Trigo de Mato Grosso é um dos melhores do mundo
Com força de glúten igual a 349 graus joules (J) - que mede a qualidade do produto -, os grãos plantados em áreas irrigadas no município de Lucas do Rio Verde (a 360 quilômetros ao norte de Cuiabá) superaram o índice de “trigo melhorador”, que é igual ou acima de 300 graus J. A descoberta, bastante comemorada por alguns produtores e, em especial, pelo engenheiro agrônomo e pesquisador da Empresa Mato-grossense de Extensão Rural (Empaer), Hortêncio Paro, começa a ser vista como um estímulo ao aumento da produção. Paro, que há quase 30 anos se dedica ao aumento da produção local, diz que esse resultado significa que o Estado tem um grande potencial para a cultura do trigo.
Se pode produzir a melhor farinha, o Estado precisa mostrar que o plantio é compensador como forma de incentivar a produção. Mês passado, Paro coordenou uma reunião no município de Sorriso (a 460 quilômetros ao norte de Cuiabá), na qual participaram produtores, pesquisadores e representantes do moinho de trigo Belarina, que acaba de ser reativado em Cuiabá. A idéia de Hortêncio Paro é de que haja uma parceria entre o moinho, o único do Estado, e os produtores, casando produção com a indústria processadora dos grãos.
O engenheiro agrônomo do Banco do Brasil, José Vilmar Costa, informou aos membros da Câmara Técnica que a instituição dispõe de linha de crédito, com juros de 6% ao ano, para a industrialização dos grãos.
Paro está planejando ir à Brasília no próximo dia 18, participar de uma reunião em busca de um projeto de incentivo à produção de trigo em áreas de fronteira, como Mato Grosso, além de iniciar uma discussão sobre a necessidade de se estabelecer preço mínimo para o saco de trigo. A Seder também está aguardando para dezembro, a participação do presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa na Agricultura (Embrapa), Sérgio Dotto, em uma reunião da Câmara Estadual do Trigo. A expectativa é de que Dotto anuncie investimentos para pesquisas nessa cultura no Estado para 2011. O mesmo é esperado da Fundação de Pesquisa de Mato Grosso (Fapemat).
NÚMEROS - Conforme Paro, ano passado o Estado plantou menos de 300 hectares de trigo. A maior lavoura era de Lucas do Rio Verde, da fazenda Três Pinhais, com 242 hectares irrigados. Mas para um Estado que consome 10 toneladas de farinha de trigo ao mês, a área plantada não atende à 5% da demanda.
Já em Alto Taquari (município a 479 quilômetros ao sul de Cuiabá), um triticultor cultivou 30 hectares de trigo de sequeiro. Em 2008, ele plantou mais de 180 hectares. A produtividade das terras mato-grossenses varia entre 60 a 80 sacas de trigo por hectare. O custo de produção de R$ 1,7 mil por hectare, o trigo é comercializado entre R$ 34 e 35 o saco de 60 quilos, gerando um lucro que varia entre 22% e 25% para o produtor.
SABOR MT - Ao final da reunião, o Moinho Belarina ofereceu um café da manhã com produtos feitos com farinha de trigo mato-grossense, processada a partir de grãos da lavoura de Lucas do Rio Verde. No cardápio, torta, esfirra, coxinha, quibe e outros salgadinhos.
Márcio Rúbio, coordenador administrativo do moinho, explicou que a industrialização de trigo foi retomada há um ano, precisamente em novembro de 2009. Entretanto, a indústria continua ociosa, operando com menos de 30% de sua capacidade. Com capacidade para processar 3 mil toneladas ao mês, desde que voltou a funcionar recebeu somente 8 mil toneladas vindas de estados como Rio Grande do Sul, Paraná e do Paraguai. O Belarina é o antigo Moinho Mato Grosso, que existe desde 1986, que por causa da baixa produção de trigo foi fechado e desativado pelo menos três vezes. Agora, na tentativa de mantê-lo em operação, além de adquirindo o grão de outros estados seus novos donos estão introduzindo a farinha branca, integral e outros derivados nos atacadistas e redes de supermercados da Grande Cuiabá.