Dilma e a inflação: "alguns produtos sobem, enquanto outros caem..."
A presidente Dilma Rousseff assumiu nesta semana, em seus discursos, um tom mais enfático sobre as melhorias realizadas no País durante o governo do PT e sobre a situação econômica do País. Nesta sexta-feira, garantiu que o governo irá controlar sistematicamente a inflação.
-- "Nós mantemos sistematicamente um olho e um controle na inflação, mesmo quando, devido à seca que ocorre no Sudeste e à chuva torrencial no Norte, tivemos impactos em alguns produtos alimentares", garantiu. A presidente participou de inauguração de estação de tratamento de esgoto em Porto Alegre (RS).
"É importante olhar que isso é momentâneo e, em segundo lugar, que há produtos que enquanto alguns sobem, outros caem, e a inflação iremos controlar sistematicamente", assegurou. O discurso da presidente vem dois dias depois da divulgação do IPCA de março, que acumula alta de 6,15% em 12 meses.
"O Brasil hoje tem uma situação em relação ao resto do mundo de baixa vulnerabilidade. Acumulamos US$ 378 bilhões de dólares de reservas", completou ainda. "No mundo, poucos países têm a relação de endividamento que o Brasil como País tem, nossa dívida líquida sobre o PIB é de 33,8%. É uma das mais baixas do mundo", completou a presidente, que disse ainda que o Brasil tem robustez fiscal e "jamais" enfrentou a crise "às custas do trabalhador ou do empreendedor".
Além de defender a situação econômica do País, a presidente saiu em defesa das medidas empreendidas pelo seu governo. "Nesse período, nós reduzimos sim impostos", disse. "É interessante que muitas vezes no Brasil, você é criticado por ter o cachorro e outras vezes por não ter o mesmo cachorro", disse, em referência às críticas quanto à desoneração tributária. "Nós reduzimos sim impostos, principalmente sobre a folha de pagamentos porque era uma forma de melhorar a produtividade do trabalho. Reduzimos sim e era necessário." Ela destacou que o governo fez políticas de sustentação do investimento e de expansão da infraestrutura.
"Não é possível criticar simultaneamente por não fazer projetos para melhorar a saúde pública e criticar investimentos em saneamento", criticou. "A equação no Brasil tem de fechar. E aí a responsabilidade de cada um de nós tem de aparecer."
A presidente foi a Ainda na manhã desta sexta-feira (11), Dilma participa da formatura de mil alunos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), também em Porto Alegre.
Inflação e outros maus sinais, editorial do Estadão
A preocupante alta dos preços de 0,92% em março, a maior variação mensal desde abril de 2003 captada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - a medida oficial da inflação brasileira, calculada pelo IBGE -, é mais um dado entre os muitos aferidos nos últimos tempos que vão demolindo o cenário otimista montado pelo governo do PT para tentar convencer parte da população de que tudo vai bem na economia.
Embora não tenha citado números, o economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e Caribe, Augusto de la Torre, resumiu com precisão os problemas do País. O Brasil, disse ele, enfrenta uma "combinação difícil" de inflação alta e baixo crescimento. Para rompê-la, o governo deveria adotar uma política fiscal mais austera que abrisse espaço para o Banco Central reduzir a taxa de juros. Como não existem sinais críveis de que, nos próximos meses, o governo Dilma controlará com maior rigor seus gastos - especialmente sendo este um ano de eleição presidencial -, o melhor que os brasileiros podem esperar é que o quadro não piore até o fim do ano.
Não há, porém, nenhuma garantia de que, mesmo sendo essa uma expectativa medíocre, isso venha a ocorrer. Ao contrário, enquanto instituições internacionais e economistas não vinculados ao governo vão revendo para baixo a projeção já modesta (de no máximo 2%) para o crescimento da economia brasileira, a alta dos preços se acelera e se espalha para um grande número de produtos.
Em março, a seca em importantes regiões produtoras pressionou os preços de alimentos essenciais, como o tomate (alta de 32,85%), a batata-inglesa (35,05%), o feijão-carioca (11,81%) e as hortaliças e verduras (9,36%). É possível que a pressão se mantenha por algum tempo, com maior ou menor intensidade.
Mas o fato mais preocupante na variação dos preços no período de 12 meses até março é que a alta não se limita aos alimentos. Ela é generalizada. Dos nove grupos de itens que compõem o IPCA, pelo menos seis (alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais e educação) acumulam em 12 meses variação superior a 6,5%, que é o teto do generoso limite de tolerância da política de meta inflacionária.
O IPCA acumulado de 12 meses até março alcançou 6,15%, ainda dentro do limite de tolerância. Mas a persistência das pressões sobre diferentes grupos que compõem o IPCA e a eventual mudança de tendência de outros que até agora impediram alta mais acelerada do índice oficial sugerem dificuldades crescentes para manter a inflação dentro desse limite.
