Na Folha: Kátia Abreu rebate Paulo Maldos, que acusou lavradores do Maranhão de plantarem maconha

Publicado em 05/01/2014 18:23
publicada na edição da Folha de S. Paulo deste domingo

Um processo de desintrusão da terra indígena Awá-Guajá, no Maranhão, gerou troca de acusações entre a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), e o secretário nacional de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência, Paulo Maldos.

Na última sexta-feira (3), data do início da desocupação, Maldos afirmou ao programa "Voz do Brasil", da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), que "a maioria dos ocupantes que se encontram ali vivem da extração da madeira, plantação de maconha e outros ilícitos, como já foi identificado há pouco tempo trabalho escravo na região".

"Então, a gente tem uma crise humanitária, digamos, em que você, por um lado, povos indígenas sem contato algum com a nossa sociedade, ou um contato muito recente, e, por outro lado, representantes, digamos, da nossa sociedade, que são o que temos de mais criminoso", declarou.

A afirmação foi rebatida pela senadora em nota neste domingo (5), que disse que a "declaração do secretário de Articulação Social da Secretaria Geral da Presidência da República, Paulo Maldos, de que os agricultores pobres, enxotados de suas terras no Maranhão pela Funai, são 'plantadores de maconha', configura violência ainda maior que a do despejo que lhes foi imposto".

"A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil vem a público repudiar as declarações levianas, irresponsáveis e ideológicas de um servidor público mau intencionado, contra as quais buscará as medidas judiciais cabíveis", diz a nota.

A ação é em cumprimento a decisão da Justiça Federal do Maranhão, que determinou também a realocação de famílias que ocupam a região em áreas destinadas à reforma agrária.

A determinação é que, uma vez removidos, os agricultores sejam abastecidos com sementes, além de acesso a programas de governo como o Brasil Sem Miséria, o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), além de um sistema de atendimento exclusivo em caso de violação de direitos humanos.

Trata-se, segundo o governo, de 100 a 200 famílias com perfil de reforma agrária que devem ser removidos da região com respaldo da determinação judicial. "A senadora Kátia Abreu deve ter sido induzida ao erro, porque o governo tem atuado para remover uma população de forma pacífica, de acordo com a lei. Minha intenção nunca foi de ofender ninguém", disse Maldos à Folha.

Segundo o secretário, os principais ilícitos vistos no local são referentes à extração ilegal de madeira, o que, conforme disse, poria em risco as famílias de agricultores em questão. O governo não sabe quantificar, no entanto, quantos são os envolvidos na atividade criminosa, já que o fluxo de extrativistas é intermitente. "Sabe-se que 32% da reserva, que é a última reserva florestal do Maranhão, foi devastado", relatou o secretário.

Maldos explicou também que técnicos do governo, em vistoria na região em novembro passado, apreendeu 80 quilos de maconha cultivada ilegalmente. Ele descartou ligação dessas plantações com atividades como a extração ilegal de madeira.

PF proíbe reportagem da Folha de desembarcar de balsa no Amazonas

Alegando não ser "babá de imprensa", um agente da Polícia Federal proibiu a reportagem da Folha de desembarcar da balsa que liga a cidade de Humaitá (AM) à rodovia Transamazônica, no início da madrugada deste sábado.

O agente Alvino comandava um comboio para levar peritos até um local dentro da Terra Indígena Tenharim onde, segundo a PF, foram encontrados vestígios de um carro que poderia ser o Gol preto no qual viajavam três homens desaparecidos desde o último dia 16. A região é atravessada pela rodovia Transamazônica.

O carro da reportagem entrou na balsa antes dos carros da PF. A viagem, por volta da meia-noite, estava marcada a pedido dos policiais, mas um sitiante local também estava na embarcação.

Logo após estacionar o carro na balsa, Alvino abordou os repórteres e disse que não permitiria o acesso ao local, a cerca de 140 km de distância. A reportagem argumentou que uma equipe da TV Globo já estava na região e que havia viajado horas num comboio da polícia.

Alvino então concordou que a Folha acompanhasse, mas, minutos depois, mudou novamente de ideia e orientou os trabalhadores da balsa a levar o carro da reportagem de volta a Humaitá.

Ele não permitiu sequer que a reportagem viajasse até o km 90, ainda fora do território indígena, onde funciona uma hospedagem.

