Controle da Lagarta Helicoverpa - Custo/Hectare num País Sério

Publicado em 04/06/2013 18:09
Por Eduardo Lima Porto, consultor da CustodoAgro.

Com a discussão estabelecida nas últimas semanas em torno da liberação da importação do Benzoato de Emamectina para o controle da Lagarta Helicoverpa, decidi conversar com alguns fabricantes chineses que abastecem vários mercados, inclusive algumas multinacionais que operam há anos no Brasil.

Sem exceção, os fornecedores chineses vêm se manifestando com ceticismo em relação a real intenção do Governo Brasileiro de enfrentar o problema da Lagarta, dado o excesso de burocracia e a falta de lógica nos procedimentos exigidos pela Instrução Normativa que supostamente "libera" a importação.

Já alertei, através de um Artigo publicado aqui no Notícias Agrícolas, que não há qualquer menção na referida Instrução Normativa que indique que a Receita Federal irá permitir aos Agricultores, Associações ou Cooperativas fazer a importação sem a existência do RADAR, que é um registro que habilita os operadores do Comércio Exterior.

Sem o RADAR ou um dispositivo jurídico claro que abra o canal aduaneiro para que a importação seja feita, as coisas permanecerão exatamente no mesmo lugar. O Governo fingindo que está sensível ao problema dos Agricultores, os Políticos falando asneiras sobre questões técnicas que desconhecem e os Agricultores se iludindo com uma possível solução, ainda que Divina.

Não bastasse o obstáculo aduaneiro, o setor enfrenta uma burocracia desajeitada, incompetente e que não entende absolutamente nada sobre a logística da Agricultura, do Comércio Exterior e das repercussões gravosas que causam na vida das pessoas que sustentam esse País.

Feitas estas rápidas ponderações, passo a tratar concretamente do tema desse Artigo.

Atualmente, se possível fosse comprar o Benzoato de Emmamectina para o Combate à Lagarta, o Agricultor-Importador estaria pagando ao redor de USD 13,00/kg base CIF Santos por uma formulação com 5% de ingrediente ativo na forma de Grãos Dispersíveis em Água (WDG).

Segundo informações do fabricante consultado, recomenda-se entre 70g e 100g/ha do produto a cada aplicação para o controle da Helicoverpa Armigera e outras lagartas. 

Considerando que estamos tratando de um problema de caráter emergencial cujos danos econômicos são publicamente conhecidos, podemos afirmar que se o Brasil fosse um País Sério, o custo indicativo por aplicação do Benzoato de Emmamectina giraria em torno de USD 1,30 a USD 1,60/ha.

Infelizmente, é sabido que milhares de Agricultores desembolsaram em vão mais de USD 100,00/ha na última safra e amargaram uma perda Bilionária. Bom que se diga que o prejuízo não foi só do Produtor, mas sim da economia como um todo. 

Existem coisas bem melhores na vida do que gastar mais de R$ 1 bilhão de reais em inseticidas. Imagino que esse dinheiro todo poderia ter sido bem melhor aproveitado nas regiões em que a infestação se deu, entre outros aspectos que é melhor não mencionar.

Interessante que o Brasil é dotado de uma característica sui generis no Mundo. Nos achamos melhores do que os outros em todos os aspectos do conhecimento humano. Não aceitamos que os procedimentos técnicos de países mais avançados sobre-passem o nosso cuidado absoluto na validação da verdade científica (a nossa), principalmente quando o assunto é Defensivo Agrícola ou Medicamento.

Quando se trata de avaliar a viabilidade técnico-econômica de um produto chinês, surgem então inúmeros céticos que afirmam com veemência que não há qualidade e abundam exemplos de toda ordem para sustentar essa posição radical, cuja fragilidade tem sido responsável por equívocos graves e atrasos diversos.

Será que a China como maior produtora, importadora e consumidora de alimentos não possui maturidade e nem capacidade científica para garantir a efetividade dos produtos usados em seu território, os quais são ainda exportados para o mundo inteiro? 

Me indago sobre os demais países, serão todos inferiores aos padrões brasileiros no que se refere aos cuidados com a Saúde e o Meio Ambiente? 

Considerando que somos a fonte do saber nessa área, quais seriam os motivos que levam as Multinacionais, que vendem produtos aqui a preços de "grife", a se abastecerem na China quando precisam de matérias primas ou ingredientes ativos?

Me parece que aqui tudo é possível, principalmente o abuso econômico com a proteção legal do Governo. Exemplos de distorções aberrantes que viram norma, infelizmente não nos faltam.

Vivemos no País em que o Poste mija no Cachorro. 

Merecemos um lugar melhor, do contrário teremos que buscar o caminho descrito no famoso poema de Manoel Bandeira: "Vou me embora pra Pasárgada".

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Fonte:
CustodoAgro

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4 comentários

  • Eduardo Lima Porto Porto Alegre - RS

    Prezado Cícero, realmente esse princípio ativo é excelente do ponto de vista da eficiência agronômica e também de baixíssima toxicidade. Por esse motivo é que está sendo utilizado amplamente em vários países. O que chama a atenção é o preço que está sendo praticado, que é exorbitante quando comparado aos valores de exportação da China. A explicação para essa diferença é simples: Falta de concorrência. O sistema de registros é responsável pela criação de monopólios comerciais e quem paga a conta dessa benesse conta é o Produtor.

