Mercado de açúcar: O CUBO DE NECKER

Publicado em 21/02/2012 18:40


O mercado de açúcar em NY fechou a semana praticamente sem alteração em todos os meses de pregão. Os vencimentos março e maio fecharam com variação negativa de 3 e 5 pontos, respectivamente. Comparativamente ao último pregão do ano passado março já ganhou 5,8%, os demais meses variaram positivamente entre 2,7% e 4,9%. No físico, muita dificuldade de se encontrar comprador. Enfim, nada acontece que mereça destaque.

O mercado comenta fortemente sobre os rumores de que empresas estrangeiras recém-chegadas ao setor estariam de malas prontas para voltar aos seus países de origem. Uma delas, inclusive, teria a decisão já sacramentada pela matriz. Esse horror de coisas é o reflexo da total falta de transparência por parte do governo somada à sua assombrosa inaptidão em criar uma política energética que seja coerente. Ninguém consegue conviver harmoniosamente com situações de intervencionismo que destroem a capacidade do administrador de planejar a médio e longo prazo e dificultam as explicações aos acionistas estrangeiros do que é o ambiente brasileiro no qual mudanças ocorrem ao gosto dos humores palacianos. 

O ex-presidente da estatal brasileira do petróleo disse em entrevista na semana passada a um jornal de São Paulo que “a atual defasagem de preços entre os derivados de petróleo no mercado externo e interno é insustentável”. Dissemos nesse espaço, por dezenas de vezes, que é absurda a política do governo em manter controlados, desde setembro de 2005, os preços da gasolina enquanto no mercado internacional eles oscilam. Isso faz com que o Brasil compre derivados de petróleo no exterior pagando um preço muito mais alto do que o que obtém ao abastecer o mercado interno. Quem paga a conta são os pequenos acionistas de um lado e o setor sucroalcooleiro do outro. A cana disputa ingloriamente entre o açúcar, commodity livre no mercado internacional, e o etanol, cujo preço limita-se a 70% do valor da gasolina controlado/congelado pelo governo. Essa política vai matar o setor e espantar os investidores. E isso num mercado cujo consumo de combustível cresce 3 bilhões de litros por ano. É lamentável.

Mudando de assunto, a posição de contratos em aberto em NY subiu. Depois de atingir seu ponto mais baixo no final de setembro do ano passado, com 465.556 contratos, volta agora aos 700.000 contratos. Esse crescimento percentual de mais de 51% é muito significativo. A última vez que isso ocorreu no mesmo período de tempo foi em fevereiro de 2008. E de todas as outras vezes em que isso também ocorreu, fevereiro foi o mês escolhido, o que indica que readequação de portfolio por parte dos fundos pode ter dado esse tom ao mercado. Das commodities agrícolas, a variação de preço do açúcar este ano pode ser considerada tímida ainda. Ou seja, se os fundos estiverem com apetite há ainda muito espaço.

Um experimentado trader tece comentário por e-mail sobre o nosso último relatório que “o mercado futuro normalmente olha seis meses adiante e nunca vai refletir as teorias que as pessoas estão criando agora”. E dispara: ”o consenso apenas nos mostra onde a maioria das pessoas está posicionada, e você pode usar isso para tirar dinheiro delas. A 20 centavos de dólar por libra-peso e dólar a R$ 1,60 – o que seria um desastre para o setor - eu montaria uma gorda posição comprada ao longo da curva de 2013 e sentaria sobre ela”. Concordo.

Os cientistas afirmam que o cérebro humano simula uma imagem que pode ser diferente daquilo que estamos efetivamente enxergando. Quando o nosso software interno não entende a imagem que trafega pelos nervos óticos, o cérebro trata de adequá-la. Ou seja, o cérebro tenta compensar a ausência de pistas de perspectiva daquela imagem e completa a forma. As ilusões de ótica são assim e o Cubo de Necker é um exemplo dessa imperfeição. O cérebro interpreta o cubo como uma ilusão, uma imagem ambígua. Com o mercado, parece ocorrer algo semelhante. 

Olhamos em nossa volta e absorvemos os fundamentos que estão aí, disponíveis para todos, e ainda assim o nosso software interno adapta as lacunas (informações incompletas da Índia, Tailândia, falta de transparência do governo, crise mundial, etc.) e as ausências de pistas (clima, tamanho de safra, produtividade) e cria o cenário dentro de nossas cabeças. Os cérebros pensantes do setor estão vendo um cenário de baixa, embicando para a vizinhança de 22 centavos de dólar por libra-peso. Tínhamos perspectiva sombria semelhante em maio de 2010 quando NY batia 13 centavos de dólar por libra-peso e uma horda de traders então apostava que breve o mercado atingiria um dígito. O suíço Louis Necker, que elaborou o cubo que leva seu nome, morreu há 150 anos, mas experimento nunca esteve tão vivo.

Antes de você comprar sua put (opção de venda) de 18 centavos de dólar por libra-peso, um dado interessante: a média de fechamento dos últimos 250 dias é de 26,07; a média de 500 dias é de 24,42 e a de 1.000 é 20,19. Para atingir a média de 18, teríamos que pagar os últimos 1280 dias. A última vez que o mercado negociou abaixo de uma média de 1280 dias foi em dezembro de 2008 quando o mundo estava acabando.

Uma curiosidade contada por uma executiva no setor de bebidas. Qual a cidade com o maior consumo per capita de uísque do mundo? Recife, Brasil. Inacreditável.

O acumulado de exportação de açúcar pelo Brasil nos últimos doze meses (fevereiro de 2011 até janeiro de 2012) é de 25,243 milhões de toneladas com preço médio equivalente a 25,16 centavos de dólar por libra-peso; a exportação de etanol alcançou 1,607 bilhão de litros, cujo preço médio foi US$ 745,73 por metro cúbico.

O Modelo desenvolvido pela Archer Consulting que estima as fixações de preço contra NY para a safra 2012/2013 aponta um volume entre 11,88 e 14,70 milhões de toneladas fixadas ao preço médio de 24,52 centavos de dólar por libra-peso. 

Bom final de semana a todos.

Arnaldo Luiz Corrêa 

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Archer Consulting

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