Boi: Sobre as incertezas do mercado e as opções de venda

Publicado em 11/06/2012 07:15 e atualizado em 09/03/2020 08:22
Por Lygia Pimentel, médica veterinária, pecuarista e analista de commodities.
Terminado o feriado, estamos torcendo pra que depois do fim de semana o consumo seja bom, não é mesmo? Aparentemente, a carne mostra força neste início de mês, o que é comum devido à sazonalidade com que o mercado costuma trabalhar mês após mês. Lembram-se das fotos do supermercado que mostrei há algumas semanas?

Entretanto, o problema agora é que oferta de animais ainda permanece forte. Os frigoríficos têm melhorado suas margens com o barateamento da matéria prima em relação à carne no atacado, sem falar do faturamento com as exportações que também tem ajudado. Não fosse essa necessidade de otimizar o funcionamento das unidades de abate em busca da diluição de custos fixos e margens melhores, talvez estivéssemos diante de preços mais baixos. Em outras palavras, há oferta maior, mas há também apetite maior por parte dos frigoríficos. Apetite esse que, diante
da oferta de animais, não tem sido o suficiente para sustentar o mercado.

Para ilustrar essas informações, segue nosso primeiro gráfico:

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Temos nele o recente comportamento de recuperação dos preços no atacado, ilustrado pela linha cinza, e a concomitante estabilidade do valor da arroba em São Paulo.

Também temos a diferença entre o equivalente físico e a arroba, que normalmente é um indicador que trabalha no campo negativo. Isso significa que, normalmente, o frigorífico paga mais caro pela arroba em relação ao preço que ele consegue comercializar a carcaça. Quer dizer que o frigorífico toma prejuízo na maior parte do tempo? Não.

Ele faz a diferença negativa virar positiva no momento em que vende os subprodutos, como couro, sebo e miúdos. Também faz isso ao processar a carne e vende-la desossada.

Mas o que podemos observar também no gráfico é a média dessa diferença entre arroba e carne com osso tem diminuído, ou seja, tem se aproximado do campo positivo semestre após semestre e hoje concentra-se no melhor patamar dos últimos três anos. Assim como os preços da arroba, a margem do frigorífico também se comporta ciclicamente, afinal, ela depende do custo da matéria-prima, ou seja, o boi. Então quando o boi sobe (como em 2010), as margens da indústria se apertam. Quando cai, como ago ra, as margens se recuperam.

Bem, mas estamos entrando na entressafra, não é? Não sei. São Pedro tem nos surpreendido. Após uma seca brava em plena safra, está chovendo muito em um momento em que tipicamente vemos pastos amarelos e rapados. Só pra acabar com toda a programação do pecuarista. Observe a próxima imagem.

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A oferta de animais gordos costuma sumir neste período, mas e se as chuvas continuarem nos surpreendendo? Será que a entressafra pode demorar mais a chegar? E se o volume maior de gado confinado atrapalhar a entressafra? E se as exportações voltarem a ser impactadas pelo cenário macroeconômico adverso?

A questão é que trabalhamos com uma incerteza absurda e uma infinidade de fatores que podem comprometer ou impulsionar a oferta de animais.

E, novamente, pra acabar com a volatilidade e pisar em terreno firme, só usando ferramentas financeiras como o mercado futuro, o termo e o seguro de preços, também chamado de compra de opção de venda, ou compra de PUT.

Pessoal, não trabalho mais em corretora. Já trabalhei, mas hoje meu negócio é vender boi, palestras e consultoria. O que quero dizer é que não ganho nada dizendo isso. Nem um centavo com corretagem, nada. Não estou vendendo uma ideia ou um produto, mas gosto de compartilhar boas experiências e o que tenho visto é que as operações que trabalham travadas são mais tranquilas e fazem sobrar mais tempo pra gente gastar com todos os outros mil problemas
que existem dentro da propriedade.

Uma vez que o mercado deu a chance de lucro, por que não agarrá-la com as duas mãos? É um mal do investidor achar que a tendência favorável a ele dura para sempre, mas isso nunca acontece. Em todos os mercados é assim, ele se regula e somos pegos de calças curtas.

E aí entra aquele ditado que diz que “gato escaldado tem medo de água fria”. Tem muita gente com quem converso que travou o boi futuro na bolsa, mas viu o mercado subir e teve que pagar ajuste. Não gostou da ideia e abandonou a ferramenta. Pra quem acha que o mercado pode andar muito ainda neste ano, tem uma maneira de conseguir travar um preço mínimo, mas ainda aproveitar uma possível alta.

Estou dizendo que essa alta vai acontecer? Não. Estou dizendo que o mercado não vai andar? Também não. Só estou defendendo a ideia de que, na incerteza, podemos garantir o almoço. E esse jeito de garantir chama-se “seguro de preços”, ou compra de PUT.
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Agrifatto

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