Safra cheia garante fôlego à ração em 2025 enquanto clima e etanol redesenham o próximo ciclo
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Após um ciclo marcado por volatilidade nos preços dos grãos e recordes de produção agrícola, o setor de ração animal encerra 2025 com fundamentos mais equilibrados, mas atento a riscos que podem ganhar força em 2026. Em cadeias altamente dependentes do milho e do farelo de soja, como a avicultura, suinocultura e pecuária de corte intensiva, o custo da alimentação segue como o principal fator de competitividade — e também de pressão sobre as margens.
Na avicultura, especificamente, a ração representa a maior parcela do custo de produção. Em 2025, esse item voltou ao centro das atenções diante das incertezas climáticas, da oscilação dos preços do milho ao longo do ano e do avanço estrutural de novas demandas pelo cereal, como o etanol de milho.
Segundo avaliação da Scot Consultoria, apesar dos momentos de tensão no mercado ao longo de 2025, as margens da avicultura foram consideradas satisfatórias quando analisada a relação de troca entre o frango vivo e o milho. O comportamento dos preços permitiu maior equilíbrio financeiro ao produtor, especialmente quando comparado a ciclos recentes marcados por custos mais elevados e menor previsibilidade.
O Itaú BBA reforça essa leitura ao apontar que, até o momento, o cenário de custos de ração para 2026 permanece favorável. A expectativa é de manutenção de preços relativamente controlados dos principais grãos, o que tende a sustentar a rentabilidade do setor. No entanto, o banco alerta para um ponto de atenção relevante: o atraso das chuvas nas principais regiões produtoras, que comprometeu parte da janela ideal de plantio do milho safrinha.
“Parte das áreas ficou fora da janela ideal de plantio, o que pode comprometer o potencial produtivo, a depender das condições climáticas nos próximos meses, e exercer pressão sobre as cotações do cereal”, destaca o Itaú BBA.
Mesmo assim, o cenário-base projetado indica custos sob controle e margens positivas para a avicultura em 2026. A leitura é sustentada pela expectativa de demanda doméstica firme, impulsionada pela competitividade da carne de frango frente a outras proteínas, além da perspectiva de retomada e ampliação das exportações após um período de ajustes no comércio internacional.
O Rabobank, por sua vez, adiciona um componente extra de risco ao horizonte. Embora aponte preços favoráveis para a ração, o banco chama atenção para os efeitos climáticos associados ao fenômeno La Niña, que podem impactar a produtividade dos grãos e aumentar a volatilidade dos preços do milho e da soja. Além do impacto direto sobre os insumos, eventos climáticos adversos podem comprometer a logística, o alojamento de aves, a produção de pintinhos e o fluxo de abates, especialmente na região Sul, uma das mais relevantes para a avicultura nacional.
Na avaliação do presidente da Associação Paulista de Avicultura (APA), Erico Pozer, ainda é cedo para projetar uma quebra significativa na safra de milho, apesar do sentimento de maior cautela no setor. Segundo ele, o desempenho da safra 2024/25 foi bastante positivo, o que traz conforto no curto prazo. No entanto, Pozer ressalta que o comportamento dos preços do milho depende não apenas do cenário doméstico, mas também do mercado internacional.
“Eventuais restrições na oferta interna precisam ser analisadas junto com o desempenho de grandes produtores globais, como Argentina e Estados Unidos, que influenciam diretamente a formação dos preços no Brasil”, afirma.
Pozer destaca ainda que, mantendo níveis de produção ajustados, a avicultura consegue absorver aumentos pontuais nos custos da alimentação sem grandes impactos ao consumidor final. Isso ocorre, segundo ele, porque as maiores margens da cadeia estão concentradas no varejo, o que reduz a sensibilidade do consumo às oscilações de preço do frango.
Além dos fatores conjunturais, um ponto estrutural tende a ganhar ainda mais peso nos próximos anos: a concorrência interna pelo milho. O avanço da produção de etanol a partir do cereal é visto como um dos principais vetores de mudança no mercado de ração. Embora parte do milho utilizado nas usinas retorne à cadeia na forma de coprodutos, como DDG e WDG, trata-se de um grande consumidor do grão, com potencial de absorver mais de 20 milhões de toneladas em 2026.
Na pecuária, esse movimento já começa a redesenhar estratégias nutricionais. Os custos de produção seguem fortemente atrelados ao milho, especialmente em sistemas intensivos. Na suinocultura, por exemplo, a alimentação pode representar até 80% do custo total. Diante desse cenário, cresce o uso de coprodutos como alternativa para mitigar a pressão dos custos, com destaque para os grãos secos de destilaria (DDG), que combinam elevado teor proteico e fibra digestível.
A produção nacional de DDG deve alcançar cerca de 5 milhões de toneladas em 2026, ampliando sua disponibilidade no mercado. Em regiões com forte presença de usinas de etanol de milho, como Mato Grosso, o avanço desse insumo tende a aliviar parte da pressão sobre os custos da alimentação animal.
Ainda assim, desafios permanecem. Nas cadeias integradas, como avicultura de corte e suinocultura, despesas com energia elétrica, aquecimento das granjas e mão de obra seguem em patamares elevados. O reajuste médio de 11,5% no custo da energia elétrica anunciado pela Aneel para 2026 adiciona mais um elemento de atenção à estrutura de custos do setor.
O balanço de 2025 mostra que, mesmo diante de recordes e volatilidade no mercado de grãos, o setor de ração conseguiu sustentar margens e atravessar o ano com maior previsibilidade. Para 2026, o ambiente segue positivo, mas exige gestão rigorosa de riscos, atenção ao clima e leitura estratégica do mercado agrícola.
Em um cenário cada vez mais interligado entre agricultura, energia e proteína animal, a capacidade de antecipação e planejamento será decisiva para que produtores e indústrias consigam preservar margens e aproveitar as oportunidades que se desenham no próximo ciclo.
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