Cultura do monitoramento: Agricultura regenerativa e sistema plantio direto

Publicado em 25/08/2025 08:19
Afonso Peche Filho

A agricultura contemporânea exige a conciliação entre produtividade e sustentabilidade, desafio que impõe novas formas de compreender e manejar os agroecossistemas. Nesse contexto, a cultura do monitoramento emerge como prática essencial, capaz de traduzir em números e indicadores os ganhos obtidos com estratégias conservacionistas. Mais do que uma ferramenta, trata-se de uma postura permanente que transforma o manejo em processo de aprendizagem contínua, fortalecendo tanto a prática agrícola quanto sua legitimidade social e científica.

Monitorar significa registrar, quantificar e interpretar transformações. Ao se estabelecer como cultura, esse hábito rompe com o improviso e substitui a percepção subjetiva por parâmetros técnicos que permitem verificar a evolução dos sistemas ao longo do tempo. Os números, nesse sentido, tornam-se mediadores do diálogo entre agricultores, técnicos e pesquisadores, oferecendo evidências objetivas como infiltração da água, cobertura do solo, agregação, diversidade biológica e segurança produtiva. Sem essa base, a agricultura regenerativa corre o risco de se limitar a um discurso normativo, sem comprovar seus resultados na prática.

Na agricultura regenerativa, regenerar é um processo dinâmico e não um estado final. Isso exige que o monitoramento seja capaz de revelar trajetórias e tendências, em vez de apenas resultados isolados. A infiltração da água, por exemplo, pode ser medida com testes de campo simples, indicando a estabilidade da estrutura do solo. A cobertura permanente, por sua vez, pode ser acompanhada visualmente ou por imagens de satélite, revelando a proteção contra radiação solar, impacto de gotas ou conservação da umidade. A agregação é avaliada pela forma e resistência dos agregados e pela presença de matéria orgânica, sinalizando resiliência física e biológica. Já a diversidade, observada em plantas de cobertura e na biota edáfica, traduz a vitalidade do ecossistema agrícola. Todos esses indicadores, quando analisados em conjunto, expressam o grau de segurança produtiva e a racionalidade do manejo.

O sistema plantio direto, consolidado como uma das maiores conquistas da agricultura conservacionista no Brasil, oferece um campo privilegiado para a aplicação dessa cultura. Seus três princípios básicos, cobertura permanente, diversificação de espécies e mínima mobilização do solo, somente podem ser garantidos mediante monitoramento constante. Avaliações periódicas permitem distinguir o plantio direto de alta qualidade de versões empobrecidas, que acabam reproduzindo problemas típicos da agricultura convencional, como compactação, erosão e dependência excessiva de insumos químicos.

Os benefícios da cultura do monitoramento são múltiplos. No campo ecológico, permitem verificar a resiliência dos solos e ecossistemas; na dimensão econômica, quantificam ganhos de eficiência no uso de insumos e energia; no aspecto social, conferem transparência e credibilidade à atividade agrícola; e na esfera científica, produzem séries históricas de dados que orientam pesquisas e políticas públicas. No entanto, persistem desafios, como a resistência cultural ao registro sistemático, a falta de instrumentos acessíveis e a dificuldade de integrar dados ambientais e produtivos em sistemas de gestão.

Em síntese, a cultura do monitoramento não é mero controle, mas compromisso com a verdade ecológica e produtiva da agricultura. Ao quantificar avanços e dar visibilidade aos resultados, fortalece a confiança de agricultores, pesquisadores, consumidores e gestores públicos, consolidando a agricultura regenerativa e o sistema plantio direto como caminhos viáveis, saudáveis e racionais para o futuro.

* Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas – IAC.

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Fonte:
Afonso Peche Filho

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