Fatores imponderáveis na corrida eleitoral, por FERNANDO RODRIGUES

Publicado em 20/10/2010 06:13

As novas pesquisas de opinião nesta semana dirão se Dilma Rousseff (PT) de fato estancou sua sangria de votos. Mesmo que a petista se distancie um pouco de José Serra (PSDB), parece haver um consenso entre os analistas dos dois lados da disputa: esta será uma eleição parelha.
Esse diagnóstico pode até estar errado. Mas petistas e tucanos estão escaldados. Ninguém se arrisca a fazer previsões arrojadas. Vários fatores imponderáveis na atual conjuntura impedem prognósticos peremptórios e definitivos.
Para começar, esta é a disputa presidencial mais sem emoção da história do Brasil. Muitos eleitores votam contra, e não a favor. A neutralidade do PV e o "voto crítico" em Dilma recomendado pelo PSOL são prova desse estado de criogenia geral. O clima morno não favorece uma avalanche de apoio apenas para um dos lados.
Outro aspecto já citado pelos partidos é o fato de o segundo turno cair no meio de um feriado prolongado. O Datafolha apurou que 52% dos eleitores costumam viajar em ocasiões assim. Não se sabe se por civismo ou por constrangimento, só 2% adiantaram ter a intenção de viajar e não votar.
Ainda que o percentual dos viajantes seja pequeno, eles podem fazer a diferença numa eleição apertada. O senso comum indica José Serra como o maior prejudicado, pois seus eleitores são de estratos sociais mais propensos a aproveitar feriados para sair de casa.
Já Dilma sofre com o diminuto número de eleitores que votam para governador no segundo turno: só haverá esse tipo de disputa em nove localidades, envolvendo apenas 14% do eleitorado. Ou seja, a massa de militantes pró-governo encontra-se desmobilizada.
Tudo junto e misturado, o cenário contém muitos elementos inescrutáveis. Exceto se algum fato imprevisível ocorrer, mesmo Dilma sendo favorita, a sucessão tende a ficar em suspenso até o dia 31.


Nosso projeto, minha história, por FERNANDO DE BARROS E SILVA

Os debates entre Dilma Rousseff e José Serra tendem a ser provas de resistência à paciência do espectador. Protegidos por regras que restringem ao máximo a participação de jornalistas e reduzem ao mínimo a exposição a questões e temas espinhosos, os candidatos travam duelos marcados por uma enorme chatice tecnocrática.
Quem, no entanto, consegue atravessar o mar de números, siglas e promessas cruzadas, até chegar às famigeradas "considerações finais" de cada um, pode notar que existe, sim, uma diferença fundamental entre a petista e o tucano: Dilma se despede como aquela que "representa" o "nosso projeto", referindo-se ao governo Lula, do qual é uma peça, ou a protagonista acidental; Serra, por sua vez, conclui oferecendo ao eleitor a "minha história de vida" -biografia, valores, trajetória político-administrativa.
No caso de Dilma, o "nós" ocupa o primeiro plano -este é o seu trunfo e o biombo atrás do qual ela procura esconder suas vulnerabilidades. No caso de Serra, o "eu", inflado, toma a frente da mensagem política, ou se confunde com ela, como quem dissesse "la garantia soy yo", o resto se ajeita depois.
Dito de outra forma: a candidatura de Dilma é maior que a própria candidata, enquanto o candidato Serra é maior que a sua candidatura. Mas não apenas isso.
Caso se confirme o favoritismo petista, ninguém sabe ao certo, nem a própria Dilma, o que será do "projeto" quando Lula sair de cena. A campanha de Dilma celebra o presente, muito mais do que aponta soluções para o futuro.
Mas, com Serra, poucas vezes o país assistiu a uma campanha tão marcadamente personalista, o que, por ironia, o aproxima da tradição populista, que os tucanos -"técnicos", "racionais"- tanto gostam de criticar. Serra, com sua egotrip, sempre acreditou que poderia chegar à Presidência sem assumir compromissos com ninguém; desobrigou assim os aliados de assumirem qualquer compromisso com ele.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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