Na hora do desembarque, Alvino se irritou quando a reportagem, que não ligou o carro para desembarcar, perguntou o seu nome. Falando que, "se vocês vão me foder, eu também vou foder vocês", disse que instauraria um inquérito.

O policial pediu então os documentos dos repórteres e do carro e chamou dois trabalhadores da balsa para anotar os nomes: "Vocês são testemunhas de que eu mandei eles desembarcarem lá e eles não desembarcaram, tá?"

"Estou até com vontade de deixar vocês [irem até a terra indígena] pra você ver como eles são bonzinhos. Mas eu não sou babá de imprensa, não. O [delegado Alves, que permitiu a presença da TV Globo] pode até ser, mas eu não sou, não. Não estou aqui pra te tratar bem, não, estou aqui pra fazer o meu serviço."

A polícia suspeita que os indígenas tenham matado os três ocupantes do carro, cujo desaparecimento provocou ataques da população vizinha a "alvos indígenas", como veículos e a sede da Funai e postos de pedágio operados pelos tenharim na Transamazônica.

Os tenharim negam qualquer envolvimento com o desaparecimento. Na quinta e na sexta-feira, permitiram que a reportagem visitasse suas aldeias e conversasse com qualquer morador.

Filho de cacique morto vê "precipitação" da Funai (no blog Questão Indígena)

Hipótese de assassinato de líder indígena que alimentou conflito étnico na região foi levantada por servidores locais da Funai e endossada pela direção do órgão (veja aqui) e pelo Cimi. Família de tenharim morto diz, contudo, que não acredita em homicídio porque viu que 'ele caiu da moto'. Texto de Fabiano Maisonnave publicado hoje na Folha de São Paulo reforça o papel de funcionários da Funai nos episódios de violência no sul do Amazonas.


"Só queríamos viver o luto familiar em paz", disse Gilvan, 24, filho do cacique Ivan Tnharim, 55, encontrado desacordado ao lado da sua moto no dia 2 de junho, na rodovia Transamazônica, a 20 km de sua aldeia.

A região, a 130 km de Humaitá (AM), está no centro das buscas da Polícia Federal por três homens desaparecidos desde 16 de dezembro. A PF anunciou ontem ter encontrado peças queimadas de um veículo Volkswagen. O material será avaliado por peritos para verificar se pertence ao Gol no qual viajavam os três homens desaparecidos.

Levado a Porto Velho (RO), distante cerca de 330 km, o cacique não resistiu e morreu no dia seguinte. No atestado de óbito, consta que a causa foi traumatismo craniano provocado por acidente.

"Em nenhum momento a gente falou que o meu pai foi assassinado. A gente não protestou nem chegou a acusar ninguém", disse Gilvan. Ele explicou que, por questões culturais, a família não autorizou a autópsia completa.

Mas a reação do coordenador regional da Funai, Ivã Bocchini, foi diferente. Conforme mostramos aqui no QI, em texto publicado no blog oficial do órgão dias após a morte, ele levantou a hipótese de assassinato.

O texto foi retirado do ar, mas as ilações de Bocchini foram endossadas por Carlos Travassos, Coordenador-geral de índios isolados e de recente contato da Funai em Brasília. A própria Funai e o Cimi divulgaram Notas Oficiais afirmando que trabalhavam com a hipótese de assassinato para a morte de Ivan Tenharim. Embora o texto da Funai de Humaitá tenha sido retirado do ar ele ainda pode ser encontrado no cache do google. Veja aqui:Morre Ivan Tenharim

Mas para o filho do cacique, houve uma "precipitação" da Funai. "A gente viu que ele caiu da moto."

Contatado pelo jornalista da Folha, Bocchini desligou o telefone após o repórter se identificar. Fabiano Maisonnave tem sido acusado por indigenistas e fazer uma cobertura anti-indígena no problema em Humaitá.

O sumiço de três homens da região que viajavam juntos nesse trecho da Transamazônica, no último dia 16, fez os moradores de Humaitá relacionarem as ilações da Funai e desaparecimento.

Surgiu a versão de que o funcionário da Eletrobras Aldeney Salvador, o representante comercial Luciano Ferreira e o professor Stef de Souza foram mortos pelos índios por retaliação.

Um jornal local, "A Crítica de Humaitá", afirmou que os três morreram porque um pajé tenharim teria sonhado que um carro preto - a mesma cor do veículo no qual viajavam os três homens também desaparecidos - atropelou o cacique, provocando sua morte.

