Quadro preocupante (sobre a corrida presidencial), por MERVAL PEREIRA

Publicado em 19/07/2014 12:59 e atualizado em 21/07/2014 10:30
Merval Pereira é articulista político de O Globo + Rodrigo Constantino, e Ricardo Setti, de veja.com.br

Apesar de ter variado para menos na margem de erro e de seus competidores mais próximos não terem saído do lugar, a presidente Dilma tem na pesquisa do Datafolha/TV Globo divulgada ontem um quadro prospectivo preocupante. No mais longo prazo, a redução da diferença que a separa de Aécio Neves do PSDB no segundo turno leva a um empate técnico pela primeira vez, com a tendência de queda de Dilma se confirmando, enquanto o candidato tucano cresce.

Também para o candidato do PSB Eduardo Campos a diferença num hipotético segundo turno foi reduzida para sete pontos percentuais apenas, de 45% para 38%. Isso quer dizer que quando a presidente Dilma é confrontada diretamente com seus principais opositores, a possibilidade de que ela perca aumenta a cada pesquisa, embora os dois sejam bem menos conhecidos do que ela.

Há outros dados preocupantes para a candidatura oficial. Ela continua sendo a mais rejeitada de todos os candidatos, com 35% de índice, o dobro da rejeição de Aécio e o triplo da de Campos. Em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, a rejeição de Dilma atinge nada menos que 47%. 

A presidente Dilma, no entanto, continua vencendo em praticamente todas as regiões do país, com exceção do sudeste, onde está em empate técnico com o candidato tucano Aécio Neves. O Nordeste continua sendo sua fortaleza, embora a pesquisa Datafolha tenha detectado uma queda de sua popularidade na região. Ela vence Aécio de 49 a 10, mas tinha 55% na pesquisa anterior. O ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos aparece com apenas 12% na região em que é mais conhecido politicamente.

O que deve estar preocupando a campanha da presidente Dilma é o ânimo do eleitorado, que não está nada otimista. A maioria acha que a inflação e o desemprego vão aumentar, que o poder de compra vai ser reduzido, embora 70% dos entrevistados tenham dito que não temem perder o emprego e a maioria, embora considere que a perspectiva econômica é ruim para o país, considera que sua vida pessoal vai melhorar ou continuar como está.
 

A Copa do Mundo não teve nenhuma influência na aprovação dos candidatos, tanto que Aécio, com 20%, e Campos com 8% (tinha 9% no levantamento anterior) mantiveram-se no mesmo lugar e a própria presidente Dilma caiu na margem de erro, de 38% para 36%. Apesar disso, a maioria acha que a presidente Dilma foi a mais beneficiada pela realização do campeonato mundial de futebol, o que pode ser um indício ruim para ela, pois mesmo assim ela perdeu pontos.
Outro índice muito analisado nas pesquisas eleitorais, o que mede a avaliação do eleitor sobre o governo do candidato (a) a reeleição, está há alguns meses dentro da margem que indica dificuldade para a eleição do(a) incumbente. Dilma caiu de 35% para 32% entre aqueles que consideram seu governo ótimo ou bom, e a marca de 35% já é o início do ponto negativo nessa avaliação.
 

Somente os governantes que estão acima de 35% de ótimo ou bom entram na faixa de reeleição mais provável. Nesta mesma época quando tentaram a reeleição os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso tinham 38% de ótimo e bom.
Todos esses dados ficam piores quando se sabe que a presidente Dilma é conhecida por 99% dos eleitores, sendo que 53% dizem que a conhecem muito bem. Já o candidato Aécio Neves é conhecido por 81% dos eleitores, mas somente 17% dizem que o conhecem bem. O candidato do PSB Eduardo Campos tem ainda mais espaço para crescer: apenas 59% dos eleitores dizem conhecê-lo, mas somente 7% consideram que o conhecem muito bem.

