No EL PAÍS: Venezuela - O aniversário da morte de Chávez terá novos protestos

Publicado em 05/03/2014 05:16 e atualizado em 05/03/2014 06:00
Milhares voltam às ruas de diferentes cidades contra problemas que vão desde a alta inflação até a insegurança. Hoje, parada militar e cerimônia em Caracas irão marcar o primeiro aniversário de morte de Hugo Chávez

Pelo quarto dia consecutivo, caças Sukhoi de fabricação russa e outros aparelhos da Força Aérea sobrevoavam com estrondo a cidade de Caracas. Nos bairros de classe média da capital venezuelana, cenário de protestos e barricadas desde 12 de fevereiro, os rasantes das aeronaves foram vistos desde o primeiro dia como um caro gesto de intimidação por parte do Governo. Mas se trata, na verdade, dos exercícios que os pilotos fazem antes de participar, nesta quarta-feira, do desfile militar que marca o primeiro aniversário da morte de Hugo Chávez, o Comandante Supremo – na novilíngua oficial – da autodenominada Revolução Bolivariana.

A parada acontecerá no Passeio dos Próceres, no sudoeste do vale caraquenho. Por um estreito beco entre montanhas, eriçado de edifícios, devem voar os aviões de combate. “Talvez tenhamos falhado em [deixar de] avisar que seriam feitos esses exercícios”, admitiu o presidente Nicolás Maduro, com um sorriso, durante a transmissão no sábado, em rede nacional de rádio e televisão, da segunda sessão da Conferência de Paz organizada pelo Governo.

Enquanto os aviões sulcavam o céu, duas passeatas convocadas pela oposição atravessavam nesta terça-feira o vale de Caracas. Do norte para o sul, uma concentração convocada pela deputada María Corina Machado e por Lilian Tintori, a esposa do encarcerado dirigente Leopoldo López, prestava homenagem aos manifestantes assassinados durante os protestos que já duram três semanas. Do oeste para o leste, uma passeata estudantil se dirigia para os limites do Petare, a maior favela do país e celeiro do apoio popular ao chavismo (embora o município onde se encontra, que inclui também bairros de classe média, seja governado pela oposição).

O comando opositor, que algumas vezes parece atuar de maneira organizada, e em outras se desagrega em diversos focos de gritaria – a Mesa da Unidade Democrática (MUD), as cabeças visíveis do movimento La Salida, ou uma recém-surgida Junta Patriótica Estudantil e Popular –, tenta em todo caso manter vivos, em pleno Carnaval, os ímpetos insurrecionais despertados pelos protestos estudantis desde 12 de fevereiro, e que o Governo conteve, a sangue e fogo – o saldo de vítimas mortais até o momento é de 18 –, mas seletivamente, com ataques dos corpos de segurança e dos grupos paramilitares do chavismo.

Com esse fim, está recebendo uma ajuda inesperada do próprio Governo. Por ocasião do aniversário de falecimento do comandante Chávez – ocorrido em 5 de março de 2013, após um câncer –, a ainda jovem gestão do presidente Maduro organizou pompas para as quais são esperados dignitários internacionais. Entre estes, as visitas dos presidentes do Nicarágua e de Cuba, Daniel Ortega e Raúl Castro, confirmadas no momento da conclusão desta informação, parece especialmente irritante para os setores de oposição. As redes sociais ferviam na terça-feira com chamados espontâneos de usuários para bloquear as vias e atrapalhar o deslocamento pela cidade das personalidades convidadas. Durante as manifestações das últimas semanas foram vistos episódios de queima de bandeiras de Cuba, cujo regime a oposição vê como mentor do governo de Maduro e beneficiário de vultosas dádivas petroleiras que fazem falta à economia venezuelana, a qual atravessa sérios problemas.

As atividades da oposição nas ruas às vezes são anunciadas com menos de 24 horas de antecedência. E certamente haverá protestos espontâneos. Mas neste caso a MUD já anunciou que não organizará nenhuma atividade para esta quarta-feira, “em respeito aos sentimentos de parte da população”. Mas para sábado a entidade organizou uma “Marcha das Panelas Vazias” em Caracas e outras cidades do país.

Do que há certeza é de que na quarta-feira desfilarão os efetivos das Forças Armadas, cujo papel está atualmente sob discussão, não só por servirem como pilar para o Governo de Maduro – que nunca duvida em se qualificar como produto da união “cívico-militar” –, mas sim porque um de seus componentes, a Guarda Nacional, figurou na primeira linha da repressão contra os protestos.

