Rebocadores e dragas ainda encontram dificuldade para desencalhar navio no Canal de Suez

Publicado em 26/03/2021 16:03 e atualizado em 29/03/2021 08:27

Equipes que trabalham no Canal de Suez para desencalhar o Ever Given, navio da empresa Evergreen Marine que bloqueia o canal desde a última 3ª feira (23.mar), conseguiram liberar parcialmente a proa da embarcação na madrugada desta 2ª (29.mar.2021). A embarcação voltou a flutuar e, segundo a Autoridade do Canal de Suez, o trabalho agora é para endireitá-la.

“A posição do navio foi reorientada 80% na direção certa”, disse o órgão. A popa do navio se encontra a 102 metros de distância da margem. Quando encalhou, o intervalo era de 4 metros.

Foram dragados mais de 27.000 metros cúbicos de areia da parte da costa onde estava encalhada a proa do navio, liberando o leme e as hélices. Os trabalhos devem recomeçar às 11h30 locais (6h30 em Brasília), quando a maré estiver alta.

“A navegação será retomada imediatamente depois da restauração completa da direção da embarcação e seu direcionamento para a área de espera do Grande Lago Amargo para inspeção técnica”, declarou a Autoridade do Canal de Suez.

A Leth Agencies, agência que opera no canal, informou que há no momento 367 embarcações aguardando a liberação do canal.

Uma tempestade de areia com fortes rajadas de vento fez com que, na manhã de 3ª feira (23.mar), o navio virasse lateralmente e ficasse atravessado no canal. A proa ficou presa em uma das margens do canal. A popa quase tocou a outra margem do Suez.

O Canal de Suez é uma das rotas de navegação mais importantes do mundo. Cerca de 12% do comércio global passam pelo canal, que conecta o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho. É a ligação marítima mais curta entre a Ásia e a Europa. Em 2020, aproximadamente 19.000 navios passaram pelo canal –sendo mais de 50 por dia.

A cada dia de navegação suspensa, há impacto de mais de US$ 9 bilhões em mercadorias que deixam de passar pela hidrovia, de acordo com estimativa do Lloyd’s List, publicação especializada em comércio marítimo.

Efeitos indiretos na indústria marítima podem incluir um agravamento da escassez de contêineres, já causada pelo coronavírus, a interrupção do comércio de petróleo e um aumento do número de atrasos nos portos, segundo o Lloyd’s List. Além disso, 9 em cada 10 navios que foram impactados não possuem seguros e coberturas para atrasos.

O CANAL

O Canal de Suez foi inaugurado em 17 de novembro de 1869. Os egípcios depositam grandes esperanças na passagem marítima, que, além de trazer recursos financeiros, é um símbolo nacional.

O canal promoveu uma mudança enorme no Egito. As cidades de sua região, principalmente Port Said, tornaram-se centros comerciais dinâmicos, que conectaram o país à rede de comércio global. A “Estrada do Império Britânico”, como o canal era chamado, encurtou consideravelmente a distância entre Londres e Mumbai, de 19.855 quilômetros para 11.593 quilômetros. A mudança impulsionou o transporte marítimo.

Desde 2015, com a conclusão das obras de ampliação, mais navios podem navegar pelo Canal de Suez. Depois que o presidente do Egito, Abdel Fattah Al Sisi, deu o aval para a obra, foram retirados 258 milhões de metros cúbicos de areia e a via foi ampliada num trecho de quase 40 quilômetros.

Essa não é a 1ª vez que o tráfego é suspenso, mas os incidentes no passado não foram da mesma proporção.

Rebocadores e dragas ainda encontram dificuldade para desencalhar navio no Canal de Suez

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ISMAILIA, Egito (Reuters) - As equipes de resgate no Canal de Suez estavam alternando entre movimentos de dragagem e de reboque neste domingo para desencalhar o enorme navio de contêineres que bloqueia a passagem, com duas fontes ouvidas afirmando que o trabalho tem sido prejudicado por rochas sob a proa do navio.

As dragas que trabalham para desencalhar o navio até agora moveram 27 mil metros cúbicos de areia, com uma profundidade de 18 metros, e os esforços continuarão 24 horas por dia de acordo com as condições do vento e das marés, disse a Autoridade do Canal de Suez (SCA) em comunicado.

O presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, ordenou os preparativos para a eventual remoção de uma parte dos 18.300 contêineres do navio, disse o presidente da SCA, Osama Rabie, ao veículo Extra News do Egito.

Qualquer operação para aliviar a carga do navio não será iniciada antes de segunda-feira, disse uma fonte da SCA, já que as equipes de resgate tentam tirar vantagem da maré alta antes de retroceder na próxima semana para manobrar o navio e liberá-lo.

