Na FOLHA: "Fantasmas do passado", por FERNANDO RODRIGUES

Publicado em 14/05/2014 08:48

O eleitor vota quase sempre movido por dois sentimentos, o medo ou a esperança. Às vezes, a combinação de ambos.

O PT colocou ontem no ar um comercial de um minuto nos intervalos das TVs abertas. Explora o discurso do medo. Pessoas são mostradas vendo a si próprias num passado recente quando não tinham acesso a emprego, escola, saúde e lazer. Ao fundo, uma música de apelo fúnebre.

"Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo que conseguimos com tanto esforço", diz o locutor. "Nosso emprego de hoje não pode voltar a ser o desemprego de ontem. Não podemos dar ouvidos a falsas promessas. O Brasil não quer voltar atrás".

Em resumo, diz o PT, sem a reeleição de Dilma Rousseff virá o caos. A narrativa é clássica. Visa a inocular o pânico em quem teve alguma melhora de vida. A presidente necessita estancar a erosão em sua popularidade e assegurar o núcleo duro de seu eleitorado, na faixa de 30% a 35%. Desse rebanho não pode fugir nem mais uma ovelha. Daí a escolha do tom quase de velório do comercial veiculado ontem à noite.

Vai funcionar? Difícil saber. João Santana, o marqueteiro dilmista, não usaria um filme sem testá-lo antes.

Em eleições passadas, a estratégia do medo foi muito usada. Em 1998, o jingle de FHC falava de um "mundo turbulento" e de um Brasil que não podia parar. Parar com quem? Com Lula, que era o adversário. Deu certo.

Em 2002, José Serra levou a atriz Regina Duarte à TV dizendo que estava com medo. Lula rebateu com o "a esperança vai vencer o medo". Deu PT. Em 2006 e 2010, os petistas jogaram com o medo do fim do Bolsa Família. Ganharam tudo.

Agora é a vez de Dilma. A propaganda de ontem tem chuva cenográfica e uma imagem com textura de cinema. Parece um daqueles filmes bíblicos de Franco Zeffirelli. Talvez um pouco triste demais para quem também precisa vender esperança.

Anúncio petista usa discurso do medo contra adversários

Filme do PT na televisão associa rivais a 'fantasmas do passado' e afirma que Brasil 'não quer voltar atrás'

Tucano Aécio Neves classificou de 'triste' a iniciativa petista; para Eduardo Campos, é um 'grande tiro no pé'. 

O PT decidiu aprofundar o discurso do medo para tentar alavancar a pré-candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição. A estratégia ficou visível ontem num comercial de um minuto de duração exibido nas TVs abertas.

As imagens mostram brasileiros empregados, com acesso a remédios, estudo e lazer, em contraposição a pessoas desempregadas, passando fome e pedindo dinheiro em semáforos. Seriam os "fantasmas do passado", o título do comercial petista.

Produzido e dirigido pelo marqueteito João Santana, responsável pelas eleições de Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e de Dilma (2010), o comercial tem imagem com textura de película de cinema, produção esmerada e trilha sonora com tom fúnebre.

O locutor alerta: "Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo o que conseguimos". Ao final, diz: "Nosso emprego de hoje não pode voltar a ser o desemprego de ontem. Não podemos dar ouvidos a falsas promessas. O Brasil não quer voltar atrás".

É uma alusão a propostas feitas por adversários como Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Aécio tem dito que é necessário tomar "decisões impopulares" na economia. Campos promete buscar inflação anual de 3% a partir de 2019, política chamada de recessiva por Dilma.

A estratégia usada agora pelo PT guarda semelhança com a utilizada em 1998 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

EM 2002, FALHOU

Na TV, FHC falava de um "mundo turbulento" por causa da crise internacional da época. O Brasil não podia parar, dizia, referindo-se ao então adversário direto, Lula. O comercial de 1998 sugeria que só o tucano estaria preparado para continuar a combater a inflação. A abordagem deu certo. O PSDB venceu.

Em 2002, a jogada falhou. Naquele ano, o PSDB tentava eleger José Serra, apresentado como o mais capacitado para manter a estabilidade econômica dos anos FHC. Num comercial, usou a atriz Regina Duarte dizendo que sentia medo ao pensar numa alteração de partido no poder.

Lula era o candidato de oposição pela quarta vez. O publicitário do petista à época, Duda Mendonça, criou o slogan "a esperança vai vencer o medo". O PT ganhou.

Nas eleições seguintes, foi a vez de o PT adotar a mesma estratégia dos tucanos, mas com gradações diferentes. Em 2006, já com João Santana de marqueteiro, Lula insinuou em seus comerciais que o PSDB iria privatizar empresas, inclusive a Petrobras.

Em 2010, a propaganda petista que elegeu Dilma sugeriu que o PSDB faria novas privatizações e que poderia reduzir ou acabar com programas como o Bolsa Família.

"É triste ver um partido que não se envergonha de assustar a população para tentar se manter no poder", criticou o pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves.

Para Eduardo Campos, pré-candidato do PSB, o PT começa a dar sinais de "desespero". "Acho que aquilo vai ser um grande tiro no pé. Com esse tipo de campanha, os que acham que vão colocar medo, vão encorajar o povo a tirar a presidente Dilma inclusive do segundo turno."

Toffoli assume o TSE e diz que ligação com PT é 'página virada'

Cerimônia de posse contou com a presença de 3 presidenciáveis

DE BRASÍLIA

Na presença dos três principais presidenciáveis, o ministro José Antonio Dias Toffoli tomou posse ontem à noite na presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O ministro, que fez carreira jurídica no PT, disse que a sua ligação com o partido é "página virada".

Indicado em 2009 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o STF (Supremo Tribunal Federal), Toffoli foi advogado do PT em três campanhas presidenciais de Lula e atuou na Casa Civil e na Advocacia-Geral da União na gestão do petista.

"Desde que eu fui indicado para ministro do STF em 2009, lá se vão quase cinco anos, eu virei esta página. Eu tive aprovação dos senadores, inclusive da oposição".

A cerimônia foi prestigiada pela presidente Dilma Rousseff, que busca sua reeleição, e por seus principais adversários, Aécio Neves (PSDB-MG) e Eduardo Campos (PSB-PE).

Toffoli ficará no cargo pelos próximos dois anos.

Na cerimônia, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, cobrou mudança em resolução do TSE que obriga o Ministério Público a obter autorização judicial para investigar crimes eleitorais. A norma deve ser discutida pelo STF.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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