No mês passado, por exemplo, os serviços e bens cujos preços e tarifas são monitorados pelo governo, entre os quais o da energia elétrica, registraram deflação de 0,02%, um resultado notável se comparado à inflação mensal. Essa redução foi fortemente influenciada pela queda de 0,87% na conta de luz, resultante da redução de tributos como PIS/Pasep e Cofins. Mas, com o fracasso da política do governo Dilma de reduzir as tarifas à força e com o uso contínuo e prolongado das usinas termoelétricas - que produzem energia a um custo bem mais alto do que as hidrelétricas -, haverá necessidade de aumentos nos próximos meses.
Serão pressões adicionais sobre um índice já alto demais. Mesmo que, nos próximos meses, a alta mensal do IPCA se desacelere, é muito provável que a variação seja maior do que a registrada em igual período de 2013, o que deve resultar na aceleração do índice acumulado de 12 meses. Esse quadro pode mudar em novembro e, como a inflação de dezembro passado foi tão alta quando a de março, não é impossível que o índice de todo o ano fique dentro do limite de tolerância de 6,5%.
Será mais um resultado muito ruim, que se somará aos que o governo Dilma vem acumulando desde seu início (6,5% em 2011, 5,84% em 2012 e 5,91% em 2013). A manutenção de uma política fiscal frouxa pelo governo petista alimenta a inflação e exige uma política monetária mais dura, mas de limitada eficácia no combate à inflação no curto prazo, como mostram os dados do IBGE. É ruim para todos.
Por que Mantega é o recordista de tempo à frente da Fazenda?
O ministro Guido Mantega está há 8 anos à frente do Ministério da Fazenda, o mais importante de todos. É um recordista. Mas quando se avalia o currículo, o conhecimento econômico, o perfil, algo não bate. Por que, então, Mantega está há tanto tempo em cargo tão importante e poderoso?
Rogério Werneck, professor da PUC, responde em sua coluna de hoje no GLOBO, contando a resumida história dos últimos 8 anos e o que estava em jogo nas decisões tomadas por Lula e Dilma. De forma bem simplificada, Palocci foi uma raridade para os padrões petistas, um médico que representava o bom senso econômico, símbolo da “Carta ao Povo Brasileiro” escrita por Lula.
Mas vieram os escândalos que forçaram sua renúncia, e também o mensalão, que esquentava a chapa do próprio Lula. Era preciso soltar as amarras da heterodoxia, matar o bom senso, abrir o cofre das finanças públicas e jogar a chave fora. Era necessário, em suma, ter alguém que dissesse sempre “sim” aos anseios do Executivo, com sua compulsão por expandir gastos públicos. Mantega era o cara certo para tal meta.
Aos mercados, era vendida a ideia de que isso seria algo temporário. Nada mais arriscado do que oferecer algumas doses a um dependente alcoólatra em abstinência. É tentador demais. O Brasil cresceu 7,5% em 2010, Dilma foi eleita, e a conta ficou para depois. Mas Mantega foi mantido no cargo. O PT gostou da brincadeira, e o Executivo não desejava alguém com firmeza protegendo os cofres públicos da fome estatal. Werneck conclui:
A confirmação de Mantega como ministro da Fazenda do novo governo não chegou a surpreender. A mudança relevante deu-se em nível mais alto. A responsabilidade pela formulação e pela condução da política econômica, que antes cabia à ministra-chefe da Casa Civil, foi assumida pela própria presidente da República.
O desfecho dessa longa história é bem conhecido. Crescimento pífio, inflação estourando o teto da meta, contas públicas desacreditadas e grave desequilíbrio nas contas externas. Lula reclama que “poderíamos estar melhor”. Claro que sim. Poderíamos. Mas agora é tarde. O País está colhendo o que Lula e Dilma plantaram nos últimos oito anos.
Como fica claro, é pura perda de tempo condenar Mantega. Venho dizendo o mesmo aqui há meses. A revista britânica The Economist chegou a pedir sua cabeça, mas tudo isso é cortina de fumaça. Engana-se aquele que pensa que Mantega representa a “nova matriz” econômica, ou seja, o velho e fracassado nacional-desenvolvimentismo. É a própria Dilma quem dá as cartas.
Se Mantega sair, quem entra? Luciano Coutinho? Belluzzo? Pois é. O modelo fracassado vem de cima, e Mantega é apenas o garoto de recados, o estagiário que obedece ordens, um ministro fraco que está em cargo tão poderoso justamente por ser fraco. Portanto, respondendo a pergunta inicial, Mantega é recordista no Ministério da Fazenda por endossar a política monetária equivocada da presidente e seu antecessor. Mirar nele como culpado é errar o alvo.
Rodrigo Constantino
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