Qual o valor de uma flor de soja?, por Rafael Catojo

Publicado em 05/06/2019 16:53

O período reprodutivo de uma lavoura de soja (R1 – R6) é de grande importância para a produção, pois é a fase que compreende a emissão das flores, formação das vagens e enchimento de grãos, que vão definir a produtividade final. Portanto, esse período merece grande atenção e diversos cuidados, e qualquer desequilíbrio pode causar grande perda de estruturas e prejuízos em rendimento.

A cultura da soja vem demonstrando alto teto produtivo e elevados rendimentos são conhecidos nos concursos de Máxima Produtividade, organizados pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB). O campeão e recordista no Brasil atingiu, na safra 2014/15, o resultado de 141,80 sacas por hectare.

Esse alto potencial produtivo é possível, pois as plantas de soja produzem flores em abundância (NONOKAWA, et al., 2012). Porém, de 27% a 84% de todas as estruturas reprodutivas formadas podem ser abortadas naturalmente (NAVARRO JUNIOR; COSTA, 2002), como forma de controle intrínseco das plantas, de acordo com a disponibilidade de fatores do ambiente (água, temperatura, luminosidade) e do manejo (época de semeadura, adubação, controle de pragas, doenças e plantas daninhas, entre outros), segundo a Embrapa.

O período do florescimento (R1/R2) corresponde a uma época em que as plantas apresentam algumas demandas, que se não forem não atendidas, causam graves estresses. Temperaturas noturnas inferiores a 14º C inibem o florescimento (DESTRO, et al., 2001) sendo, portanto, a temperatura mínima para a indução floral, e 25º C a temperatura ótima para o estádio de desenvolvimento em questão (CAMARA, 2000). Decréscimos de 1º C na temperatura média podem causar atrasos de 2 a 3 dias no florescimento (DESTRO, et al., 2001). Quanto à demanda hídrica, o florescimento necessita, em média, de 7 a 8 mm de água por dia (FARIAS, et al., 2007), sendo que a demanda é maior a medida que a cultivar apresenta uma arquitetura mais eficiente quanto a captação de luz, devido a maiores taxas fotossintéticas e transpiratórias (CASAROLI, et al., 2007).

Os principais fatores envolvidos na fixação de flores e vagens de soja são a disponibilidade de nutrientes e de fotoassimilados, destinados a essas estruturas reprodutivas quando em desenvolvimento, assim como a disponibilidade de algumas classes de hormônios (NAGEL et al., 2001). Portanto, uma forte competição por carboidratos e nutrientes entre os órgãos da planta ou condições ambientais que prejudiquem a produção de fotoassimilados e a absorção e translocação de nutrientes, podem levar a uma deficiência destes para as estruturas reprodutivas e provocar o abortamento.

Sabendo que condições ambientais adversas levam à menor produção de fotoassimilados, é possível, com um manejo assertivo, promover maior estabilidade funcional nas plantas, fazendo com que estas estejam mais preparadas para enfrentar situações de estresse e, com isso, fiquem menos suscetíveis aos fatores climáticos adversos, aumentando a fixação de estruturas. Também é importante a disponibilização de nutrientes e aminoácidos que têm papel fundamental no processo de fecundação das flores, no processo fotossintético e na defesa das plantas, além de um eficiente controle fitossanitário.

De forma resumida, nutrientes como Cálcio e Boro são essenciais para a formação do tubo polínico e fecundação do ovário pelo grão de pólen, dando origem as vagens. Magnésio, além de ser essencial para a fotossíntese (nutriente central da molécula de clorofila), é um nutriente que atua diretamente no transporte de fotoassimilados das folhas para os drenos (no caso, flores e vagens), sendo, portanto, muito importante nesse período. As plantas de soja na época reprodutiva apresentam grande demanda por Nitrogênio, dessa forma, é necessário que os nódulos localizados nas raízes estejam em boas condições para a realização da FBN. O equilíbrio da adubação com macros e micronutrientes é essencial para que a planta possa se desenvolver e atender as demandas desse período de forma mais eficiente, uma vez que cada nutriente tem sua função especifica no processo e sua importância no florescimento.