Neste contexto tiveram especial ressonância as palavras de Luis Miquilena, ex-presidente da Assembleia Constituinte de 1999 e ex-ministro do Interior de Chávez. “Não se prestem a defender um regime ilegítimo, usurpador e totalitário que está subordinado a Cuba”, insistiu aos militares em um comunicado divulgado na segunda-feira em Caracas. Miquilena, de 93 anos, ex-militante comunista e empresário, foi visto por muito tempo como tutor político e protetor do falecido tenente-coronel. Entretanto, rompeu com o chavismo durante os acontecimentos de 11 de abril de 2002, que desembocaram em uma fugaz derrubada de Chávez por 47 horas. Desde então, como um oráculo, faz pronunciamentos em determinados e decisivos momentos. Neste momento, que o documento qualifica como “a hora mais escura da história”, o veterano dirigente não duvidou em respaldar os protestos estudantis, originadas de acordo a sua visão pela “inequidade gerada pelo manejo irresponsável das políticas econômicas deste governo, mau arremedo do cubano”.

Caracas marcha por Francisco de Miranda

¡Gente hasta donde se puede ver! 

 

 

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Na FOLHA: Venezuelanos protestam antes de festa da chavista

Milhares de venezuelanos foram às ruas em diferentes cidades do país ontem, véspera do primeiro aniversário de morte de Hugo Chávez, para se manifestar contra o governo e em homenagem às 18 pessoas que morreram em uma série de protestos iniciada no mês passado.

Em Sucre, onde governa a oposição, estudantes marcharam do parque Miranda a Petare, a maior favela da região de Caracas, contra a insegurança e a deterioração econômica do país. Outro ato de destaque ocorreu em San Cristóbal, no Estado de Táchira, perto da Colômbia.

Desde fevereiro, os motivos levantados nos protestos vão desde a inflação --a mais alta da América Latina-- até a falta de produtos básicos. A eles se uniram líderes oposicionistas como Henrique Capriles e Leopoldo López, preso atualmente. A mulher dele, Lilian Tintori, participou dos atos de ontem.

Relatório da UCAB (Universidade Católica Andrés Bello) divulgado ontem afirmou que foram realizadas 331 prisões em protestos ocorridos de 12 a 28 de fevereiro. Na maioria dos casos, os juízes alegaram proibição de manifestação, algo que não está previsto na lei venezuelana.

HOMENAGENS

Hoje, o governo de Nicolás Maduro, herdeiro político de Chávez, realizará uma parada militar por Caracas e uma cerimônia no mausoléu onde estão os restos mortais do presidente, que morreu vítima de câncer.

Conforme a Folha informou anteontem, o assessor de assuntos internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia, deve ir a Caracas participar dos eventos e se encontrar com representantes do governo, porém sem o intuito de exercer mediação entre os chavistas e a oposição.

Em Genebra, o chanceler venezuelano, Elías Jaua, confirmou ontem que o país não quer mediação internacional para a crise. "Os problemas que temos podem ser resolvidos entre os venezuelanos."

NO G1:

Vestidos de branco, jovens carregavam cartazes contra governo de Maduro.
Eles protestavam contra insegurança e deterioração econômica do país.


 

 
Opositores protestam contra o presidente Nicolás Maduro em frente Pa base aérea militar La Cartola, em Caracas, nesta terça-feira (4)  (Foto: AFP Photo/Leo Ramirez)Opositores protestam contra o presidente Nicolás Maduro em frente Pa base aérea militar La Cartola, em Caracas, nesta terça-feira (4) (Foto: AFP Photo/Leo Ramirez)

Milhares de estudantes e opositores tomaram as ruas, nesta terça-feira (4), no leste de Caracas, caminhando até o bairro popular de Petare, para protestar contra a insegurança e a deterioração econômica no país, há um mês mergulhado em manifestações que já deixaram 18 mortos.

Ambos os pontos pertencem ao município de Sucre, leste de Caracas, governado pela oposição, mas com várias zonas de maioria chavista.

Vestidos de branco, os jovens carregavam cartazes com dizeres contra o governo de Nicolás Maduro e gritavam palavras de ordem. A multidão saiu do Parque Miranda e seguiu para Petare, uma das maiores comunidades da América Latina.

Caracas e várias cidades venezuelanas têm sido palco de protestos quase que diariamente. As manifestações foram iniciadas por universitários no estado de Táchira, oeste da Venezuela, na fronteira com a Colômbia, contra a grave insegurança após a tentativa de estupro de uma estudante.

A deputada da oposição María Corina Machado também marchava com um grupo de manifestantes no leste de Caracas, entre eles a mulher de Leopoldo López, Lilian Tintori. Líder do partido Vontade Popular, López está preso após ter sido acusado de instigar a violência nos protestos.

Manifestantes participam de protesto contra o governo de Nicolás Maduro em Caracas, na Venezuela, nesta terça-feira (Foto: AFP Photo/Juan Barreto)Manifestantes participam de protesto contra o governo de Nicolás Maduro em Caracas, na Venezuela, nesta terça-feira (Foto: AFP Photo/Juan Barreto)
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Fonte:
El País + Folha de S. Paulo + G1

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