Com mundo sem soja, mercado brasileiro tem momento de cautela e escalada de preços em Chicago

Publicado em 20/11/2020 17:34 e atualizado em 22/11/2020 06:18
Mercado internacional já busca alcançar e romper os US$ 12 por bushel apoiado na relação apertada de oferta e demanda global

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Desde a última sexta-feira (13), o contrato janeiro/21 da soja subiu 3,51% ara fechar a sessão desta sexta (20) com US$ 11,81 por bushel. O mesmo fechamento foi registrado pelo contrato março que, no intervalo, acumulou um ganho de 2,87%. A semana, mais uma vez, foi cheia para o mercado da oleginosa, com os fundamentos - embora a notícia pareça repetitiva - fortes mantendo firmes os pilares que sustentam as cotações na Bolsa de Chicago, sinalizando que a escalada de preços é certa e continua. 

O objetivo mais próximo - e nítido - dos futuros da oleaginosa agora é o patamar dos US$ 12,00 por bushel. Rompendo este nível, como explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, é buscar os US$ 12,20. Na sequência, segundo sua análise, serão necessárias notícias novas para manter o ímpeto do avanço das referências. 

Durante a semana, o mercado fez ma nova trajetória positiva acompanhando dois principais fatores: a oferta limitada e a demanda muito latente no mercado global. Além dos baixos estoques nas principais origens, as novas safras - que agora se desenvolvem na América do Sul - continuam ameaçadas pelo clima adverso, e já estão bastante comprometidas. A comercialização antecipada aconteceu, principalmente, no Brasil, onde devemos chegar a janeiro com quase 70% da safra 2020/21 já vendida. 

"Os estoques mundiais divulgados pelo USDA de 20 milhões de toneladas no Brasil, 27 milhões na Argentina e 27 milhões na China, e que somam 74,0 milhões inexistem. Então, se descontar esse total do estoque mundial divulgado pelo mesmo USDA de 88 milhões, sobrariam apenas 14,0 milhões como um estoque mundial realista, e suficiente para apenas 14 dias do consumo", explica o especialista no complexo soja e diretor do SIMConsult, Liones Severo, 

O consumo diário mundial de soja, como relata Severo, cresceu em 2020 para mais de 1 milhão de toneladas da oleaginosa. Na China, maior consumidor da commodity, seu esmagamento semanal passa a ser de mais de 2 milhões de toneladas. Enquanto isso, se registram problemas nas atuais temporadas de Brasil, Argentina e Paraguai, que juntos somam, aproximadamente, 56% da oferta global de soja. 

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Com altas além grão, os derivados da soja também registram momentos de preços historicamente elevados e de uma demanda recorde. A oferta é tão limitada, consequentemente, quanto a da matéria-prima. "Neste momento, a soja não tem uma valorização somente pelo cenário de oferta e demanda do grão, mas também pelos derivados, que estão contribuindo bastante", diz Eduardo Vanin, analista de mercado da Agrinvest Commodities. 

Para Vanin, o "complexo soja está blindado", mesmo com com incertezas marcando a retomada das economias mundo a fora, e que os preços dos três produtos deverão continuar nesta escalada. 

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MERCADO NACIONAL

Embora o dólar tenha registrado uma alta considerável nesta sexta-feira frente ao real, na semana o saldo acumulado é de um recuo de 1,61%, com a moeda valendo R$ 5,38. E parte deste movimento pesou sobre as cotações da soja no mercado brasileiro. Ainda assim, o pouco produto disponível segue registrando indicativos acima dos R$ 160,00 por saca nos portos e o da safra nova, acima dos R$ 140,00. 

A força do mercado, todavia, já não é tão expressiva. Algumas indústrias, ainda como relata Brandalizze, já começam a parar de esmagar, as cotações do farelo e da soja já apresentam algum recuo e frente aos elevados preços da matéria-prima, as operações começam a se mostrar inviáveis, sem oferecerem margens positivas, como vinha acontecendo há alguma semanas.

"E na safra nova não conseguimos evoluir porque nossos prêmios ainda estão mais altos do que os americanos e assim nossa soja fica mais cara", explica o consultor da Brandalizze Consulting. Assim, temos uma estabilidade dos valores em reais, porém, com poucos novos negócios sendo efetivados. 

"Conforme o clima for se movimentando (na América do Sul), o comprador vai sendo mais ou menos voraz, e o produtores voltaram ou não às vendas. O Brasil deve chegar a fevereiro com 75% da soja comprometida, sobrando 25% para cobrir os compromissos até dezembro (de 2021). E as indústrias, por medida de segurança, devem carregar mais estoques no ano que vem. E caso os preços caiam, as origens vendedoras se retraem e isso é altista para Chicago", explica Ênio Fernandes, consultor da Terra Agronegócios. 

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"2020/21 está definido, para quem colher está completamente seguro, terá a rentabilidade assegurada. Supondo que o câmbio venha a R$ 4,00, juntando isso com 60% já negociado, teríamos margem para fazer todos os pagamentos e ainda sobraria uma margem líquida enorme. Assim, as empresas, em algumas culturas, já não querem mais abordar o ano 2020/21, mas só 2021/22", complementa Carlos Cogo, o sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio. 

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Notícias Agrícolas

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