Fala Produtor - Mensagem

  • Delman Ferreira Brasília - DF 11/09/2007 00:00

    Senhores Diretores do Bradesco, <br /><br />Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela exist&ecirc;ncia da padaria na esquina de sua rua, ou pela exist&ecirc;ncia do posto de gasolina ou da farm&aacute;cia ou da feira, ou de qualquer outro desses servi&ccedil;os indispens&aacute;veis ao nosso dia-a-dia. <br /><br />Funcionaria assim: todo m&ecirc;s os senhores, e todos os usu&aacute;rios, <br />pagariam uma pequena taxa para a manuten&ccedil;&atilde;o dos servi&ccedil;os (padaria, feira, mec&acirc;nico, costureira, farm&aacute;cia etc). Uma taxa que n&atilde;o <br />garantiria nenhum direito extraordin&aacute;rio ao pagante. Existente <br />apenas para enriquecer os propriet&aacute;rios sob a alega&ccedil;&atilde;o de que <br />serviria para manter um servi&ccedil;o de alta qualidade. Por qualquer produto adquirido (um p&atilde;ozinho, um rem&eacute;dio, uns litros de <br />combust&iacute;vel etc) o usu&aacute;rio pagaria os pre&ccedil;os de mercado ou, <br />dependendo do produto, at&eacute; um pouquinho acima. Que tal? <br /><br />Pois, ontem sa&iacute; de seu Banco com a certeza que os senhores <br />concordariam com tais taxas. Por uma quest&atilde;o de equidade e de <br />honestidade. Minha certeza deriva de um racioc&iacute;nio simples. Vamos imaginar a seguinte cena: eu vou &agrave; padaria para comprar um p&atilde;ozinho. O padeiro me atende muito gentilmente. Vende o p&atilde;ozinho. Cobra o embrulhar do p&atilde;o, assim como, todo e qualquer servi&ccedil;o. Al&eacute;m disso, me imp&otilde;e taxas. Uma &quot;taxa de acesso ao p&atilde;ozinho&quot;, outra &quot;taxa por guardar p&atilde;o quentinho&quot; e ainda uma &quot;taxa deabertura da padaria&quot;. Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro. Fazendo uma compara&ccedil;&atilde;o que talvez os padeiros n&atilde;o concordem, foi o que <br />ocorreu comigo em seu Banco. Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto de seu neg&oacute;cio. Os senhores me cobraram pre&ccedil;os de mercado. Assim como o padeiro me cobra o pre&ccedil;o de mercado pelo p&atilde;ozinho. Entretanto, diferentemente do padeiro, os senhores n&atilde;o se satisfazem me cobrando apenas pelo produto que adquiri. <br /><br />Para ter acesso ao produto de seu neg&oacute;cio, os senhores me cobraram uma &quot;taxa de abertura de cr&eacute;dito&quot; - equivalente &agrave;quela hipot&eacute;tica &quot;taxa de acesso ao p&atilde;ozinho&quot;, que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar. <br /><br />N&atilde;o satisfeitos, para ter acesso ao p&atilde;ozinho, digo, ao <br />financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente em seu Banco. Para que isso fosse poss&iacute;vel, os senhores me cobraram uma &quot;taxa de abertura de conta&quot;. Como s&oacute; &eacute; poss&iacute;vel fazer neg&oacute;cios com os <br />senhores depois de abrir uma conta, essa &quot;taxa de abertura de conta&quot; se assemelharia a uma &quot;taxa de abertura da padaria&quot;, pois, s&oacute; &eacute; poss&iacute;vel fazer neg&oacute;cios com o padeiro depois de abrir a padaria. <br /><br />Antigamente, os empr&eacute;stimos banc&aacute;rios eram popularmente conhecidos como &quot;Papagaios&quot;. Para liberar o &quot;papagaio&quot;, alguns gerentes <br />inescrupulosos cobravam um &quot;por fora&quot;, que era devidamente <br />embolsado. Fiquei com a impress&atilde;o que o Banco resolveu se antecipar aos gerentes inescrupulosos. Agora ao inv&eacute;s de um &quot;por fora&quot; temos muitos &quot;por dentro&quot;.Tirei um extrato de minha conta - um &uacute;nico <br />extrato no m&ecirc;s - os senhores me cobraram uma taxa de R$ 5,00. <br />Olhando o extrato, descobri uma outra taxa de R$ 7,90 &quot;para a <br />manuten&ccedil;&atilde;o da conta&quot; - semelhante &agrave;quela &quot;taxa pela exist&ecirc;ncia da padaria na esquina da rua&quot;. A surpresa n&atilde;o acabou: descobri outra taxa de R$ 22,00 a cada trimestre - uma taxa para manter um limite especial que n&atilde;o me d&aacute; nenhum direito. Se eu utilizar o limite <br />especial vou pagar os juros (pre&ccedil;os) mais altos do mundo. Semelhante &agrave;quela &quot;taxa por guardar o p&atilde;o quentinho&quot;. <br /><br />Mas, os senhores s&atilde;o insaci&aacute;veis. A gentil funcion&aacute;ria que me <br />atendeu, me entregou um caderninho onde sou informado que me <br />cobrar&atilde;o taxas por toda e qualquer movimenta&ccedil;&atilde;o que eu fizer. <br />Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores esqueceram de me cobrar o ar que respirei enquanto <br />estive nas instala&ccedil;&otilde;es de seu Banco. Por favor, me esclare&ccedil;am uma d&uacute;vida: at&eacute; agora n&atilde;o sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma? Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os <br />senhores me respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um servi&ccedil;o banc&aacute;rio &eacute; muito diferente de uma padaria. Que sua responsabilidade &eacute; muito grande, que existem in&uacute;meras exig&ecirc;ncias governamentais, que os riscos do neg&oacute;cio s&atilde;o muito elevados etc e tal. E, ademais, tudo o que est&atilde;o cobrando est&aacute; devidamente coberto por lei, regulamentado e autorizado pelo Banco Central. Sei disso. Como sei, tamb&eacute;m, que existem seguros e garantias legais que <br />protegem seu neg&oacute;cio de todo e qualquer risco. Presumo que os riscos de uma padaria, que n&atilde;o conta com o poder de influ&ecirc;ncia dos <br />senhores, talvez sejam muito mais <br />elevados. Sei que s&atilde;o legais, mas tamb&eacute;m sei que s&atilde;o imorais . <br /><br />Por mais que estejam garantidas em lei, tais taxas s&atilde;o uma imoralidade.

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