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  • Cícero José Libardi Ponta Porã - MS

    Aqui no Paraguay este produto já foi comercializado na safra passada, o nome comercial é Proclain Fit, fabricado pela Syngenta. Para o produtor é vendido a U$260,00 o kg e a doze é 50 gramas por ha. Muito bom produto, limpa a lavoura.

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  • Eduardo Lima Porto Porto Alegre - RS

    Roberto, muito obrigado pelo comentário. O grande problema é que ninguém sabe o que fazer primeiro. Quem toma as decisões nessa área está completamente distanciado da realidade do campo. A situação ideal seria forçar o Governo e o Congresso a mudar urgentemente a legislação que rege o setor, tratando de simplificá-la para dar consistência e celeridade a atividade rural. Se o EPA - Environmental Protection Agency dos Estados Unidos libera uma molécula para uso lá e eles tem muito mais competência, aparato laboratorial e fiscalização que o Brasil, não há motivo para que venhamos a repetir o mesmo trabalho. Falta noção crítica e principalmente um sentido Ético de Urgência.

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  • Roberto da Costa Pereira Brasília - DF

    Ótimo artigo: Abaixo mais uma mijada do poste.

    De: Roberto [mailto:[email protected]]

    Enviada em: terça-feira, 4 de junho de 2013 09:57

    Para: '[email protected]'

    Assunto: vazio sanitário de feijão

    Prezada Senhora

    Em 29/5 encaminhei à Secretaria de Agricultura de Minas Gerais a seguinte reclamação:

    Mensagem: O vazio sanitário para feijão, entre 15 de setembro e 20 de outubro, já foi regulamentado em Minas Gerais e Distrito Federal, mas em Goiás ainda não. De acordo com o diretor do Sindicato Rural de Cristalina (GO), Vitor Simão, o vazio sanitário ainda precisa ser discutido no estado, pois produtores já negociaram insumos e contrataram financiamento para o próximo plantio irrigado de Julho e agosto. Para Simão, são necessárias outras medidas além do vazio para que haja controle efetivo da praga. “O vazio sanitário isoladamente, com certeza, não vai resolver o problema”, afirma. A vigência imediata da medida por parte de Minas e do DF foi precipitada e baseou-se apenas em informações superficiais: além de prejudicar os produtores que já planejaram sua produção no segundo semestre, não há garantia técnica da eficácia da medida e vai contribuir para o desabastecimento de feijão, já bastante grave. Além disto, a exclusão de Goiás vai tornar inócuo o vazio em Minas e no DF pois as regiões produtoras são limítrofes. (Submitted by 186.213.200.70)

    A resposta foi a seguinte:

    De: Rachel Rodarte [mailto:[email protected]]

    Enviada em: quarta-feira, 29 de maio de 2013 14:11

    Para: [email protected]

    Assunto: RES: vazio sanitário de feijão

    Prezado Senhor,

    Em resposta ao e-mail enviado no dia 29 de maio, informamos que o vazio sanitário do feijão foi adotado seguindo recomendação técnica da Embrapa - feijão, localizada em Goiânia. Orientações semelhantes prestadas por essa renomada empresa de pesquisa, fizeram com que os estados brasileiros adotassem anteriormente os vazios sanitários da soja e do algodão.

    Concordamos com a alegação de que para melhor resultado, os estados produtores e limítrofes deveriam adotar o vazio ao mesmo tempo. Como a medida ainda não faz parte de um programa nacional de prevenção, os Estados não estão obrigado a esta adesão.

    Atenciosamente,

    Equipe de Atendimento

    Gerência de Defesa Sanitária Vegetal

    Instituto Mineiro de Agropecuária

    Nome: Roberto

    E-mail: [email protected]

    Tipo: Reclamação

    Assunto: vazio sanitário de feijão

    Cidade: Unaí

    Estado: MG

    A resposta acima demonstra a superficialidade do governo mineiro no exame de assunto tão importante: o vazio adotado para a soja é desde a colheita (finalizando em Abril) até final de Setembro, ou seja, cinco meses. No caso do feijão é de apenas 35 dias (15 de setembro e 20 de outubro). Na pratica, entretanto, é de apenas 15 dias, pois iniciando-se o plantio de soja em 1º de Outubro, a infestação de moscas brancas será reiniciada nas lavouras de soja e não combatida pois ela é imune ao vírus do mosaico dourado. Ao se iniciar o plantio de feijão 20 dias depois, as moscas migrarão para a nova lavoura transmitindo o vírus e comprometendo a produção. Ademais, a responsabilidade institucional pela medida é do Instituto Mineiro de Agricultura e não da Embrapa ou de outros centros de pesquisa. Assim, os técnicos do IMA deveriam ter examinado a conveniência da medida ouvindo pesquisadores e produtores, mas usando seus próprios critérios - este seria seu dever funcional.

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