POLÍTICA

O tal mercado

 

Merval Pereira, O Globo 

O comportamento de regozijo do mercado financeiro, toda vez que uma pesquisa de opinião mostra a chance de derrota de Dilma na eleição presidencial, tem gerado críticas por parte dos petistas, inclusive do mais graduado deles, o ex-presidente Lula, que chegou a ironizar recentemente esse comportamento: “Pelo que eu sei, esse tal de mercado internacional nunca votou em você (Dilma) e nunca votou em mim. Quem vota na gente é o povo, cujo único mercado que conhece é onde compra feijão”.

Mas desde sempre a situação da economia não apenas influencia o resultado das eleições, como também a situação política interfere na economia, especialmente em anos eleitorais como o que vivemos. “É a economia, estúpido”, já advertiu o marqueteiro James Carville na campanha que elegeu Bill Clinton presidente dos Estados Unidos.

Lula sabe o que é isso. Já tivemos no mercado internacional o lulômetro, que o banco de investimentos americano Goldman Sachs criou na eleição de 2002 para medir a influência na cotação do dólar do risco de Lula vir a ser eleito presidente da República. O modelo matemático previa que o dólar chegaria a R$ 3 em outubro, e ele chegou a R$ 4, diante da realidade de Lula subindo a rampa do Palácio do Planalto.

E, diante da desconfiança do tal mercado, Lula teve que lançar a “Carta aos Brasileiros” para garantir que não mudaria a política econômica. Anos depois, Lula se confessaria arrependido de ter feito tal carta, o que só reforça a desconfiança atual dos mercados com o governo Dilma.

Depois de duas eleições em que reeleger Lula ou eleger Dilma não parecia perigoso para a economia do país, chegamos este ano a uma eleição diferente. O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que deve ser o principal nome da economia em um eventual governo do tucano Aécio Neves, já previra que a possibilidade de Dilma se reeleger no primeiro turno, como indicavam as pesquisas até pouco tempo, poderia ter o mesmo efeito que a vitória de Lula em 2002.

Em consequência, a possibilidade de haver segundo turno, com boa chance de derrota do PT, poderia fazer a Bolsa de Valores retomar o crescimento, depois de ter caído quase 40% nos anos Dilma.

Na semana passada, diante da pesquisa Datafolha que mostra um empate técnico entre Dilma e Aécio num segundo turno, o Ibovespa subiu, empurrado especialmente pelas ações das estatais. O que quer dizer que os investidores acreditam que num novo governo as estatais não serão mais usadas como instrumentos de política econômica, mas como empresas competitivas num mercado internacional cada vez mais difícil.

Isso porque o mercado, dizem os especialistas, é essencialmente um instrumento da democracia, como transmissor de informações e expressão da opinião pública. Lembrei-me de um debate, anos atrás, em que fiz a mediação entre dois dos pais do Real, os economistas Gustavo Franco e André Lara Resende, hoje atuando como assessor de Marina Silva, sobre o qual já escrevi na coluna.

Quando o assunto foi o mercado, os dois concordaram em que a sua impessoalidade sai sempre mais barata para o contribuinte. “Goste-se ou não, o mercado é a forma mais eficiente e influente de expressão da opinião pública, e transparência é tudo quando se trata do funcionamento do mercado”, disse Gustavo Franco.

Para ele, uma coisa é certa: “quanto mais distantes do mercado estiverem as relações entre o público e o privado, quanto mais discricionárias as decisões, e quanto menor a transparência, maior será a corrupção”.

André Lara Resende destacou que a contribuição mais relevante do economista austríaco liberal Friedrich Hayek “é o seu papel de defensor dos mercados, como insuperável transmissor de informação e estimulador da criatividade, onde se pode encontrar a mais coerente e fundamentada análise dos riscos econômicos e sociais do aumento do papel do Estado”.

Para Franco, “quem vai terminar com a sociedade do privilégio é a economia de mercado, e não é outro o motivo pelo qual a estabilização, a abertura, a desregulamentação, e a privatização geraram tantas tensões”. A economia de mercado, na definição de Franco, “é subversiva numa sociedade do privilégio, pois propugna a competição, a impessoalidade e a meritocracia, e dispensa, tanto quanto possível, a interveniência de um Estado cheio de vícios”.

