No ESTADÃO: Prejuízos do agronegócio com a seca e as chuvas já somam R$ 10 bilhões

Publicado em 02/03/2014 04:55
Forte seca na região Centro-Sul e excesso de chuvas no Centro-Oeste afetaram agricultura, pecuária, provocam perdas e pressionam a inflação, POR Alexa Salomão e Márcia de Chiara - de O Estado de S. Paulo.

A forte seca que castiga o Centro-Sul e o excesso de chuvas no Centro-Oeste do País já tiraram cerca de R$ 10 bilhões de receita do agronegócio em 2014, segundo cálculos feitos por analistas. Soja, milho, café, cana, laranja, pecuária de corte e de leite registram queda na produtividade e alta nos preços – o que pode ter impacto na inflação.


No Paraná, o segundo maior produtor, já se sabe que com a seca houve queda média de 13% na produtividade. Dos 16,5 milhões de toneladas previstas, pouco mais de 2 milhões já se perderam. Pelas estimativas da Secretaria Estadual de Agricultura, haverá redução de R$ 2,2 bilhões na receita.A soja, que está em plena época de colheita, resume a grande confusão que o clima provocou no campo. No Centro-Sul, a lavoura penou com o sol escaldante, a falta de chuva e as altas temperaturas. Em Mato Grosso, o maior Estado produtor, é o excesso de chuvas que impede a colheita, afeta a qualidade do grão e agrava os problemas logísticos. O preço da soja voltou no mês passado ao patamar de US$ 14 por bushel na Bolsa de Chicago, revertendo as expectativas de queda que existiam por causa da entrada da supersafra brasileira no mercado.

"Mais do que a estiagem em si, o grande problema foi o calor que prejudicou a formação das vagens", diz Francisco Carlos Simioni, chefe do Departamento de Economia Rural.

Chuva. Em Mato Grosso, a soja está pronta para a colheita, mas o excesso de umidade deixa o grão encharcado e a semente apodrece no pé, diz o diretor executivo da Federação da Agricultura de Mato Grosso, Seneri Paludo. Nos últimos dez dias choveu no município de Sinop, por exemplo, 225,9 milímetros, praticamente o dobro da média histórica para o período, aponta um levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

Para reduzir a umidade é necessário mais tempo no secador e com isso se gasta mais energia. "Tudo é custo de produção e isso impacta na remuneração do produtor", diz Paludo. Diante desse quadro climático, ele diz que o produtor de soja de Mato Grosso não tem opção: ou perde a lavoura no campo ou tem um custo maior.

A estimativa inicial era de que Mato Grosso iria colher neste ano 26,9 milhões de toneladas, uma safra recorde. O levantamento do Imea mostra que, até a terceira semana de fevereiro, cerca de 500 mil hectares deixaram de ser colhidos no tempo ideal, o que pode representar perda de meio milhão de toneladas na produção e prejuízos diretos de R$ 400 milhões. "A preocupação maior é com as áreas atingidas pela seca do que pelas chuvas", diz o secretário executivo da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), Fabio Trigueirinho.

Dados do Boletim Oil World, publicação que é referência no setor, indicam quebra de 4,5 milhões de toneladas na safra brasileira de soja. Isso significa menos R$ 5,4 bilhões de receita.

A dobradinha "chuva no Centro-Oeste e calor no Centro-Sul" também afeta a produção de milho. Uma parte da colheita de milho no verão foi afetada. A perda não é homogênea e varia de região para região. No Paraná, o maior produtor de milho, cerca de um terço da colheita já foi concluída e a estimativa é que as perdas não sejam expressivas. Em Minas Gerais, cerca de 21% da produção está comprometida. A consultoria Safras & Mercado estima que ao todo 12 milhões de toneladas de milho vão se perder, o que subtrairia cerca de R$ 400 milhões da receita do agronegócio.

Mas o desarranjo climático ainda pode comprometer o plantio da chamada safrinha – safra de milho cultivada no inverno que, apesar do nome, corresponde à maior parcela do que o Brasil produz de milho anualmente – cerca de 60% do total colhido.

No Paraná e em São Paulo, a semente encontra um solo com baixa umidade. Se não chover, a planta não vai se desenvolver adequadamente. No Centro-Oeste, o excesso de chuva, quando alguns produtores ainda colhem soja, tende a atrapalhar a entrada das máquinas para o plantio do milho. "Esta semana será decisiva para o plantio da safrinha", diz Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado.

 

Hidrovia 'seca' e transfere carga para caminhões

Falta de chuva reduz nível do Rio Tietê e já prejudica operações da hidrovia Tietê-Paraná

por José Maria Tomazela - O Estado de S.Paulo

SOROCABA - A queda no nível do Rio Tietê em razão da falta de chuvas já reduziu em um terço a capacidade dos comboios que transportam cargas pela Hidrovia Tietê-Paraná, no Estado de São Paulo. O "apagão" ocorre num momento em que a safra de grãos no Centro-Oeste do País atinge o ponto máximo. Um grande volume de soja e milho foi transferido para a rodovia e representa mais 133 caminhões por dia chegando ao Porto de Santos, segundo o diretor do Departamento Hidroviário do Estado, Casemiro Tércio Carvalho. "Temos 20 comboios na via e estamos deixando de levar duas mil toneladas por comboio. Isso vai dar quatro mil viagens a mais de caminhão por mês."

