Acordo da dívida dos EUA não tranquiliza China, principal credor
"Embora os Estados Unidos tenham evitado a moratória, os problemas de sua dívida soberana seguem sem ser resolvidos, já que só foram adiados para depois", disse o diário porta-voz do Partido Comunista da China em um editorial.
O jornal também assinalou que o problema do endividamento "gerou uma nuvem de incerteza sobre a recuperação da economia americana e aumentou os riscos enfrentados pelo sistema econômico mundial".
A empresa de classificação de riscos Standard & Poor's advertiu que pode rebaixar a qualificação da dívida dos EUA mesmo com o acordo, o que afetaria a China, principal compradora de bônus americanos, com um total de US$ 1,16 trilhão.
"Não se pode descartar a possibilidade de uma baixa na qualificação da dívida se Washington não alcançar um equilíbrio a longo prazo para seu endividamento", disse Chen Daofu, diretor do Centro de Pesquisas Políticas do Conselho de Estado da China, em declarações ao oficial China Daily.
A instabilidade que a questão da dívida pode gerar no dólar também é vista com preocupação na China, já que esta moeda representa 70% de seus 3,2 trilhões de reservas de divisas.
Chen advertiu que buscar alternativas de investimento para as reservas chinesas e mudar a composição destas "é um desafio crucial para os conselheiros políticos em Pequim", embora para o Diário do Povo o dólar "continue sendo uma moeda firme que todos os países devem aceitar, embora não queiram".
Mesmo após aprovação de acordo, China aumenta pressão sobre EUA
A China aumentou sua pressão sobre os EUA nesta terça-feira, pedindo pela resolução dos desafios fiscais do país, mesmo após a Câmara de Representantes americana ter aprovado ontem o acordo para elevar o teto de endividamento e evitar um possível default.
Um editorial do People’s Daily, o jornal oficial do Partido Comunista chinês, afirma que os EUA ainda estão longe de resolver seus problemas de dívida soberana e que esses problemas poderão piorar ao longo do tempo. “Essa questão prejudica a recuperação econômica e representa riscos ainda maiores para a economia global”, diz o editorial.
O jornal prossegue afirmando que o endividamento dos EUA resulta de políticas de estímulo econômico e acrescenta que essas medidas não podem resultar em alteração dos fundamentos da recuperação econômica, já que a taxa de desemprego segue elevada e as estruturas subjacentes continuam as mesmas.
O jornal publicou também um artigo do pesquisador Li Xiangyang, da Academia Chinesa de Ciências Sociais, no qual o estudioso aponta que os EUA podem escolher depreciar o dólar para resolver problemas econômicos. Portanto, argumenta ele, é necessário que a China reduza a proporção de ativos em dólar que possui e diversifique suas reservas.
Estima-se que até 70% do total de US$ 3,197 trilhões que a China possui em reservas, as maiores do mundo, sejam ativos americanos. O país detém mais de US$ 1 trilhão em títulos do Tesouro americano.