O fornecimento de alguns aminoácidos contribui para melhorar o metabolismo das plantas de modo que estas fiquem mais preparadas para situações de estresse.  Alguns aminoácidos são precursores de hormônios promotores de crescimento e de substâncias de defesa primordiais para um bom desenvolvimento da planta em R1/R2. Vale lembrar que alguns aminoácidos essenciais apresentam função osmorreguladora, auxiliando a planta a reter água dentro das células, além de participarem do processo de abertura estomática, que vai impactar diretamente na fotossíntese.

O manejo fitossanitário é fundamental para garantir um bom índice de área foliar para que as plantas possam realizar a fotossíntese e gerar carboidratos para garantir a fixação e desenvolvimento ideal da florada. Manejar as plantas em um porte e arquitetura adequados contribui para que a luminosidade atinja todo o dossel da cultura, potencializando a fotossíntese. Também, o porte e arquitetura adequados garantem maior eficiência nas aplicações de defensivos, o que contribui para melhor controle fitossanitário.

Dessa forma, para exemplificar, considerando uma população de 200.000 plantas por hectare numa lavoura de soja, onde uma flor originará uma vagem de três grãos e o peso de mil grãos será de 180 gramas, uma flor a mais por planta pode trazer um incremento de produtividade de 1,8 sacas por hectare. Portanto, garantindo a fixação de uma flor a mais por planta se obterá um ganho financeiro médio de R$ 108,00 por hectare (adotando o preço da saca de soja a R$ 60,00). Esse é o valor de uma flor de soja!

LITERATURA CONSULTADA

CÂMARA, G.M.S. Bases de fisiologia da cultura da soja. Piracicaba. 2000.

CASAROLI, D. et al. Radiação solar e aspectos fisiológicos na cultura de soja – uma revisão. Revista da FZVA, Uruguaiana, v. 14, n.2, p. 102-120. 2007. 

CESB. Soja: quebrando recordes. CESB: 10 anos de máxima produtividade / Realização Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB) ;  Brasil: 2018.

DESTRO, D.; CARPENTIERI-PIPOLO, V.; KIIHL, R.A. de S.; ALMEIDA, L.A. de. Photoperiodism and genetic control of the long juvenile period in soybean: a review. Crop Breeding and Applied Biotechonology, v.1. p. 72-92, 2001.

EMBRAPA SOJA. Considerações sobre o florescimento precoce. Sistema de Alerta.

EMBRPA SOJA. Tecnologia da produção de semente de soja de alta qualidade [recurso eletrônico]: / José de Barros França-Neto... [et al.] – Londrina: Embrapa Soja, 2016. 82 p. il. – (Documentos / Embrapa Soja, ISSN 2176-2937 ; n.380)

FARIAS, J.R.B; NEPOMUCENO, A.L.; NEUMAIER,N. Ecofisiologia da soja. Circular Técnica. EMBRAPA. Londrinda, PR, 2007.

NAGEL, L.; BREWSTER, R.; RIEDELL, W.E.; REESE, R.N. Cytokinin regulation of flower and pod set in soybeans (Glycine max (L.)Merr.). Annals of Botany, v.88, p.27-31, 2001.

NAVARRO JUNIOR, H. M; COSTA, J. A; Contribuição relativados componentes do rendimento para produção de grãos em soja. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, v. 37, n. 3, p. 269 – 274. Março. 2002.

OLIVEIRA, Arnold Barbosa de. Fenologia, desenvolvimento e produtividade de cultivares de soja em função de épocas de semeadura e densidades de plantas / Arnold Barbosa de Oliveira. – – Jaboticabal, 2010

PASSOS, A.M.A.; REZENDE, P.M.; CARVALHO, E.A.; SAVELLI, R.A.M. Cinetina e nitrato de potássio em características agronômicas de soja. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.43, n.7, p.925-928, jul. 2008

TOCHETTO, C. Atividade fotossintética de plantas de soja tratadas com sacarose no período reprodutivo. Curitibanos, SC, 2015. 64 p.

YASHIMA, Y.; KAIHATSU, A.; NAKAJIMA, T.; KOKUBUN, M. Effects of source/sink ratio and cytokinin application on pod set in soybean. Plant Production Science, v.8, p.139-144, 2005. 

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