Fala Produtor - Mensagem

  • Liones Severo Porto Alegre - RS 17/10/2013 00:00

    Soja: A China continua aumentado as importações - Assisti a entrevista do Sr. Miguel Daoud, na 1ª. edição do Mercado & Cia, desta quinta-feira. Contesto seu argumento de que a China teria iniciado um processo de importação de soja há 15 anos, mas que agora "o programa ou limite das importações de soja estariam vencidos", isto é, que a China não iria continuar aumentando suas importações de soja. Como este assunto é de grande interesse para a agricultura brasileira, permito-me contestar o que foi dito ali e informar aos produtores que trabalhei 10 anos para uma empresa estatal chinesa, o que me levou a frequentar constantemente esse país durante esse período, aprofundando meu conhecimento sobre o povo, economia e cultura chinesa.

    Palestrei para a comunidade de industrial e outros segmentos do mercado de soja em 15 das 31 províncias daquele país, e fui o primeiro brasileiro a realizar um grande negócio de soja de produtores brasileiros para a China, tendo negociado mais de 20 milhões de toneladas de soja brasileira destinadas à China --, além de ser autor de 2 livros, a única literatura sobre o mercado de soja existente em nosso país.

    Portanto, tenho conhecimento suficiente para afirmar que a China continuará sua escalada de compras de soja a nível mundial, tanto é que o parque industrial chinês já tem capacidade estática de industrialização para 125 milhões de toneladas de soja e até agora utiliza apenas 55% dessa capacidade.

    Da população de 1.36 bilhões de habitantes, cerca de 755 milhões de pessoas vivem no campo, mas está em andamento um programa de migração de 300 milhões de chineses para as áreas urbanas (cidades), levando para as cidades 2.000 chineses do campo por dia, num processo que será estendido (planejado) até 2030.

    O nível da dieta dos habitantes do campo ainda é muito deficiente; estão no nível 1 - quando nas cidades a maioria já se encontra no nível 3. Isto significa que as populações urbanas consomem 22 kg de carne per capita/ano, superior à população do campo. Isso sem considerar que ainda existem nas regiões urbanas cerca de mais 300 milhões de pessoas que ainda não atingiram a dieta de consumo a nível 3.

    Entre outras reformas econômicas em beneficio do desenvolvimento da economia chinesa, está inserido no plano econômico do novo governo chinês (que assumiu em março passado), o plano de dobrar a renda da população, considerando-se que de 1990 a 2010 os salários já haviam dobrado 9 vezes, o maior acréscimo de renda para uma população a nível mundial.

    Outro aspecto questionável da entrevista foi a afirmação de que os preços das commodities agrícolas não teriam espaço para novas elevações de preços "pois, apesar de existir alimentos suficientes no mundo, não existiria renda suficiente para adquiri-los".(??!!)...

    Se assim o fosse, os preços das commodities agrícolas não estariam no patamar atual, com potencial de novos recordes. Quando me baseio nos fatores que possam elevar os preços das commodities agrícolas, o faço não por ser um apologista de preços altos, mas porque entendo que esta é a única condição de se aumentar a produção de alimentos no mundo, criando uma riqueza relativa da qual até mesmo os 842 milhões de famintos, atualmente existentes no mundo, poderão se beneficiar. De acordo com a FAO, nesta mesma tendência atual haverá 2 bilhões de famintos no ano de 2030.

    O preço atual das commodities é sintomático e é resultado de uma extrema escassez de alimentos no mundo, principalmente de soja, a principal e maior proteína vegetal para a produção de alimentos elaborados e finais. Atualmente, aqui mesmo no Brasil se registra este fenomeno da escassez de soja. Nosso país que atravessa uma forte escassez de soja para atender o suprimento interno, embora o Brasil tenha produzido sua maior safra de soja de todos os tempos, de 81.513 milhões de toneladas, neste ano de 2013.

    Sigo duas regras básicas da economia : 1 ) Se o preço está elevado é porque a oferta é escassa, 2) se consomem ao preço elevado atual é porque podem pagar.

    Insisto: A busca de oferta abundante é uma única fórmula de suprir a carência de alimentos das populações pobres. Por fim, prefiro ficar com o pensador francês Carlos Montesquieu, que disse: "SE OS RICOS NÃO COMETEREM EXTRAVAGANCIAS OS POBRES ESTARÃO CONDENADOS À MORTE"....

    Atenciosamente,

    Liones Severo

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