Que momento é este para o produtor de soja? Diante de preços recordes, analistas respondem

Publicado em 05/05/2021 18:35

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O mercado brasileiro da soja passa por um momento, mais uma vez, de redefinição de estratégias. Há cerca de 30% ainda da sara velha para ser comercializada e o produtor já vem registrando preços ligeiramente menores nestes últimos dias se comparados aos últimos meses. 

Na nota trazida na última segunda-feira (3), o Cepea mostrou o recuo dos indicativos e seus pesquisadores explicaram que parte desta pressão veio da desvalorização do dólar frente ao real. Do dia 5 de abril a 4 de maio, a moeda americana acumula uma baixa de 3,89%, passando de R$ 5,66 para R$ 5,44. 

Ajudando a pesar sobre os preços se dá uma demanda interna menos intensa agora, ainda de acordo com o Cepea. "Neste caso, muitas indústrias trabalham com a oleaginosa já contratada, enquanto outras unidades do Sul do País indicam importar a matéria-prima do Paraguai", explica a instituição. 

No contraponto, a demanda externa é o principal fiel da balança para os preços da soja neste momento e, ainda de acordo com o Cepea, pilar importante para conter as baixas recentes. Em abril, o Brasil embarcou 17,4 milhões de toneladas da oleaginosa, registrando seu recorde mensal e superando as expectativas do mercado. 

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O que, todavia, ajuda também a conter o ímpeto dos preços e as cotações registrarem valores ainda mais elevados do que aqueles que são atualmente observados se dão pelos prêmios pressionados no país. As posições mais próximas de entrega da soja nos portos, como junho e julho, ainda carregam prêmios negativos na ordem de 10 a 15 cents de dólar, como explica Ginaldo de Sousa, diretor geral do Grupo Labhoro.  

Ainda assim, mesmo com todas estas variáveis, os preços da soja no interior do Brasil acumulam, em praças importantes de comercialização, um ganho de quase 20% no ano. De 4 de janeiro a 4 de maio de 2021, Não-Me-Toque/RS teve alta de 17,99% passando de R$ 139,00 para R$ 164,00 por saca; Cascavel/PR, 14,18% de R$ 141,00 para R$ 161,00; Rondonópolis/MT 13,93% de R$ 150,00 para R$ 170,90; São Gabriel do Oeste/MS, Rio Verde/GO e Luís Eduardo Magalhães/BA, alta de 17,86% de R$ 140,00 para R$ 165,00 por saca. 

Os níveis atuais são recordes e muito remuneradores para os produtores em todas as regiões produtoras do Brasil. 

No mesmo período, o dólar subiu 3,03%, passando de R$ 5,28 a R$ 5,44. No entanto, a alta acumulada do contrato maio/21 da soja negociada na Bolsa de Chicago foi de 20,29%, com a posição disparando de US$ 13,11 para US$ 15,77 por bushel, tendo superado os US$ 16,00 em determinados momentos deste intervalo. Somente nesta quarta-feira, os futuros da oleaginosa subiram entre 5 e 19,50 pontos, com altas mais expressivas nos vencimentos mais distantes. O julho/21 fechou o dia com US$ 15,42 e o novembro/21 com US$ 13,82 por bushel.  

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Diante de todas estas informações, de um cenário global oferta e de demanda muito apertado, de projeções de uma safra apenas regular vindo da temporada 2021/22 dos Estados Unidos, pleno weather market e o produto brasileiro sendo, ao menos por agora, o mais barato do mundo ao passo de que a China está com o pé no freio nas compras, que momento é este para o produtor brasileiro de soja?

Camilo Motter, Granoeste Corretora de Cereais

"Vamos viver um período de muitas oscilações. O comportamento do produtor tem sido de cautela. O mercado está bastante travado, com poucos lotes sendo ofertados. Houve grande volume, mais de 50% da safra foi vendida de forma antecipada. O produtor conta com boa capitalização e agora quer espaçar sua participação ao longo da temporada e, acredito, aproveitar eventuais rallies climáticos durante a evolução da safra norte-americana", explica Camilo Motter, economista e analista de mercado da Granoeste Corretora de Cereais.  

