A batalha da produção brasileira, por Glauber Silveira

Publicado em 06/08/2013 08:37
Glauber Silveira é presidente da Aprosoja Brasil.

Parece estranho falar “batalha da produção”, mas é assim que tem sido para os produtores, enfrentando uma guerra que dura mais de 50 anos. A cada safra um novo combate, no qual os opositores são os mesmos: falta de infraestrutura de transporte e armazenamento. Este ano, a batalha se repete e o pior é que o inimigo se apresenta maior, como por exemplo, as milhares de toneladas sem armazém no Mato Grosso (MT) e no Centro Oeste Brasileiro.

Não só soja produz o MT, o Milho dobrou nos últimos cinco anos  saindo de 8,5 para 17,3 toneladas. Em 2013, o Brasil vem demonstra sua vocação como um grande produtor de milho e com potencial para dobrar sua produção rapidamente. Mas infelizmente, a cada tonelada adicional produzida uma grande pressão é feita nos preços .De importador de alimentos passamos a exportador, mas com o excedente  produtivo  fortemente concentradas no Centro-Oeste, localizada a 2.000 quilômetros do porto. O frete por sua vez, segue em alta pressionado pelas péssimas condições das vias, dos portos ineficientes e da Lei dos Motoristas, inexequível à realidade brasileira.

Enquanto os produtores de grãos na Argentina e Estados Unidos precisam transportar a produção nacional de soja e milho por no máximo 400 quilômetros de caminhão, seguindo o resto do caminho de trem ou pelo modal aquaviário, no sistema brasileiro o cenário é dessemelhante. No Brasil, em média é preciso transportar por 1.100 quilômetros até os portos, sendo que no Centro-Oeste chega a superar os 2.000 quilômetros.

A falta de uma logística de transporte adequada é agravada pela falta de armazenagem, segundo a Food and Agriculture Organization (FAO), o país precisa ter  1,2 vezes sua produção de capacidade de estática de armazenagem. Em países como, Estados Unidos a capacidade é de 130%,  no Brasil é de 74%, com o agravante de apenas 14% ser na propriedade, enquanto nos EUA é de 42%. Fatores como esse geram pressão na comercialização e os produtores se obrigam a comercializar no pico da colheita a preços menores.

O setor produtivo comemorou a nova linha de armazenagem anunciada no lançamento do Plano Agrícola e Pecuário (PAP), ideia é guardar 100% da safra. O PAP disponibiliza valores muito próximos da necessidade real de investimento para construir armazéns. São 5 bilhões de reais de imediato, mais 5 bilhões nos próximos 4 anos, totalizando 25 bilhões de reais. Mas, agora, estamos vivendo outra batalha, que  é ver este Plano se realizar na prática.

O  Ministério da Agricultura  têm defendido a produção brasileira. Mas, infelizmente para os outros setores do governo a área produtiva não é tida como prioritária, pois quando buscamos um entendimento com as autoridades, mesmo diante do nosso potencial produtivo e das dificuldades enfrentadas, há sempre uma forte resistência. Ainda que seja demonstrado que, nos EUA se gasta US$ 25/t no transporte de grãos e no Brasil US$ 85/t, não surte efeito, muitos  tratam nossa pujança como se fosse um mal.

Vale lembrar, que a falta de competitividade não é só do Centro Oeste, os quilômetros rodados no Sul do Brasil como no Paraná são os mais caros  comparados com outros países produtores. É inadmissível a soja sair de Toledo (PR) e ir de caminhão até o Porto. Resumindo, produtores de todo Brasil pagam um custo alto pela ineficiência logística e portuária.

 E o pior parece estar por vir: os preços altos da soja e do milho que tivemos na safra passada, os problemas logísticos e de armazenagem foram grandes, mas longe do que podem ser nesta próxima safra. Este ano, os preços estão menores e os custos de produção 26% maiores, segundo dados do Instituto Mato Grossense de Economia Agrícola (Imea). Com preços altos a soja e o milho têm suas exportações aceleradas e um navio se dá o luxo de ficar 60 dias para carregar, mas com preços baixos o comprador procurará sem dúvida portos mais eficientes.

Além de termos uma infraestrutura e logística de transporte tão desfavorável, vem somado a esta desvantagem a nossa ineficiência portuária, Há dez anos somos classificados como um dos piores portos do mundo. O Brasil é um país com vocação para a exportação de commodities e isto faz nossa balança comercial ficar positiva e nos faz crescer. O que nos causa indignação é saber, que falta comprometimento com o produtores: se o governo realizasse o que realmente é prioritário e urgente como, por exemplo, concluir á Br 163, cobrir os carregamentos dos portos e agilizar as licenças ambientais para realização de obras, estaríamos dando passos certos, e assim as “batalhas” seriam mais justas.

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Aprosoja Brasil

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