Fala Produtor - Mensagem

  • Carlos William Nascimento Campo Mourão - PR 12/09/2017 21:39

    Hoje á tarde estava ouvindo na Rádio CBN uma conversa entre Miriam Leitão e Carlos Sardemberg. Eles comentavam sobre os números divulgados por um órgão de pesquisa sobre o aumento das vendas do setor de supermercados e hipermercados. Num certo ponto, o Sardemberg perguntou á Miriam qual era a razão da economia estar dando sinais de melhora e como havia aumento das vendas mesmo com a crise. Miriam Leitão explicou que isso se deve a queda na inflação, PRINCIPALMENTE dos alimentos. No ano de 2016 a inflação dos alimentos foi de 14% e agora em 2017 ela é de 0,2% negativo. A comida está mais barata disse ela, e isso faz com que sobre mais dinheiro para as famílias gastarem em outros produtos. Que mesmo sem aumento de salários, o consumidor percebe que sobra mais dinheiro no final do mês pois gasta menos com alimentação. A repórter diz que a grande safra foi responsável por esta queda de preços...

    Bem , nós agricultores sabemos que não é somente por causa da super safra imaginária. A queda nos preços dos alimentos acontece com uma ajuda enorme do governo, que anuncia produções que não existem e manipula as regras de mercado para baratear os alimentos para a população urbana, em detrimento do setor rural. Um claro exemplo é o leite. Um país insignificante como o Uruguai, com uma produção interna de leite muito pequena, consegue destruir toda a cadeia produtiva do leite no Brasil, exportando uma quantidade absurda de leite em pó para nosso país. Leite em pó que será rehidratado e vendido como longa vida. O Uruguai exporta muito mais leite em pó do que suas vacas conseguem produzir, numa clara manobra de triangulação com outros países como Nova Zelândia. O governo tem total conhecimento disso, mas prefere não atuar, para derrubar os preços internos, favorecer a população urbana e fazer mais uma vez com que o setor agropecuário pague pela recuperação da economia.

    Não é diferente com o setor de carnes e grãos. O trigo é o melhor exemplo. Anúncios de safras infladas também tem o objetivo de segurar os preços.

    Enquanto isso os custos de produção só aumentam. Existe um boato entre donos de postos de combustíveis que até o final do ano o óleo diesel vai chegar em R$4,00 por litro. Insumos caros, fertilizantes caros e nossos produtos baratos para segurar a inflação e ajudar a economia a crescer.

    Não é a primeira vez que isso acontece. Lembram do plano Real, quando chamavam a agropecuária de Âncora Verde? A história de repete e vai acontecer no futuro. Nossa única chance de ganhar algum lucro é quando acontece uma grave seca, como em 2016. Fora isso meus amigos, estamos condenados a sermos meros provedores de comida farta e barata para o povo da cidade, que nos chama de destruidores da natureza.

    Representantes não temos, nunca tivemos e nunca teremos, pois somos uma classe desunida, sem força. Se tivéssemos representantes, o problema do trigo e do leite já teria sido resolvido.

    E assim vamos, de ano em ano, vendo nossas contas aumentarem, nossa renda diminuir, enriquecendo vendedores de produtos que não funcionam, sem termos nenhuma garantia. Vemos cooperativas ficarem gigantes e prósperas, enquanto seus associados se empobrecem. Vemos com tristeza nossos filhos e filhas terem que escolher outra profissão, pois não existe futuro para eles na lida do campo. Malditos sejam os ladrões que roubam o futuro deles. Espero que lhes seja reservado um inferno especial, com um fogo bem mais quente do que o normal.

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