E sobre este comportamento, Motter complementa dizendo que "o fato de o produtor vir com pouco volume a mercado indica que ele aguarda preços mais atrativos pela frente. Se isso vai acontecer ou não é outroa história. As decisões sobre venda de soja também, em parte, são afetadas pela deterioração crescente das condições climáticas nas áreas de milho safrinha", complementa. 

Luiz Fernando Gutierrez, Safras & Mercado

"O momento é muito favorável, com preços muito elevados, testando até mesmo novos recordes em algumas praças nas últimas semanas. Chicago está muito sustentado, com fundamentos que ajudam nesse movimento, como os estoques americanos muito baixos e o USDA podendo revisá-los para baixo em seu relatório da semana que vem", explica Luiz Fernando Gutierrez, analista da consultoria Safras & Mercado. 

Mais do que isso, Gutierrez ainda destaca a influência do clima nos EUA e ainda o mercado "tentando antecipar problemas futuros agora em Chicago".  Assim, essa valorização em Chicago e mais o câmbio formam uma relação que compensa os prêmios negativos nas primeiras posições. 

"Acho que o produtor que ainda não aproveitou tem que aproveitar, sempre lembrando que para o segundo semestre vai depender destes fatores (para Chicago) e o mercado será mais sensível ao clima este ano em função dos baixos estoques. As oportunidades podem sim aparecer no segundo semestre, mas é preciso cuidar também o câmbio, que pode estar mais baixo e pode não ajudar tanto a formação do preço", diz. 

Há ainda a demanda forte, com "a China comprando tudo o que pode do Brasil até agosto". Então, "embora não acredito que tenhamos estoques tão baixos quanto os do ano passado, existe a possibilidade de termos preços ainda mais altos no segundo semestre por conta de uma oferta menor, Chicago firme, câmbio relativamente bom e prêmios que naturalmente são melhores no segundo semestre. O momento é muito bom, os preços são excelentes, quem vendeu pouco deveria avançar um pouco mais, cada um sabendo até onde pode avançar", orienta o analista. 

Matheus Pereira, Pátria Agronegócios

"O mercado brasileiro da soja passa agora por um momento de muito cautela. Muita cautela para quem vive e muito ímpeto para quem compra", relata Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios, trazendo para o cenário o desequilíbrio que se registra entre a oferta e a demanda.

Até que a nova safra de soja norte-americana não seja conhecida realmente pelo mercado e permitindo que se conheça seu impacto para este movimento de reequilíbrio. E quaisquer indicativos de perdas na nova temporada   dos EUA serão novos gatilhos de alta para as cotações. 

"Sabemos que os preços da soja em reais por saca estão em patamares recordes, mas como esse novo viés de alta, principalmente, com o viés de alta em Chicago. Assim, em linhas gerais, o momento para o produtor rural brasileiro é de paciência. Em contrapartida, para os compradores que deixarem para realizar negócios mais tardiamente podem ficar a mercê de um mercado com preços ainda mais altos. 

Marcos Araújo, Agrinvest Commodities

Na análise de Marcos Araújo, da Agrinvest Commodities, a demanda é o principal ponto de atenção para a formação dos preços e para o comportamento do produtor brasileiro. 

"Temos uma grande liquidez de soja, mas momentos de menos aquecimento como por exemplo esse momento para a China, com margens negativas, ou aqui no Brasil essa revisão da mistura do biodiesel. Mas, trabalhamos com exportações de 87 milhões de toneladas e, confirmadas, faria os estoques finais em dezembro ficarem em 1 milhão de toneladas. O produtor tem um ouro produzido no solo brasileiro que é o ouro", diz. 

Araújo acredita ainda que os melhores preços para a soja brasileira se dando ainda no primeiro semestre do ano, olhando para a diferença dos valores dos contratos mais próximos e os mais distantes em Chicago, estes últimos quase US$ 2,00 mais baixos, e a trajetória intensa e volátil que o dólar poderia vir a fazer. 

O que poderia compensar a relação são os prêmios, que são melhores nos meses a frente. "Da safra para cá, os preços da soja subiram mais R$ 15,00 por saca.  Entre fevereiro e março, a soja liquidava no porto a R$ 165,00, hoje para agosto são R$ 187,00/saca", informa o analista. 

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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