O Ever Given, de 400 metros de comprimento, ficou preso na diagonal de uma seção sul do canal após ventos fortes, há mais de cinco dias, interrompendo o tráfego de navios em um dos canais hidroviários mais movimentadas do mundo.

Pelo menos 369 barcos aguardam para passar pelo canal, disse Rabie, incluindo dezenas de navios porta-contêineres, graneleiros, petroleiros e navios de gás natural liquefeito (GNL) ou gás liquefeito de petróleo (GLP).

Pessoas e instituições que estão sendo afetadas pelo bloqueio podem receber descontos, disse Rabie, acrescentando que ele acredita que as investigações provarão que o canal não foi responsável pelo encalhe de um dos maiores navios porta-contêineres do mundo.

Navio encalhado no Canal de Suez se mexeu no sábado, mas não foi libertado

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SUEZ, Egito (Reuters) - O chefe da Autoridade do Canal de Suez afirmou no sábado que as tentativas de remover o navio porta-contêineres que está encalhado e bloqueando o canal permitiram que sua popa e leme se movessem, mas ele ainda não podia prever quando o barco voltaria a flutuar.

O cargueiro Ever Given, de 400 metros, ficou encalhado na diagonal na parte sul do canal em meio aos fortes ventos no início da terça-feira, afetando a navegação global ao bloquear uma das rotas marítimas mais movimentadas do mundo.

Cerca de 15% do tráfego marítimo global passa pelo Canal de Suez e centenas de navios aguardam para atravessar o canal assim que ele for desobstruído.

O presidente da Autoridade, Osama Rabie, afirmou que espera que não seja necessário retirar alguns dos 18.300 contêineres que estão no navio para aliviar o seu peso, mas que marés e ventos fortes estavam complicando os esforços para desencalhá-lo.

"A popa do navio começou a se mover em direção a Suez, e isso foi um sinal positivo até as 23h (18h em Brasília), mas a maré caiu significativamente e paramos", disse Rabie a jornalistas em Suez.

"Esperamos que a qualquer momento o navio possa deslizar e se mover do local em que está", acrescentou.

Petróleo liderou altas das commodities nesta 6a,feira com bloqueio no Canal de Suez. Nas agrícolas, atenção ao café

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Navio encalhado no Canal de Suez - Março de 2021

Navios impedidos de entrar no Canal de Suez - Foto: Planet Labs Inc.

O enorme navio encalhado - o Ever Given, da empresa Evergreen Marine, no Canal de Suez, no Egito, continuou bloqueando o tráfego marítimo de uma infinidade de produtos e a reação dos mercados se intensificou nesta sexta-feira (26). Segundo alguns especialistas, entre sábado (27) e domingo (28), o canal poderá ser liberado, outros já afirmam que os trabalhos só serão concluídos para o desencalhe na próxima quarta-feira (31). 

Enquanto isso, há centenas de cadeias de suprimento sofrendo com o interrompimento do abastecimento. O impacto se dá ainda sobre uma crise no setor de contêineres, que já vinha sendo sentida e com as indústrias operando com sua capacidade total, além de ser sentido também nos preços dos fretes marítimos, que já vinham registrando uma disparada brutal nos últimos meses. O custo para o envio de um contêiner de 40 pés da Europa para a China quadruplicou em um ano. 

Navio encalhado no Canal de Suez - Março de 2021

Navio encalhado no Canal de Suez - Foto: 2021 Maxar Technologies

"Os atrasos, provavelmente, aumentarão os custos, aumentando a pressão inflacionária já generalizada nas cadeias de abastecimento. Os efeitos em cascata de curto prazo poderão pesar mais sobre as rupturas de estoque de bens de consumo e o risco de que as cadeias de fornecimento de manufatura que já foram perturbadas pelo Brexit e a escassez de commodities possam enfrentar interrupções adicionais", explica à agência internacional de notícias Bloomberg Chris Rogers, analista comercial da S&PGlobal Market Intelligence. 

Ainda de acordo com a Bloomberg, uma fila de 300 navios se formou no canal nesta sexta-feira (26), contra os 186 que eram contabilizados na quarta (24). Essa é uma das das principais vias de fluxo de mercadorias mundo ligando a Europa à Ásia.

A imagem abaixo, da Marine Traffic, mostra os navios cargueiros e os petroleiros congestionando o canal. 

Fluxo de navios no Canal de Suez - Março 2021 - Fonte: Marine Traffic

Fluxo de navios no Canal de Suez - Março 2021 - Fonte: Marine Traffic

Diante do ocorrido, as embarcações estão buscando rotas alternativas e desvios bastante caros, que além de elevar os gastos com as viagens, ainda levarão mais tempo do que o previsto. Há navios tentando desviar pelo Cabo da Boa Esperança e outros tentando contornar a África, o que, neste caso, aumentaria o tempo de viagem de 10 a 15 dias. Há empresas considerando, inclusive, o transporte aéreo daquilo que é possível. 