 

Empate técnico no segundo turno: Dilma ladeira abaixo!

A pesquisa do Datafolha divulgada ontem deve ter tirado o sono dos petistas. Alguns devem ter tido pesadelos com imagens de tetas suculentas se afastando de suas boquinhas. Outros devem ter acordado no meio da madrugada ensopados de suor, sonhando com a necessidade de efetivamente trabalhar uma vez na vida. O poste subiu no telhado? Eis o quadro das lamentações petistas hoje:

Fonte: GLOBO

Fonte: GLOBO

Pela primeira vez há empate técnico no segundo turno. Isso, nunca é demais lembrar, mesmo com Dilma conhecida por todos e Aécio Neves com elevado grau de desconhecimento ainda. Até aqui Dilma está disputando com alguém que mal aparece na televisão, lembrando que, infelizmente, poucos leem jornais nesse país. A tendência de ambos está clara.

A máquina estatal está ligada a todo vapor para impulsionar a campanha da “presidenta”, e ela, mesmo assim, segue ladeira abaixo. Entende-se por que o PT tem tanta raiva da democracia, e tenta de todas as maneiras substituí-la por um simulacro em que os “movimentos sociais”, estes sim controlados pelo partido, decidam sobre tudo.

O núcleo de campanha da presidente conta com seu trunfo: o enorme tempo de TV no “horário gratuito”, pago por todos nós. Dilma tem quase o triplo do tempo de Aécio. Resta perguntar: para mostrar o quê? Sim, sabemos como o PT inventa mentiras, tenta maquiar a realidade.

Mas o povo sabe que as coisas não vão nada bem, que a inflação come cada vez mais seu salário, que o emprego está ameaçado, que o endividamento das famílias chegou ao limite, que os serviços públicos pioraram, e muito. O povo quer mudança!

Dilma tentará se vender como a alternativa por “mais mudança”, mas isso é uma piada de mau gosto. A rejeição a seu governo aumenta sem parar, com bons motivos. Há um enorme cansaço por parte da população.

O clima “mudancista” não é geral, como dizem os “jornalistas” chapas-brancas, pois Geraldo Alckmin lidera com folga em São Paulo e deve levar a reeleição no primeiro turno (que inveja dos paulistas, uma vez que Garotinho lidera aqui no Rio). O problema é o PT mesmo, o governo federal, a incompetência da própria presidente Dilma, sua arrogância, sua equipe econômica com visão ideológica extremamente equivocada.

É preciso resgatar certos pilares de uma economia saudável. É preciso emplacar reformas estruturais que possam impedir uma catástrofe à frente. É hora de colocar gente séria e competente na gestão econômica. É hora de mudança!

PS1: Aos petistas, segue uma singela homenagem às pesquisas divulgadas pelo Datafolha:

PS2: As ações das empresas brasileiras hoje, especialmente das estatais, vão disparar, valorizar-se em bilhões de reais por conta dessa pesquisa. Petrobras já sinaliza alta de 5% na abertura. Os investidores, do Brasil e do mundo todo, sabem o custo de mais quatro anos de Dilma no poder, o estrago que isso significa em termos de destruição de valor de nossos ativos.

por Rodrigo Constantino

POR QUE AÉCIO PODE GANHAR ESTA ELEIÇÃO: leitura do mapa eleitoral de 2010 mostra que as coisas mudaram, para MUITO melhor, favorecendo o candidato tucano em 2014

 

Aécio é celebrado por partidários ao ser eleito presidente do PSB, a 18 de maio do ano passado: quadro em 2014, com ele no páreo, é muito diferente do que Serra protagonizou em 2010 -- e é melhor (Foto: Gazeta do Povo)

Aécio é celebrado por partidários ao ser eleito presidente do PSDB, a 18 de maio do ano passado: quadro em 2014, com ele no páreo, é muito diferente do que Serra protagonizou em 2010 — e é melhor (Foto: Gazeta do Povo)

A presidente Dilma venceu o tucano José Serra no segundo turno das eleições de 2010 por 12 milhões de votos — em percentual, ela teve 56,05% dos votos válidos, Serra, 43,95%.

