Prêmios da soja no Brasil chegaram ao fundo do poço?, por HedgePoint Global Markets

Publicado em 04/05/2023 09:51 e atualizado em 05/05/2023 16:24
Autor: Pedro Schicchi - Analista de Grãos e Oleaginosas da HedgePoint Global Markets

Não é segredo que os prêmios da soja no Brasil estão caindo, isso vem acontecendo há algumas semanas e em ritmo acelerado. O que é importante entender é o que está causando esse cenário e, portanto, o que seria necessário para detê-lo/revertê-lo.  

Bem, qual é causa, então? 

Uma combinação de safra cheia, baixa comercialização, logística apertada e demanda chinesa “lenta”. Desde a guerra comercial, a maior parte dos ciclos tem sido positivos para os agricultores e, com algumas exceções, produtores que seguraram suas safras, geralmente venderam a preços melhores. Tomando 2022 como exemplo, quem esperou até Dez/Jan (meses decisivos), conseguiu um melhor negócio, com a quebra confirmada. Isso criou uma percepção de que esperar é bom sempre e, até Jan/Fev deste ano, produtores estavam relutantes em se desfazer de suas (grandes) safras, mesmo quando as estimativas de produção mais baixas do mercado ainda estavam acima de 150M ton. 

Agora, em março-abril, o vencimento das contas está se aproximando, uma grande safra de milho de inverno se desenha (com pouco armazenamento disponível) e o mercado sinaliza que a capacidade logística em geral será disputada. Com esse cenário, os produtores estão sendo obrigados a vender e, como pouco foi comercializado antecipadamente, há muitos vendedores precisando de um comprador.  

Somando-se a esse tom baixista doméstico, o destino de sempre (China), que nos acostumamos a ver a comprar o que quer que tenhamos para vender, está sem pressa alguma. Devido à quebra do ano passado, o país ajustou sua composição de ração para demandar menos farelo em geral e tem planos de reduzi-lo ainda mais. 

Essas são as causas, mas veremos os prêmios continuando a cair? 

Para responder a essa pergunta, precisamos entender o que se espera de cada um desses fatores. Para começar, a enorme produção já está definida e, embora haja algum debate sobre o número exato, parece ser sempre do limite de 153-154M ton para cima. 

Quanto à China, temos falado de uma demanda “lenta” por parte do país, mas o fato é que eles estão comprando a mesma quantidade de soja que compravam em 2021 – a última safra boa do Brasil . É o Brasil que tem muito mais a oferecer e está com pressa.  

É verdade que, como esperamos que a produção de ração no país em 2023 seja semelhante à de 2022, eles “deveriam” estar comprando um pouco mais, mas a diferença é explicada pela  porcentagem menor de farelo no mix médio de ração – que deve continuar declinando.  

Assim, não há muitos motivos para acreditar que a demanda chinesa deva aumentar significativamente, embora o grande desconto da soja brasileira possa despertar algum interesse de compra no curto prazo.  

Do ponto de vista da comercialização, deve haver motivos de sobra para que eles continuem vendendo no curto prazo e, portanto, para que a queda nos prêmios continue. 

Um dos motivos são as contas. Essa foi uma safra muito cara e a partir de maio/junho os agricultores devem começar a pagar parte dela. A outra razão importante é a logística. Não há capacidade de armazenamento e exportação para atender ao mesmo tempo as safras de soja e milho de inverno. Assim, algumas vendas também são necessárias antes do início da colheita em junho, para abrir espaço para o milho.  

A esse respeito, uma questão já está surgindo. Com alguns feriados e baixo interesse de compra da China, o ritmo de exportação de abril se mostrou abaixo do esperado, empurrando para frente as exportações de soja esperadas para o ano, podendo aumentar a competição com milho, farelo e o açúcar no 2S.  

Porém, a partir do início da colheita de milho safrinha, o grão poderá ter prioridade sobre a soja. Para começar, embora os preços de ambos não valham a pena para o produtor no momento, o milho é mais barato em termos absolutos e um mercado menos líquido no Brasil, tornando menos vantajoso mantê-lo. 

Além disso, enquanto a queda já aconteceu para a soja, ela ainda pode estar à nossa frente para o milho. Com clima normal, espera-se que os EUA tenham uma grande produção, e o milho brasileiro deve enfrentar uma concorrência mais acirrada dos americanos do que a soja, e a colheita lá é apenas alguns meses depois da brasileira.  

Assim, mais alguma pressão baixista sobre os prêmios da soja brasileira ainda está por vir, já que os agricultores continuam precisando vender para pagar suas contas e liberar espaço para o milho, enquanto a demanda não dá sinais de expressiva melhora.  

No entanto, quando o milho de inverno começar a ser colhido, a pressa para vender pode diminuir e, com ela, a força do movimento de baixa. A razão para isso seria os agricultores priorizarem a movimentação do milho primeiro, que teve um declínio bastante acentuado recentemente, mas ainda não da mesma magnitude que a oleaginosa.

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Fonte:
Hedge Point Global Markets

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