Entre os carregamentos parados em função do encalhe há papel, leite em pó, móveis, cerveja, carnes bovina e suína congeladas, chocolate, cosméticos, componentes automotivos, madeira, entre outros. 

Navio encalhado no Canal de Suez - Março de 2021

Navio Ever Given, da empresa Evergreen, encalhado no Canal de Suez - Foto: Suez Canal Authority

As preocupações se dão também sobre os impactos que serão sentidos depois que o navio for desencalhado e o canal liberado. Os portos da Europa poderão receber mais contêineres do que o que é possível manejar em seus portos, as viagens de volta serão atrasadas e a falta desses contêineres pode se agravar. 

Informações do portal internacional Lloyd's List, especializado em informações de transporte marítimo, dão conta de que o impacto diário do navio encalhado pode chegar a mais de US$ 9 bilhões em mercadorias que não passam pelo canal. 

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PETRÓLEO

Quem lidera as altas entre as commodities é o petróleo, que já chegou a subir mais de 4% ao longo desta sexta-feira, tanto no Brent em Londres, quanto para o WTI em Nova York. Durante o fechamento desta reportagem, as altas eram de 3,95% e 3,93%, respectivamente, com os preços em US$ 64,43 e US$ 60,86 por barril. 

Somente de petróleo são cerca de dois milhões de barris que deixam de circular diariamente com esta trava no Canal de Suez. 

CAFÉ

Com Virgínia Alves

Na sequência vinham as altas sendo registradas pelo mercado do café, principalmente o robusta negociado na Bolsa de Londres. Na Bolsa de Nova York, os futuros do arábica subiam mais de 1% nesta tarde de sexta-feira, enquanto o conilon subia mais de US$ 20,00 por tonelada. 

"Continuam as tentativas de liberar o navio, mas pode demorar dias ou mesmo semanas para reabrir o canal. Quase todas as importações de café conilon do Vietnã pela Europa passam pelo canal de Suez, e um fechamento prolongado da rota pode levar a interrupções no fornecimento", traz a análise do portal internacional Barchart.

Além disso, o fechamento aumentará a escassez de containeres que já estão reduzindo as exportações de café arábica do Brasil. Problema que vem sendo sentido desde o ínicio da pandemia do Covid-19 em 2020. 

"O que chama a atenção no caso do café são os estoques baixos, porque se os estoques fossem confortáveis você não teria nenhuma preocupação por conta do encalhe de um navio. Isso é mais um indício de que os estoques de café no mundo todo não são confortáveis. É uma coisa impressionante ver que somente um navio causa tudo isso, mostra como algumas coisas são frágeis hoje em dia", diz o analista de mercado Eduardo Carvalhes, do Escritório Carvalhaes. 

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AÇÚCAR

Com Jhonatas Simião

Segundo Arnaldo Luiz Corrêa, analista de mercado da Archer Consulting, as exportações de açúcar não utilizam o Canal de Suez. No entanto, as oscilações nos preços do petróleo durante a semana, além de outros fatores, impactaram consideravelmente as cotações do adoçante no cenário internacional.

O açúcar bruto na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) caiu mais de 3% no acumulado de uma semana, mas ainda se manteve no patamar de US$ 15 c/lb.

Também repercutem as preocupações com a demanda no mercado. "Essa pandemia está fazendo com que a gente tenha que repensar todo tamanho do consumo global e qual será a extensão real de sua queda, já que o açúcar está em todos os produtos industrializados", disse o Corrêa.

Navio encalhado no Canal de Suez - Março 2021

Foto: Reuters

GRÃOS

Para os grãos, os impactos do bloqueio do Canal de Suez quase não pode ser sentido, principalmente na soja e no milho. Como explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, os navios graneleiros já quase não passam mais pela rota devido aos altos custos. "Só navios de alto valor agregado, como o Ever Given", diz. 

E para que a alta dos preços do petróleo impactasse o mercado de grãos ela teria que ser mais intensa, segundo o analista de mercado Luiz Fernando Gutierrez, da Safras & Mercado. 

"Impacto é muito pequeno para os grãos, até pelo fluxo comercial de grãos - maior entre Brasil, Estados Unidos, China, que não passa por ali - então, sem impactos diretos. Talvez indiretos se o petróleo puxar mais os grãos, mas o impacto é muito pequeno", afirma. 

Com informações da Bloomberg, Reuters Internacional e Lloyd's List

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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