Os cerca de 900 tenharim, no entanto, não têm pajés. A maioria é evangélica - e torcedora do Corinthians e do Flamengo. Moram em casas de madeira com eletricidade. Quase todas as famílias são bilíngues, têm TV e moto, e duas aldeias estão conectadas à internet.

Na véspera do Natal, a falta de notícias sobre os desaparecidos e a completa inação da Funai e da Polícia Federal levou parentes e amigos a bloquearem a balsa sobre o rio Madeira que liga Humaitá à Transamazônica, impedindo o regresso de indígenas que estudam na cidade ou que vão até lá para fazer compras. Orientados pela Funai, 115 se refugiaram no quartel do Exército.

No dia seguinte, em pleno Natal, centenas de moradores atacaram as instalações da Funai e da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena). A fúria continuou no dia seguinte. Acompanhada pela PM, uma caravana de moradores do vilarejo Santo Antônio do Matupi, a 180 km de Humaitá, saiu pela Transamazônica destruindo cerca de 10 pedágios que os índios mantém ilegalmente na rodovia.

A cobrança, que varia de R$ 15 a R$ 120, gera atrito com os moradores desde a sua implantação, em 2006. Nos tribunais, as decisões têm sido favoráveis aos índios mesmo a revelia da lei.

Na aldeia Vilanova, o cacique Domingo Tenharim, 54, disse que os PMs roubaram R$ 540 arrecadados no pedágio e levaram duas espingardas de caça calibre 28. A PM diz que agiu apenas para evitar confrontos.

Na quinta-feira, quando a Folha esteve na aldeia, os caciques se reuniram com um advogado pago não se sabe por quem. Decidiram não colaborar com as investigações do paradeiros dos três homens sem etnia e retomar a cobrança ilegal do pedágio apenas a partir de fevereiro. Eles negam participação no sumiço de Aldeney Salvador, Luciano Ferreira e Stef de Souza.

Nas cinco aldeias visitadas pela Folha, as lideranças afirmam que comida e medicamentos estão acabando porque não podem ir à cidade, por falta de segurança. A Funai, que teve todos os 11 veículos de Humaitá incendiados por manifestantes, não vem dando nenhum tipo de assistência.

Anteontem, o Ministério Público Federal recomendou o envio de mantimentos aos índios da região, onde vivem outras três etnias, não envolvidas diretamente no conflito, mas igualmente afetadas.

"Estamos sendo tratados como bandidos, mas somos seres humanos, temos raciocínio", afirma o cacique Domiceno Tenharim, da aldeia Taboca, principal foco da investigação da polícia.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Folha de S. Paulo + Questao Indi

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

4 comentários

  • Genesis Duarte Palhoça - SC

    paulo marido da ex da funai e o Gilberto Carvalho arquitetam juntos todo circo do planalto, mandam mais que a presidenta Dilma, como vamos discutir um assunto tao serio como esse , se os ministros, secretários da mais alta estirpe cagam pela boca!!! essa e a razão de tirarmos o pt do governo, eles não tem senso de ridiculo, de moral, de humanidade!!

    0
  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Se o Processo desta reserva iniciou-se ainda no tempo do FHC, porque NUNCA as nossas entidades fizeram nada antes?

    Triste mesmo, ver mais uma vez nossa turma chorar apenas quando o leite já está derramado.

    0
  • LUIZ CARLOS SOBRINHO Aparecida de Goiânia - GO

    - Já sabia do resultado desta situação. E tenho certeza que 33 indios é pouco para muita terra.

    - Na verdade daqui a 05 a 10 anos vamos conhecer os verdadeiros responsaveis por está desapropriação.

    - Na hora de colocar as minas de ouro e outras riquesas em atividade é só aguardar.

    - Este Brasil precisa mudar e criar um partido novo , politos novos ser reeleição.

    - Precisamos criar uma lei para proibir reeleição para vereador, deputados estaduais, dep. federais, governadores e presidentes.

    - Precisamos inovar e criar um pais melhor com novos valores.

    0
  • Edison tarcisio holz Terra Roxa - PR

    esse paulo maldozo gilberto carvalho ministro da injustiça teem que ser exonerados urgentemente dona dilma estão trabalhando contra o povo brasileiro contra o brasil

    0