Este texto pretende mostrar, com FATOS e NÚMEROS, como é perfeitamente possível que o candidato tucano em 2014, Aécio Neves, apresente um resultado muito diferente — podendo vencer as eleições.

Não estou levando em conta pesquisas de intenção de voto (em que Aécio vem subindo, bem como o outro candidato de oposição, Eduardo Campos, do PSB, ao passo que Dilma cai).

E, por ora, vamos SUPOR que Eduardo Campos, menos conhecido, com menos estrutura, menos apoios e menos bases estaduais do que as de Aécio, não consiga chegar ao segundo turno.

É claro que poderemos ter uma disputa Dilma x Eduardo Campos, ou, quem sabe — em política quase nada é impossível  — até uma disputa Eduardo x Aécio.

O cenário deste texto, portanto, refere-se exclusivamente a uma disputa entre Dilma e Aécio.

Vou de início considerar o perfil muito diferente dos candidatos tucanos em 2010 e em 2014 e, principalmente, as alianças partidárias que Serra NÃO conseguiu estabelecer em Estados vitais e que, com Aécio, vêm sendo formadas ou estão se esboçando.

Depois disso, tratarei dos resultados eleitorais do segundo turno de 2010 e tentarei mostrar como eles poderão mudar, dramaticamente, neste ano — mudar para melhor para o PSDB.

E este post vai apresentar NÚMEROS. Vamos precisar somar para chegar à conclusão que apresento no segundo parágrafo acima.

Comecemos por rápidas considerações sobre diferenças de perfil entre os dois candidatos.

Dilma e Serra se cumprimentam antes do último debate da campanha passada, a 30 de setembro de 2010: o adversário da presidente este ano tem perfil bem diferente (Foto: Bruno Domingos/Reuters)

Dilma e Serra se cumprimentam antes do último debate da campanha passada, a 30 de setembro de 2010: o adversário da presidente este ano tem perfil bem diferente (Foto: Bruno Domingos/Reuters)

Serra, sem dúvida um notável administrador público, é um político individualista e criador de arestas; Aécio é agregador por natureza, circula em diferentes áreas, costura alianças com facilidade. Serra tem 72 anos de idade; Aécio, 54. Nem os mais ferrenhos admiradores de Serra consideram-no carismático; Aécio tem esse dom difícil de definir. Serra consegue se desentender e afastar correligionários; Aécio transita bem até com adversários. Serra já perdeu 2 eleições para prefeito e 2 para presidente; Aécio ganhou todas as 3 últimas eleições majoritárias que disputou.

Posso estar redondamente enganado, mas parece-me que Aécio terá um índice de rejeição muito inferior ao que Serra alcançou nas eleições presidenciais que travou. Posso também estar redondamente enganado, mas penso que Aécio tem potencial para obter votos onde Serra não conseguiria.

Agora, vamos analisar a situação em vários Estados que definiram a eleição de 2010 em favor do lulopetismo — e nos quais a situação, neste 2014, tem tudo para ser bem diferente.

Iniciemos por MINAS GERAIS, o Estado que Aécio governou por 8 anos e que atualmente representa no Senado. Em Minas, Dilma massacrou José Serra no segundo turno, com 1,8 milhão de votos a mais.

Pimenta da Veiga (centro) com o ex-governador Antonio Anastasia (esq.) e Aécio: quer que o tucano ganhe em seu Estado, Minas, por 3,5 milhões de votos. Serra perdeu por 1,8 milhão em 2010 (Foto: otempo.com.br)

MINEIROS — Pimenta da Veiga (centro) com o ex-governador Antonio Anastasia (esq.) e Aécio: o candidato ao governo quer que o tucano ganhe em seu Estado, Minas, por 3,5 milhões de votos. Serra perdeu por 1,8 milhão em 2010 (Foto: otempo.com.br)

Com Aécio, que deixou o governo de Minas em 2010 com mais de 80% de popularidade após dois mandatos e se elegeu com votação recorde para o Senado, alguém duvida de que a história será outra?

