Feijão-preto perde espaço nas lavouras produtoras
Em Vila Progresso, interior de Arroio do Tigre, o produtor Vanderlei Limberger está com as sementes de feijão-preto estocadas no galpão. No entanto, ainda não sabe se irá semear mais do que quatro hectares na próxima safra. Aos 58 anos, a maioria deles destinada ao plantio do grão, ele se diz desanimado. “Já passamos por muitas crises, mas nenhuma se compara à atual.” O preço baixo, aliado aos altos custos com mão de obra e insumos, gera preocupação.
Além do problema da remuneração, muitos produtores esbarram na dificuldade de venda. Limberger entregou boa parte do feijão safrinha para a Conab, mas até hoje não recebeu. Para piorar, a cooperativa local passa por dificuldades e só compra diante da garantia de mercado. Com a ajuda da esposa Mara e dos filhos Marlon e Natacha, ele segue no interior apostando na diversificação.
Arroz e feijão
Em abril o governo do Estado lançou o programa Feijão com Arroz, que tem a meta de ampliar o consumo dos dois grãos. Com essa política, a expectativa é reverter o quadro de queda na área plantada, na safra e no consumo do arroz e do feijão constatada nos últimos anos. A proposta é reorganizar as cadeias produtivas. O presidente da Associação dos Produtores de Feijão do Rio Grande do Sul (Aprofeijão), Tarcísio Ceretta, diz que alguns dos desafios das entidades são a criação da câmara setorial do feijão e a garantia do preço mínimo, com consequente aumento de renda.
Crise também atinge cooperativa
A Cooperativa Tritícola de Espumoso Ltda. (Cotriel) também sente os reflexos da crise no setor. Na unidade de Arroio do Tigre, que funciona na estrutura da Comacel, o gerente Luiz Gustavo Bartz destaca que as compras acontecem somente quando há garantia de mercado. Na existência de demanda, a cooperativa compra o produto dos agricultores locais, empacota e vende a supermercados. “Os negócios estão baixos e devagar”, comenta. Além disso, outro problema é o atual estoque. São 4 mil sacos de feijão apenas de Arroio do Tigre. “Temos elevados custos de manutenção.” Como os grãos são altamente perecíveis, é preciso fazer expurgos e descontaminações constantemente. “Não conseguimos vender o feijão velho e não temos condições de comprar o feijão novo”, conta. Para piorar o problema, o cereal foi comprado em um breve momento de alta no início do ano passado, mas com as cotações atuais em torno de R$ 60,00 a saca, as vendas representam prejuízo.