Ouro branco brasileiro: A valorização do algodão, por Walter Schlatter

Publicado em 11/12/2020 11:41
Walter Schlatter é presidente da Ampasul

O Brasil é o quarto maior produtor mundial de algodão, atrás da Índia, China e Estados Unidos. A produção brasileira, de acordo com a ABRAPA no ano safra 2019/2020 foi de 2,9 milhões de toneladas, em uma área de 1,62 milhões de hectares, uma produção recorde, porém com enfraquecimento da demanda.

Mato Grosso do Sul vem reduzindo a área de plantio de algodão nas últimas safras. A área na safra 2018/2019 era de 37 mil hectares, em 2019/2020 passou a ser de 32 mil hectares. Para 2020/2021 é esperada uma redução acima de 20%. Em relação à quantidade produzida de pluma também há uma redução ao longo dessas três safras, com média de 13% de redução. Os fatores climáticos adversos, baixas cotações da pluma e altos preços da soja e milho, influenciaram  na decisão do produtor em substituir a fibra pelo cultivo de grãos.

Para a safra 2020/2021 é prevista uma redução de área em cerca de 12%, atingindo o total de 1,42 milhões de hectares no Brasil e 23,5 mil hectares no Mato Grosso do Sul. Esse movimento deverá ocorrer devido ao incentivo na produção e comercialização de soja e milho no país. A taxa de câmbio favorável ao mercado externo, ou seja, um real desvalorizado, elevou a demanda externa pelos grãos, principalmente na retomada pós pandemia. O preço do algodão acompanhou a valorização do dólar em 40%, pareando o preço da soja, porém com elevado custo para se produzir, consequentemente uma menor lucratividade, apesar da alta na cotação da pluma.

O enfraquecimento da demanda interna e externa é fato relevante para redução da área e da produção em 2020/2021, visto que um estoque elevado sem comercialização, não gera renda à economia brasileira e causa deságio. O baixo consumo e a baixa exportação de itens têxteis industrializados também colaborou para redução prevista da quantidade a ser produzida, induzidos pela alta no preço final dos insumos.

No ano safra 2019/2020 a China foi responsável por 90% da importação de soja e 30% de algodão do Brasil. O milho atendeu principalmente a União Europeia e o Sudeste Asiático. Os preços elevados atraíram os produtores a exportarem em maior quantidade, reduzindo o estoque para consumo interno. Para o ciclo 2020/2021 de soja e milho deve haver um aumento de área produtiva, ocupada antes pela produção do algodão e pastagens degradadas.

A exportação do algodão no ano safra 2019/2020 está em 1,95 milhões de toneladas, superando o valor exportado em 2018/2019 em cerca de 49%, e um valor superior à estimativa da Conab, de 1,92 milhões de toneladas, alcançando o segundo lugar de maior exportador mundial. O Brasil já conta com 84% da safra 2019/2020 já comercializada, e 44% da safra 2020/2021 também, refletindo um mercado ainda pujante mediante a comercialização antecipada. No mesmo ritmo Mato Grosso do Sul exportou 32,0 mil toneladas da safra 2019/2020, e já colocou em andamento a semeadura do ciclo 2020/2021 com 57 % já vendido.

A elevada comercialização antecipada tem base na classificação de alto nível do algodão nacional, pois a topografia, o clima e a tecnologia implantada no cerrado para produção do algodão garantem qualidade, sustentabilidade e produtividade; porém esbarra na concorrência com mercado de fibras sintéticas e alto custo de produção. Dessa forma, o preço do algodão torna-se cada vez mais elevado, refletindo no mercado consumidor, através do aumento do preço de produtos têxteis, como fiação, confecção e vestuário; além de atender a produção de óleo comestível e biodiesel. Esse cenário permite o algodão brasileiro ser conhecido como “ouro branco”, devido ao seu alto valor agregado em todo o processo de produção, do campo às mãos do consumidor. 

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Fonte:
Ampasul

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