temperaturas, implica alto custo de manutenção.

A utilização de vacas meio sangue, provenientes do cruzamento de vacas puras Gir com touro Holandês, por meio da inseminação artificial, é uma estratégia interessante para regiões de clima quente. As crias originárias desses cruzamentos apresentam boa adaptação ao clima tropical e resistência a carrapatos e verminoses, além da excelente capacidade de produção leiteira a pasto. Entretanto, a maior dificuldade prática é a reposição de fêmeas no plantel, pois o produtor necessitaria manter vacas puras Gir em seu rebanho ou realizar a aquisição constante de vacas “meio sangue” de outras propriedades. A dificuldade operacional deste processo está relacionada à escassez de propriedades que forneçam ao mercado novilhas de reposição.

Uma solução simples e de fácil implantação pelo pequeno produtor é o cruzamento alternado. Neste esquema de cruzamento alterna-se a utilização de duas raças distintas no rebanho: uma de origem européia e outra zebuína. Nas vacas de maior grau de sangue holandês o produtor utiliza sêmen de touro Gir e nas vacas de maior grau de sangue zebuíno, sêmen de touro Holandês. Na geração seguinte, alterna-se a raça do touro utilizada. Desta forma, o produtor mantém em sua propriedade vacas mestiças de boa produção e adaptadas às condições climáticas. Este esquema de cruzamento é facilitado com a utilização da inseminação artificial, sendo indicado para pequenos produtores que desejam produzir leite a pasto e recriar os machos para corte.

A utilização de animais de maior mérito genético pressupõe o fornecimento de condições mínimas de infraestrutura e manejo para expressão do potencial genético dos animais. A rentabilidade da produção de leite pode ser potencializada pela adoção de tecnologias básicas de manejo, nutrição e sanidade como o consórcio do amendoim forrageiro com a pastagem, suplementação com silagem ou com mistura de cana e ureia no período de seca, adoção do pastejo rotacionado, realização do controle zootécnico e financeiro na propriedade e da ordenha higiênica do leite.

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Embrapa Acre

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