Até o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), poderá apoiar Aécio, que o tucano ajudou a eleger duas vezes, mesmo tendo o líder de seu partido, Eduardo Campos, como aspirante ao Planalto. O candidato a governador pelo PSDB, Pimenta da Veiga, quer que a aliança de 16 partidos que o apóia — e a Aécio — faça com que o tucano vença Dilma por 3,5 milhões de votos.

Mas vamos supor que a diferença seja menor, seja de 3 milhões de votos. Só aí, levando em conta o 1,8 milhão que Dilma colocou sobre Serra, estará 4,8 milhões de votos menor a vantagem de 12 milhões que a presidente obteve sobre o rival tucano nas eleições passadas.

Sigamos agora para SÃO PAULO, o maior colégio eleitoral do país, com perto de 32 milhões de eleitores (quase 23% do total brasileiro, pouco acima de 141 milhões).

Em São Paulo, terra natal e base política de Serra, ele, naturalmente, venceu em 2010, fazendo 1,9 milhão de votos de vantagem sobre Dilma. Na verdade, foi pouco — poderia ser mais. O governador Geraldo Alckmin, em 2006, disparou no primeiro turno 4 milhões de votos à frente do adversário petista — e ele era ninguém menos do que o próprio Lula, o “Deus” da ministra Marta Suplicy.

Alckmin e Lula durante um dos debates da campanha de 2010: o tucano bateu o

Lula com Alckmin durante um dos debates da campanha de 2006: o tucano bateu o “Deus” de Marta Suplicy, no primeiro turno, por 4 milhões de votos em São Paulo. Se Aécio repetir a proeza no segundo turno deste ano… (Foto: Jonne Roriz/Agência Estado)

Admitamos, então, que, tendo um candidato de Minas e um vice de São Paulo, como se cogita, Aécio cresça em relação ao que obteve Serra. Em vez de 1,9 milhão de votos à frente, que tenha apenas 500 mil votos adicionais em relação a Serra em 2010, e feche o Estado com 2,4 milhões à frente da presidente Dilma.

Guardemos esse número: meio milhão de votos mais do que obteve Serra.

Vamos em frente. Agora, é a vez da BAHIA, quarto maior colégio do país, com mais de 10 milhões de eleitores. Ali, sem ter palanque nem apoio significativo, Serra viu-se esmagado por Dilma em 2010: perdeu por 2,8 milhões de votos!

Agora, a coisa mudou. Dilma não terá um palanque extraordinário no Estado — o candidato do PT, Rui Costa, deputado federal e ex-chefe da Casa Civil do governador Jaques Wagner, não provocou até agora um levante das massas em favor da bandeira vermelha do PT.

E terá pela frente uma chapa duríssima, que Aécio conseguiu montar aglutinando inimigos históricos irreconciliáveis, desta vez juntos para derrotar o PT no Estado e em nível nacional: o duas vezes ex-governador Paulo Souto (DEM), candidato ao Palácio de Ondina, o ex-deputado e ex-vice-presidente do Banco do Brasil Geddel Vieira Lima (PMDB), aspirante ao Senado, e o ex-deputado Joacy Góes, ex-diretor do jornal Tribuna da Bahia, candidato a vice-governador pelo PSDB.

A chapa tem ainda o apoio decidido do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), um dos dois prefeitos mais bem avaliados do Brasil.

Não é impossível que não apenas Aécio não seja derrotado na Bahia por margem considerável, mas que vença. De todo modo, os 2,8 milhões de votos a mais para Dilma de 2010 vão desabar.

Outro Estado em que as coisas mudaram radicalmente em relação a 2010 é PERNAMBUCO. O massacre ocorrido em Minas e na Bahia, proporcionalmente, se manteve em Pernambuco, onde Dilma saiu-se no segundo turno com 2,3 milhões de votos sobre Serra.

