Geadas no trigo mostram que Brasil só deixará de importar quando assumir os prejuízos do produtor

Publicado em 21/08/2020 16:18 e atualizado em 24/08/2020 10:05
Lucilio Alves - Pesquisador do Cepea
Poderemos exportar trigo quando retirarmos o risco climático das costas do produtor. Entrevista com Lucílio Alves - Pesquisador do Cepea

 

 

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Entrevista com Lucilio Alves - Pesquisador do Cepea

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A geadas do final da semana no sul do País quebraram, no minimo, em 10% a produção de trigo nacional. No oeste do Rio Grande do Sul - região de Vacaria -  o frio cortou as hastes das plântulas bem no ponto do "emborrachamento" (pré-colheita). A compensação, obviamente, virá através de mais importações. Somos o 7.o maior importador mundial, com 6.7 milhões de t, para um consumo de 12 milhões de t (45 a 50% do que consumimos). 

No entanto, somos também exportadores de trigo. Já exportamos 400 mil t este ano, e poderemos chegar ao final com 1,5 de t vendidos lá fora. Prova de que temos qualidade e que há espaço para mais vendas externas (possibilitada pelo cambio).

Mas não temos produto para fornecer aos compradores. O aplicativo Debroker - criado pela corretora De Baco, de Porto Alegre - mostra uma grande quantidade de empresas importadoras fazendo ofertas de compras no sistema. Mas, de outro lado, não aparecem vendedores, demonstrando que há pouco produto à venda (quem tem, segura atrás de melhores preços, hoje girando em torno de R$ 1.150,00 a tonelada)

Devido ao custo do frete, o trigo de qualidade não chega aos consumidores do norte do País, e, sem comércio, o produto acabará se transformando em ração no cocho de suinos e frangos no Sul.

Em resumo,o País está jogando fora a oportunidade de se qualificar como exportador de trigo, embora haja também o maior estoque de trigo nos armazens do mundo - "o maior estoque dos ultimos 60 anos", informa o professor Lucílio Alves, pesquisador do Cepea. "Mas com a diferença cambial, nosso trigo é competitivo; só não temos volume suficiente para garantir a oferta constante".

O dilema do gargalo da oferta - tanto para o mercado interno quanto para a exportação - somente será solucionado quando o País decidir transformar o trigo brasileiro num produto seguro de se produzir. "O que não é aceitável é vermos o risco climático unicamente nas costas do produtor", diz Lucílio.

-- "Quando resolvermos assimir as despesas de seguro para o triticultor, aí somente restará a competição de custos internos para que o trigo melhor (produzido no Sul) seja destinado à exportação, ficando o abastecimento do mercado interno a cargo da produção no centro-oeste do País.

--"As lavouras irrigadas do centro-oeste poderão dar tornar as populações do Nordeste e Norte auto-suficientes em trigo, enquanto o campos do Sul terão produtos para a exportação. Mas para isso é necessário resolver o gargalo das geadas", diz Lucíolo.

(Veja acima a entrevista na íntegra).

Geadas atingem trigo no RS, mas PR tem área maior sujeita a perdas, diz Safras

LOGO REUTERS

SÃO PAULO(Reuters) - Geadas atingiram o trigo do Rio Grande do Sul nesta sexta-feira e perdas estão sendo ainda avaliadas, mas o Estado gaúcho tem uma área suscetível a quebra climática menor que o Paraná, onde o frio pode colocar em risco parte das lavouras nas próximas duas madrugadas, avaliou nesta sexta-feira a consultoria Safras & Mercado.

O Rio Grande do Sul, segundo maior produtor de trigo no Brasil, tem cerca de 22% da área suscetível ao frio, disse o analista da consultoria Jonathan Staudt, durante videoconferência.

"O Rio Grande do Sul teve geadas (na madrugada) de ontem para hoje, com possíveis perdas que vão ser contabilizadas nos próximos dias. Paraná ainda não teve, mas há previsão para o fim de semana", afirmou.

O Paraná, líder na produção nacional de trigo, tem cerca de 80% das lavouras desta temporada em estágios suscetíveis a perdas por problemas climáticos, como geadas.

O órgão paranaense Simepar prevê geada de moderada intensidade para o sul do Estado na madrugada de sábado, e um fenômeno mais fraco para grande parte da faixa central do Paraná no mesmo dia.

Na madrugada de domingo, apenas uma parte ao sul do Estado terá geada, mas ela tende a ser fraca, incluindo os municípios de Guarapuava, Pato Branco e União da Vitoria, segundo previsão mais atualizada do Simepar.

O analista da Safras explicou que a diferença entre os cenários dos dois Estados está no calendário de plantio do cereal.

O trigo em estágios iniciais ou próximo da colheita tem menos chance de sofrer perdas.

"O Rio Grande do Sul está mais atrasado que o Paraná, embora dentro da média histórica", disse.

Até domingo, o Brasil passará por uma frente fria que pode ser a mais intensa do ano, com ocorrência de neve entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul e geadas que podem se estender até São Paulo e Mato Grosso do Sul.

O Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral) informou nesta sexta-feira que dificilmente terá um retrato fidedigno sobre como a frente fria impactou as lavouras do Estado em seu levantamento sobre o mês de agosto.

"Demorará ao menos uma semana para que os efeitos das possíveis geadas sejam mais aparentes... Para agosto, devem ser quantificadas apenas as perdas ocasionadas pela seca que perdurava antes dos eventos atuais", afirmou o analista do Deral em boletim Carlos Hugo Godinho.

Enquanto não há resultado sobre o efeito das adversidades climáticas sobre as lavouras de trigo, Staudt disse que seguem mantidas as previsões da Safras & Mercado, que espera produção nacional de trigo em 6,6 milhões de toneladas.

"Se alcançarmos esse volume, será a segunda maior colheita dos últimos anos, atrás apenas da temporada de 2016/17, que registrou 6,7 milhões de toneladas", lembrou Staudt.

Caso perdas venham a ocorrer, crescem as possibilidades de o Brasil aumentar suas importações, já que o país costuma produzir, nas melhores safras, cerca de metade do volume consumido.

Até o momento, a consultoria estima importação de 6,7 milhões de toneladas para o cereal neste ano comercial, enquanto o consumo interno previsto é de 12,5 milhões de toneladas.

"Reduções no volume ofertado podem aumentar o custo para os moinhos, que recorrerão mais às importações neste momento de real desvalorizado", enfatizou Godinho, do Deral.

Segundo ele, as importações do cereal nos sete primeiros meses de 2020, no Paraná, foram 25% menores que entre janeiro e julho de 2019, na contramão das importações brasileiras, que cresceram 3%, "o que pode indicar que muitos moinhos locais estão se mantendo no limite de estoques à espera da safra nova", completou.

 

 

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Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • Alan Bernardes

    What? E quando der lucro? o Brasil também assumirá os lucros?...

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      Alan, voce nao deve ser agricultor, pois saberia que, em geral, o trigo nunca deu lucro, mas serve para diluir as despesas fixas...

      6
    • Elton Szweryda Santos Paulinia - SP

      Nunca irá assumir nada do produtor... assim o preço sobe....

      1