Governo poderá antecipar a baixa dos preços do trigo antes da próxima colheita

Publicado em 05/08/2011 07:49
Lendo os comentários sobre as poucas vendas do leilão da última quarta-feira, chamou-nos atenção duas coisas: a) a intenção do governo era se desfazer dos estoques antigos para fazer caixa a fim de adquirir produto novo da safra nova; b)  o próprio superintendente regional da Conab, Carlos Manoel Farias admite que o problema foi o preço alto.  Conclusão óbvia: haverá outros leilões, mais na boca da safra, a preços mais baixos.

E o que significa isto?

Significa que os preços do trigo, que vinham se mantendo em patamares acima do Preço Mínimo, poderão cair mais rapidamente e antes do que se imaginava. Normalmente é a pressão da oferta na safra que derruba os preços, mas possíveis novos leilões ou aumento de volumes dos leilões já programados a preços mais baixos, poderão jogar os preços do mercado para baixo. Devemos lembrar-nos que: 1) a indústria moageira está estocada, até porque as vendas de farinhas estão reduzidas; 2) o trigo ofertado é de duas ou três safras passadas, de modo que a qualidade não é inteiramente confiável; 3) estamos na iminência da colheita de trigo pão, novo, aparentemente de boa qualidade, em setembro, no Paraná. Por tudo isto, por que um moinho iria pagar mais caro, ou mesmo, o mesmo preço que o mercado normal, por trigo velhíssimo?
O tiro da Conab atingiu o pé e provocou sérios danos.

Fugir pra onde?

A cotação de setembro/11 do trigo brando negociado no mercado futuro de Chicago fechou a $ 681,75 nesta quinta-feira, em baixa de 28,75 cents/bushel.  No comparativo com a última sexta-feira, a $ 672,50, porém, a alta ainda é de 9,25 cents. A principal razão é a forte competição da Rússia. Nesta manhã o Egito comprou mais 240 mil toneladas de trigo da Rússia e da Romênia, depois de uma licitação em que o melhor preço americano foi US$ 273/ton e os russos ofertaram US$ 261, 94 e US$ 262,50, cerca de 11,5 dólares a menos por tonelada, onde um dólar costuma fazer a diferença. "Não podemos competir com isto" foi a expressão dos traders americanos, que acusam os russos de "dumping", isto é, uso de subsídio governamental para baixar artificialmente os preços. Há um temor de que os objetivos anuais de exportação de trigo do USDA não sejam atingidos por causa disto, o que significa que poderá haver aumentos de estoques internos nos EUA e consequente redução de preços. Diante deste cenário os exportadores americanos não estão nada otimistas.

Um segundo fator foi o pânico que tomou conta dos mercados mundiais diante dos sérios problemas que estão afetando as economias americana e européia.  Estados Unidos e Europa estão com sérios problemas financeiros e isto deve provocar diminuição da demanda de um modo geral. A reação é desfazer-se dos contratos de commodities, que podem ser afetados e correr para o dólar. O dólar? Mas, é justamente ele que está fraco. Isto vai ser um problema daqui para frente. Qual a alternativa: ouro? Não tem suporte para amparar o conjunto das economias mundiais (hoje também caiu 0,6%). Então, fazer o quê?

Uma coisa é certa: os dois motivos afetam diretamente a demanda, fazendo os preços caírem, obviamente.

Mas, há outros fatores positivos no mercado. A produtividade menor do que a esperada na safra de trigo de primavera dos Estados Unidos e problemas com as safras de trigo da Alemanha, Polônia e alguns outros países da Europa. Além disso, os números da exportação semanal de trigo americano foi de 504,1 mil toneladas, acima do esperado pelo mercado e acima da média necessária de 470 mil toneladas para se atingir os objetivos anuais de exportação do USDA.

INDICAÇÕES TÉCNICAS
Do ponto de vista técnico, o suporte a 688,25 foi rompido, mas ficou longe do segundo suporte a 647. Todos sabemos que os atores fundamentais tem mais força que os fatores técnicos. Mas, com muitos fatores fundamentais ainda positivos, como vimos acima, é de se esperar que possa haver uma inversão para cima na sessão de sexta-feira.

Bastidores de uma batalha pela venda de trigo
Além da grande batalha entre americanos e russos pela disputa da licitação de 240 mil toneladas apresentada pelo Egito nesta sexta-feira, houve uma outra batalha entre vizinhos do Mar Negro, vencida pela Romênia. Com oferta agressiva a Romênia venceu a Rússia, fincando seu pé no cobiçado mercado de 10 milhões de toneladas importadas anualmente pelo Egito. Com preços menores ainda do que os apresentados pela Rússia e representada pela alemã Toepfer (coligada da americana ADM) a Romênia conseguiu abocanhar uma parte considerável de 60 mil toneladas e fincar pé neste mercado importante.

Venda agressiva
A vitória na licitação desta sexta-feira foi o resultado de um processo iniciado antes da suspensão dos fornecimentos de trigo pelos países do Mar Negro em agosto de 2010, quando representantes do GASC-empresa estatal de compras do Egito, instruiu os romenos de que deveriam pisar com mais cuidado no comércio da região.

Seguindo o conselho, a Romênia conseguiu uma vitória inicial em uma licitação de 150 mil toneladas na Jordânia com a ajuda de uma família libanesa de comerciantes internacionais, familiarizada com a dinâmica de negócios da região. O preço oferecido ao GASC foi cerca de 185 euros, segundo fonte oficial, “o que parece ser uma venda bem agressiva”, concluiu.

Divergência de preço

Contudo, a vitória da Romênia também refletiu um aumento de mais de US$ 12/tonelada em relação à oferta anterior do trigo russo, feita na semana passada. Os russos estão pressionando os preços pagos aos seus agricultores para poderem oferecer preços baixos nas suas licitações internacionais. Os preços domésticos do trigo tipo 4 para moagem, que é o normalmente usado para exportação, caiu abaixo dos 4.650 rublos (US$ 165) por tonelada na parte européia da Rússia, de acordo com a consultoria SovEcon.

Os preços foram pressionados pelo período de colheita e houve um clamor dos fazendeiros, cujas finanças pessoais estão enfraquecidas pela seca do ano passado e pelos empréstimos tomados para poder fazer o plantio de outono.

O aumento dos preços de exportação do trigo russo também mostrou a redução do seu desconto para o fornecimento europeu para pelo menos 17 dólares/tonelada, dos 40 dólares anteriores. Mesmo assim, o desconto permanece maior do que os níveis históricos.
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Fonte:
Trigo & Farinhas

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