Agora o bicho vai pegar: o próprio Estado de Pernambuco tem candidato a presidente, com o ex-governador Eduardo Campos (PSB), eleito duas vezes por grande maioria e sempre bem avaliado nas pesquisas de opinião pública, e que tirou facilmente da Prefeitura do Recife o petista João da Costa Bezerra nas eleições de 2012 em prol do candidato de seu partido, Geraldo Júlio.

Souto (com o microfone), com Aécio (esq.), ACM Neto e Geddel: palanque forte do tucano na Bahia (Foto: ascom/democratas)

O ex-governador Paulo Souto (com o microfone), com Aécio (esq.), o prefeito ACM Neto e Geddel: palanque forte do tucano na Bahia (Foto: ascom/democratas)

Parece não haver dúvida de que Dilma será pulverizada por Campos em seu Estado natal, onde o eleitorado próprio do PSDB e do DEM poderá eliminar diferenças entre Aécio e a candidata do PT na disputa pelo posto de segundo mais votado.

Digamos, então, que os 2,3 milhões de votos caiam para 300 mil em favor de Dilma. São 2 milhões de votos menos naquela vantagem apontada lá em cima, de 12 milhões.

A esta altura, já estamos EMPATADOS, teoricamente, em relação a 2010. Os 12 milhões de votos a mais de Dilma sobre Serra terão desaparecido.

E ATENÇÃO: isso ocorre mesmo supondo que NENHUM dos votos atríbuídos a Dilma mudará de lado em 2014 — ou seja, que TODOS os eleitores que votaram na presidente repetirão seu voto. Se levássemos em conta a possibilidade de que muita gente que elegeu Dilma poderá votar em Aécio, a balança já estaria pendendo para o tucano.

Estamos supondo que, hipoteticamente, TODOS os novos votos obtidos pelo PSDB viriam de pessoas que votaram em outros candidatos, anularam seu voto, votaram em branco ou se abstiveram.

Para não tornar este post interminável, vamos, então, examinar só mais três Estados nos quais Dilma fez a festa sobre Serra em 2010, mas que desta vez exibirão um panorama muito distinto: Ceará, Maranhão e Amazonas.

No CEARÁ, outra derrota impiedosa de Serra em 2010: ficou 2,3 milhões de votos para trás. Naquele ano, Serra se via praticamente sozinho no palanque — estavam com Dilma os irmãos Gomes, Cid, o governador, e o ex-ministro Ciro, que já foram tucanos, o PT local, que é forte, o PCdoB, que não é nanico, e o PMDB, sempre numeroso. Dilma ainda recebeu o reforço da presença constante de Lula na campanha. O único e relutante suporte de Serra no Ceará foi o então senador Tasso Jereissati, que não conseguiu se reeleger.

Desta vez, a ampla coligação que elegeu Dilma está problemática. O PMDB do senador Eunício Oliveira — líder disparado nas pesquisas de intenção de voto, com mais de 40% das preferências — deixou o governo de Cid Gomes (PROS), tem o apoio do PROS nacional e complica a vida dos irmãos Gomes. O PT está dividido entre apoiar o candidato dos Gomes – os quais ainda não se decidiram por um nome — ou lançar a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins.

O três vezes ex-governador Tasso Jereissati decidiu voltar à política e Aécio está tentando costurar uma aliança com Eunício.

Tudo indica que dá para esquecer os 2,3 milhões de votos a mais de Dilma em 2010.

Até no MARANHÃO, onde parece que nada muda nunca, há novidades. O favorito disparado para vencer as eleições, até o momento, fincado em radical oposição ao domínio da família Sarney no Estado, é o ex-deputado Flávio Dino (PCdoB), também ex-presidente da Embratur, que ofereceu palanque a… Aécio Neves e, posteriormente, a Eduardo Campos. E não fará campanha pela candidata do PT, pelo contrário.

Apesar da aliança histórica do PCdoB com o PT, o PT local, pressionado por Dilma, apoia os Sarney, cujo candidato a governador é o senador suplente do próprio pai Lobão Filho (PMDB), que jamais disputou uma eleição antes e tornou-se candidato há algumas semanas substituindo um secretário de Estado inexpressivo.

