Guerra comercial entre EUA e China, PSA e estiagem causaram mais impactos negativos ao segmento de grãos do que Covid-19

Publicado em 24/06/2020 16:29
Relatório divulgado pela Bateleur mostra que a demanda permaneceu firme e que a desvalorização do Real tem ajudado o Brasil no cenário internacional

Se, por um lado, a pandemia de Covid-19 reverteu expectativas de crescimento, reduziu a produção de bens e a oferta de serviços e encolheu o emprego e a renda, por outro, em alguns setores, ela não teve uma grande influência. No segmento de grãos, por exemplo, outros fatores externos e internos, como a guerra comercial entre EUA e China, a peste suína africana e a estiagem, geraram mais impactos para os produtores brasileiros do que propriamente o novo coronavírus. A análise é do Relatório Setorial Agro - Segmento de Grãos, terceiro estudo publicado pela Bateleur, desde maio, com o objetivo de mapear os impactos econômicos da Covid-19 e as perspectivas para o futuro.

Mais do que levantar dados de fontes consolidadas como Rabobank, IBGE, Comex, Emater e Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o relatório interpreta e analisa o agronegócio brasileiro à luz do atual contexto. Embora ainda existam incertezas devido aos efeitos da pandemia, o estudo traça algumas perspectivas de futuro como, por exemplo, a recuperação das importações de soja pela China. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), os chineses comprarão 94 milhões de toneladas em 2020 - 6,2% a mais do que no ano passado, quando a peste suína africana causou estragos e provocou uma retração na demanda. "A doença dizimou boa parte do rebanho suíno chinês. O problema é que metade das importações do grão feitas pela China são destinadas à alimentação deste rebanho. Por causa da peste, os chineses deixaram de comprar", explica Ernani Carvalho, sócio da Bateleur que assina o relatório.

Se confirmada, a previsão de aumento das vendas pode beneficiar o agronegócio brasileiro, uma vez que o País é o principal fornecedor de soja para o mercado chinês. Até mesmo a guerra comercial entre EUA e China pode ajudar os produtores nacionais. No caso do Rio Grande do Sul, no entanto, não há muita razão para comemorar: a forte estiagem afetou a safra, que chegou a 10,6 milhões de toneladas - bem abaixo da expectativa de 19,7 milhões. "Vale lembrar que essa queda expressiva também é resultado de uma base de comparação alta, uma vez que a safra anterior atingiu recordes históricos", afirma Ernani, ressaltando que, em alguma medida, as perdas devem ser compensadas pela alta expressiva dos preços internos.

Outros grãos

O relatório da Bateleur também projeta as perspectivas para os mercados do milho, do arroz e do trigo. Assim como a soja, a expectativa é de que o milho siga com demanda firme, já que há uma recuperação do rebanho chinês, após a peste suína, e um aquecimento da pecuária brasileira. Já se vê, inclusive, uma certa concorrência, entre soja e milho, por espaços nos portos para o segundo semestre.

Da mesma forma, a perspectiva é otimista para os produtores de arroz. Beneficiado no início da pandemia pelos movimentos de estocagem, o grão brasileiro pode encontrar um espaço maior tanto pela substituição de importações quanto pelo surgimento de oportunidades de exportação.

Na cadeia do trigo, por outro lado, o movimento recente do câmbio traz um impacto negativo, uma vez que o Brasil, historicamente, depende de importações do grão. Por outro lado, com preços internacionais elevados, cria-se um incentivo à substituição dessas importações. Com isso, as estimativas dos produtores brasileiros seguem otimistas, dado que os preços atrativos devem resultar em uma maior área plantada com a cultura.
Em resumo: neste momento de crise mundial, o Brasil reafirma sua posição como um fornecedor confiável no abastecimento de produtos agropecuários, e tem, no seu agronegócio, um importante ponto de sustentação da economia durante a pandemia, além de uma poderosa alavanca para a retomada. "Mantendo-se atentos aos drivers específicos que regem cada um dos mercados, os produtores brasileiros e gaúchos certamente encontrarão oportunidades atrativas", destaca Ernani.

Ernani Carvalho tem mais de 20 anos de experiência como executivo e consultor de empresas no setor financeiro e de agronegócios. Atuou como executivo de operações estruturadas na Bayer CropScience no Brasil e na alta gerência comercial e de marketing da divisão de produtos agro da BASF para América Latina, além de ter passagem pela área global de Business Development da Syngenta AG, em Basiléia, na Suíça. Sua vivência anterior à indústria de insumos foi desenvolvida em agentes financeiros de destaque no agronegócio, como o Grupo Rabobank e o Sicredi. É professor sênior da ESPM em cursos de pós-graduação/MBA, programas in-company e extensão, além de atuar como coordenador do Núcleo de Agronegócios da mesma instituição e de ser professor convidado da Unisinos e da PUCRS em cursos de MBA e especialização nas áreas de gestão, marketing e negócios internacionais. Ernani é graduado em Administração de Empresas (UFRGS), mestre em Administração e Negócios (PUCRS), pós-graduado em Marketing (ESPM) e titulado Master of Business Administration (INSEAD/França).

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Assessoria de Comunicação

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