O problema mais crítico ocorre entre as usinas de Três Irmãos, em Andradina, e Nova Avanhandava, em Buritama, no oeste do Estado. O nível do reservatório caiu de 46,35% no dia 1.º para 39,16% na quarta-feira. A cota do lago baixou para 325,05 metros do nível do mar e, se cair mais um pouco, a navegação terá de ser interrompida. O calado - parte do casco da embarcação que afunda na água com a carga - foi reduzido de 2,70 m para 2,25m.

Além da falta de chuvas, concorre para o agravamento nas condições da hidrovia o uso da água para geração de energia elétrica nas usinas de Três Irmãos e Ilha Solteira - os reservatórios são interligados. Para atender a um aumento recorde no consumo de energia, o Operador Nacional do Sistema (ONS) usa mais água na geração. "O governo federal não assume que tem problema de geração e a ferrovia paga o pato", disse Carvalho. Segundo ele, em 2001 houve um problema semelhante, mas o governo não aprendeu a lição. "Não houve planejamento para enfrentar a situação atual, em que se conjugaram fatores climáticos extremos e aumento no consumo." O ONS informou que o nível dos reservatórios é controlado pelas usinas de forma a garantir o mínimo necessário para a navegação.

Carvalho já admite o risco de parar a hidrovia por falta de água para navegar. Esse risco de paralisação ocorre num momento em que a hidrovia Tietê-Paraná vive um ritmo de crescimento de quase 11% ao ano, segundo ele. No ano passado, foram transportadas 5,9 milhões de toneladas - 40% desse total eram soja e milho.

A salvação da lavoura, por Celso Ming

 

No ano passado, com uma participação de apenas 5,7% na economia brasileira, a agropecuária sozinha foi responsável pela obtenção de 1,1 ponto porcentual nos 2,3 pontos de crescimento do PIB.

 

No dia 10 de fevereiro, em solenidade realizada em Lucas do Rio Verde (MT), a presidente Dilma reconheceu o excelente desempenho do agronegócio. Ela se referiu à “produtividade na veia” injetada na economia, graças ao aumento de 221% da produção de grãos em 20 anos com aumento da área plantada no mesmo período de apenas 41%.

Convém ter claras as diferenças entre conceitos. Agropecuária (como avalia o IBGE), agronegócio ou produção de grãos, por exemplo, não são rigorosamente a mesma coisa. Independentemente disso, a observação da presidente Dilma está correta. Apesar de tudo e contra tanta coisa, a agropecuária está dando show de produção e de produtividade, contribuindo decisivamente para o resultado da atividade econômica do País.

O setor soube aproveitar o salto de integração de camadas crescentes da população mundial ao mercado de consumo. Apenas na Ásia foram cerca de 30 milhões por ano ao longo dos últimos 15 anos. Foi o que aumentou substancialmente a demanda por alimentos, matérias-primas e energia, especialmente pela China. A agricultura brasileira surfou essa onda, faturou mais, mecanizou-se e passou a operar com tecnologia de ponta. Daí os resultados.

O governo brasileiro pouco contribuiu para isso. Ao contrário, mais atrapalhou do que ajudou. Basta levar em conta as dramáticas deficiências de transportes e rede de armazenamento e a desarticulação provocada no setor de açúcar e álcool pela desastrosa política de combustíveis adotada pelo governo Dilma.

Do ponto de vista macroeconômico, a forte contribuição do setor agropecuário aponta para nova vulnerabilidade. Não é possível sustentar esse desempenho para sempre, porque a agricultura enfrenta variáveis de difícil controle, como condições climáticas e, especialmente, preços internacionais, sempre sujeitos a volatilidades. Em 2012, por exemplo, o PIB da agropecuária caiu 2,1% (veja o gráfico).

Como a expansão do setor de serviços tende a se desacelerar e a indústria é de recuperação mais difícil, eventuais períodos de espigas chochas podem produzir fortes estragos no desempenho do PIB.

Essa é a principal razão pela qual novos ganhos de produtividade a serem obtidos com investimentos em transportes e maior emprego de tecnologia podem fazer a diferença.

Não dá para dizer que o governo esteja atento a essas novas demandas da política econômica. O xodó das administrações Lula e Dilma foram e continuam sendo as montadoras de veículos, que conseguem arrancar proteção alfandegária e reservas de mercado desta república sindicalista. E a tendência é de que a percepção corrente em Brasília é que a agricultura não precisa de cuidados porque se defende sozinha.

CONFIRA:

 

Aí está a evolução do superávit primário (sobra de recursos para pagamento da dívida) em 12 meses, comparado com o tamanho do PIB.

Promessa de pinguço. Apesar das juras e promessas de que largaria a bebida, o alcoólatra continua tomando o rumo do botequim. Os primeiros resultados do ano (janeiro) das contas públicas foram decepcionantes. Embora negada pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin, a suspeita é a de que o governo tenha empurrado para janeiro pagamentos que caberiam em dezembro apenas para mostrar resultados em 2013.

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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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