O que a compra da Algar pela ADM sinaliza? Por Carlos Eduardo Dalto

Publicado em 17/08/2018 13:16
Carlos Eduardo Dalto é professor da FGV, mestre em marketing e especialista em negociação e vendas no agronegócio.

A notícia da compra das operações da Algar Agro, com atuações em Uberlândia e Porto Franco, no Maranhão, pela multinacional Adm sinaliza novos ventos soprando para o mercado de originação e esmagamento de grãos.

Mesmo diante dos desafios que o setor enfrenta nestes últimos anos, especialmente nos negócios de originarão, com empresas (inclusive multinacionais) anunciando o encerramento de suas operações no Brasil, o mercado sinaliza como muito promissor. Somente em 2017, foram exportados de produtos agropecuários cerca de 96 bilhões de dólares a 31 blocos econômicos.

Estes números justificam os movimentos, como o que estamos presenciando, no setor de tradings agropecuárias no Brasil. Os recentes rumores de grandes fusões, como o da própria Adm com a Bunge em janeiro deste ano e agora, a consequente compra das operações da Algar, sinaliza o esforço que as empresas do setor estão fazendo para, além de enfrentar mais assertivamente os desafios do mercado, reorganizar-se operacionalmente e desenhar novas arquiteturas estratégicas que deem folego e agilidade às operações, num movimento semelhante ao que estamos observando na indústria química e nutrição vegetal.

NEGÓCIOS EM REDE

Os movimentos estratégicos da cadeia do agronegócio como um todo e a recente investida de capital, especialmente chinês, no mercado de distribuição de produtos agropecuários, sinaliza um claro direcionamento para operações em rede. Diferentemente do que se viu durante muito tempo (movimento linear) em que cada empresa desempenhava seu papel restrito, agora, observaremos cada vez mais, negócios interconectados e empresas, antes concorrentes, firmando parcerias estratégicas. Tudo isso, para proporcionar ao produtor ofertas mais robustas e completas. Também, um esforço para enfrentar os crescentes custos operacionais.

A IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DAS TRADINGS

Do ponto de vista estrutural do agronegócio brasileiro, as tradings desempenham um papel estratégico. Suas operações, especialmente às de Barter, garantem ao produtor inúmeros benefícios: preço médio do grão mais atrativo e redução dos riscos de oscilações futuras, reduz a inadimplência do setor, permite melhor gerenciamento dos custos produtivos.

Também, as tradings são importantes “portas de acesso” dos produtores a estruturas logísticas modernas e integradas, o que permite reduzir o custo operacional e torna o grão brasileiro mais competitivo no exterior. Outro fator preponderante ao papel das tradings é o maior acesso à cadeia de armazenagem, importante para evitar vendas pressionadas em picos de colheita, geralmente com preços baixos.

OS DESAFIOS DA ORIGINAÇÃO

Os desafios ao mercado de originação e indústria esmagadora no Brasil vão muito além da volatilidade do dólar, que impacta substancialmente seus resultados.  Para a consolidação do setor no Brasil, há que se pensar em agilizar as políticas agrícolas, especialmente às relacionadas aos acordos internacionais com os países e blocos econômicos. Também, esses desafios passam por projetos de melhoria e diversificação dos modais de transportes e de infraestrutura. Caso contrário, muito possivelmente, outros dissabores como acontecido em maio na greve dos caminhoneiros estarão por vir.

Contato: [email protected]

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Carlos Eduardo Dalto

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário