Nos EUA, o bom é ser AGRICULTOR ou "pobre"

Publicado em 15/12/2013 12:11
Estado do Mississippi, nos EUA, tem discórdia sobre subsídios agrícolas e cupons de alimentação -- por Ron Nixon -- de Belzoni, Mississippi (nos EUA)

Thomas Bond, um plantador de algodão cuja associação de fazendas de 3.400 hectares recebeu US$ 4 milhões em subsídios federais nos últimos sete anos, acha que muitos moradores da região ao redor, o Delta do Mississippi, precisam de cupons alimentares. Mas ele diz que o programa é grande demais e cheio de fraudes.

"Há muitas pessoas que recebem cupons que não deveriam receber", disse Bond em uma entrevista recente no Yazoo Country Club. "Poderiam estar trabalhando, mas não estão."

Atitudes como essa enfurecem Monica Stokes, que trabalha como vendedora em uma loja local de descontos de cheques e teve cortada sua ajuda mensal de US$ 167 em cupons alimentares porque sua renda aumentou ligeiramente.

"Talvez eu devesse plantar alguns acres para receber um pouco do dinheiro que os agricultores recebem", disse ela durante uma pausa para fumar em uma manhã recente diante da loja em Belzoni, sede do condado de Humphreys. "Os agricultores ganham muito mais que eu e ainda recebem dinheiro do governo. Isso é justo?"

Essa fértil planície aluvial, que já abrigou as plantações de algodão que a transformaram em uma das regiões mais ricas do país, hoje está no centro de uma polêmica sobre a nova lei agrícola que está em discussão no Congresso. As opiniões conflitantes dos moradores sobre cortes dos cupons alimentares e a reformulação do programa de subsídios agrícolas refletem as de Washington, mas aqui se fala mais em vidas reais do que em políticas de governo.

Desde 1995, as fazendas do condado de Humphreys receberam cerca de US$ 250 milhões em subsídios, o que o situa aproximadamente no meio de uma lista de municípios que recebem ajuda. Ao mesmo tempo, quase a metade do 9.100 moradores do condado recebem cupons de alimentação, um dos índices mais altos do país.

Em consequência, Humphreys tem uma das maiores disparidades entre os pobres, que enfrentam os cortes de cupons propostos na nova lei agrícola, e os agricultores, que deverão receber mais subsídios.

O projeto de lei, um documento de mil páginas que define a política alimentar e nutricional dos EUA, que geralmente é renovada a cada cinco anos, inclui o programa de cupons alimentares e os subsídios aos agricultores. Versões conflitantes da nova lei no Senado e na Câmara continuam emperradas no impasse partidário. Os agricultores estão operando sob uma prorrogação da lei agrícola existente, que deverá expirar no fim deste mês.

Os agricultores aqui se beneficiariam muito da prorrogação proposta do programa de seguro de colheitas de US$ 10 bilhões por ano, que consta das versões apresentadas no Senado e na Câmara. Mas uma proposta dos deputados republicanos cortaria cerca de US$ 40 bilhões dos cupons alimentares, o que resultaria na saída de 5 milhões de pessoas do programa em todo o país, segundo o Centro para Prioridades Orçamentárias e Políticas, uma organização de pesquisa de tendência esquerdista. O Senado insiste em uma redução muito menor dos cupons. A versão da Câmara também inclui novas exigências de trabalho e testes de drogas para os beneficiários dos cupons alimentares.

Não está claro em que grau os cortes propostos atingiriam os moradores do condado de Humphreys, onde o desemprego está em torno de 13%, mas os beneficiários locais e as autoridades estaduais dizem que estão preocupados. Os cupons já foram cortados em até US$ 16 por mês para muitos moradores, depois que um dispositivo da lei de estímulo econômico de 2009 expirou em 1º de novembro.

"Qualquer coisa que reduza ainda mais o programa terá um impacto e poderá deixar as famílias sem os benefícios que as ajudam a viver todo mês, especialmente em um município como o de Humphreys", disse David Noble, diretor de operações estaduais no Departamento de Serviços Humanos do Mississippi, que administra o programa de cupons alimentares.

Na opinião do agricultor Bond, os plantadores merecem os subsídios e dificilmente estão enriquecendo com eles.
"A agricultura é um negócio muito arriscado", disse Bond. "Os agricultores precisam de uma rede de segurança."

Mas o programa de seguro de colheitas atraiu críticas de uma série de grupos, incluindo o Grupo de Trabalho Ambiental, de esquerda, e a conservadora Fundação Heritage. As duas organizações de pesquisas dizem que os custos precisam ser reduzidos e que o programa beneficia principalmente companhias de seguros e agricultores ricos.

A renda líquida dos agricultores em 2013 deverá ser de US$ 131 bilhões, o total mais elevado desde 1973, ajustado pela inflação, segundo o Departamento da Agricultura. Os críticos do programa de seguro de colheitas dizem que os lucros recordes mostram a necessidade de mudanças no programa.

Deixando de lado os críticos, Bond apenas quer que o Congresso aprove a nova lei agrícola. Sem ela, disse, é difícil os agricultores planejarem.

"Há muita incerteza, e isso não é bom quando se é um agricultor", disse ele. "Os bancos relutam em nos emprestar qualquer coisa quando não sabem como vão recuperar o dinheiro."

Monica Stokes disse que também há incerteza entre os moradores que recebem cupons de alimentação. "As pessoas estão inseguras sobre de onde virá sua próxima refeição", disse ela.

(Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves).

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Fonte:
Bloomberg

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