Especialistas preveem falta de armazéns para 40 milhões de toneladas da safra
Há 13 anos, o Brasil não tem capacidade de estocar toda a safra de grãos que produz. E neste ano, a defasagem atingiu o ponto máximo: com a estimativa de produzir mais de 184 milhões de toneladas, o País só tem capacidade de armazenar 145 milhões de toneladas, ou seja, um déficit de quase 40 milhões de toneladas.
Os problemas de armazenamento agrícola foram debatidos entre representantes do governo, do setor agrícola e deputados, nesta terça-feira (28), na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara.
De acordo com os especialistas, o sistema só não entrou em colapso porque as lavouras de soja e milho não coincidem. Produtores e exportadores reclamaram que a falta de armazéns e silos, além de causar filas de caminhões nos portos, também está tornando o custo brasileiro do transporte da lavoura até o comprador cada vez mais alto: aumentou em quase quatro vezes em oito anos e atualmente está em média 85 dólares por tonelada (cerca de R$ 170), enquanto na Argentina, por exemplo, esse gasto é quatro vezes menor.
Esse valor impacta o preço final do produto, tanto para o consumidor brasileiro quanto para as exportações. "Quem paga o preço da ineficiência é toda a sociedade, mas a maioria do peso fica com o produtor", afirmou o diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Aluisio de Souza Sobreira.
Silos particulares
O Superintendente de Armazenagem da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Lafaiete de Oliveira, destacou outro entrave: dos 17.560 silos e armazéns públicos e privados do País, 76% não podem operar com estoques públicos, usados para regular o abastecimento e preços de produtos. "São problemas técnicos ou fiscais e tributários", explicou.
Para o representante da Associação de Empresas Cerealistas, Roberto Queiroga, outra solução para o entrave seria o governo incentivar a construção de armazéns e silos particulares. "Tem de ser incentivada a armazenagem na propriedade rural. O agricultor tem que ter escolha para onde mandar o produto, se deseja vender na hora ou não. Se tiver só uma opção, ele está lascado, perde renda", afirma.
O deputado Afonso Hamm (PP-RS) assinalou que o governo precisa financiar equipamentos e dar crédito para a construção civil dos armazéns e silos, “porque é preciso incentivar esses locais de estocagem nas próprias fazendas”.
Atualmente, nem 15% dessas estruturas estão dentro das propriedades rurais - a maioria (41,66%) está nas cidades, longe do campo. Em países da Europa, Argentina, Austrália e Estados Unidos o índice de armazenamento nas propriedades é maior que 35%.
O secretário-executivo da Câmara Temática de Infraestrutura e Logística do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Carlos Alberto Nunes Batista, reconhece o problema na armazenagem agrícola. Ele disse que para atender a demanda futura do agronegócio será preciso investir também na diferenciação do transporte da safra, usando mais trens e barcos.
Plano Safra
O deputado Celso Maldaner (PMDB-SC), um dos parlamentares que pediram a realização do debate, anunciou que uma proposta de solução foi apresentada pela área técnica do Ministério da Agricultura à Casa Civil.
Maldaner acredita que a resposta para as demandas do setor pode vir na semana que vem. “Nós estamos convictos de que no dia 4 [de junho] quando a presidente Dilma (Rousseff) anunciar o Plano Safra, em torno de R$ 135 bilhões, ela também vai anunciar em torno de R$ 720 milhões para construir armazéns da Conab, e R$ 5 bilhões para construir armazéns para a iniciativa privada, principalmente para o cooperativismo, com prazo de 15 anos [para pagar], três [anos] de carência, e juros de 3,5% ao ano.”
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