Alguma coisa estranha anda acontecendo por lá, porque a governadora Roseana Sarney (PMDB), com quem Dilma contava para, se reconduzida ao Planalto, manter a folgada maioria que tem no Senado, desistiu de disputar o cargo e vai continuar no Palácio dos Leões até o dia 1º de janeiro de 2015.

Parece-me, portanto, que será um otimismo deslavado considerar que, tendo um candidato forte a governador fazendo campanha contra, Dilma repita em 2014 os 1,688 milhão de votos que, em 2010, livrou sobre Serra no Estado com quase todos os piores indicadores sociais do país.

Arthur Virgílio, prefeito de Manaus e o mais popular do país: este ano, o presidenciável tucano terá palanque forte no Amazonas, onde Serra levou de 9 a 1 de Dilma (Foto: psdb.org)

Arthur Virgílio, prefeito de Manaus (PSDB) e o mais popular do país: este ano, o presidenciável tucano terá palanque forte no Amazonas, onde Serra levou de 9 a 1 de Dilma (Foto: psdb.org)

Finalmente, o AMAZONAS. O eleitorado é relativamente pequeno, próximo a 2 milhões de votos, mas o que aconteceu ali em 2010 é altamente expressivo. No primeiro turno, Dilma teve 90% dos votos válidos! Nove em cada dez! Foi, proporcionalmente, a mais severa derrota de Serra no país — e terminou, no segundo turno, com a presidente quase 1 milhão de votos na frente — 866 mil, para sermos mais exatos.

Serra estava solitário, isolado, sem nada e sem ninguém. Agora, Aécio Neves terá no palanque o prefeito mais bem avaliado do Brasil, o ex-senador Arthur Virgílio (PSDB), valendo sempre lembrar que Manaus e região detêm 60% do eleitorado amazonense.

No terceiro maior colégio eleitoral do país, o Rio de Janeiro, não se pode dizer que Dilma repetirá, na certa, a vitória por 1,7 milhão de votos a mais que Serra na disputa com Aécio.

A perspectiva de ter uma surpresa como a ex-presidente do Supremo Ellen Gracie como candidata ao governo, o apoio do PMDB e sua forte capilaridade no interior, e de figuras como Cesar Maia (ele próprio candidato a governador pelo DEM) e de Fernando Gabeira podem diminuir consideravelmente a diferença, sem contar que Aécio, criado no Rio de Janeiro por ser filho de deputado na época em que a Câmara ainda não fora transferida para Brasília, tem fortes conexões cariocas e fluminenses.

Não menciono outros Estados porque, longe de ser problemas para o PSDB e aliados, são terra fértil para eles: os tucanos venceram as eleições de 2006 e de 2010 no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, e tendem a voltar ganhar em todo o Sul, com seu enorme contingente de 21 milhões de eleitores. José Serra venceu Dilma nos dois Mato Grosso e em Goiás em 2010, grande cinturão do agronegócio, que anda furioso com o governo petista.

Feitas as contas, vê-se que a leitura do cenário de 2010, com os atores e as mudanças de 2014, tornam perfeitamente possível uma vitória tucana no dia 26 de outubro próximo — data da realização do segundo turno das eleições para presidente e governador.

 

Aécio acusa Dilma de mentir sobre Mais Médicos: o PT “paz e amor” perdeu o equilíbrio com as pesquisas

A presidente Dilma, citando pela primeira vez, ainda que não nominalmente, seu opositor Aécio Neves, disse que “o senador” é contra o programa Mais Médicos, e que suas críticas não significam melhoria do programa, e sim seu término. Em uma estranha lógica, Dilma justifica trazer “médicos” cubanos que não fizeram o Revalida porque poucos brasileiros são qualificados:

“O Revalida tem aprovado um número insuficiente de médicos para atender a população que precisa no Brasil. No ano de 2013, de 1.595 participantes, aprovaram 109, portanto, 6,8% foi aprovado. Além disso, precisamos aumentar o número de médicos que podem prestar atendimento no Brasil, porque enquanto a procura por médicos for maior do que a oferta, quem fizer o Revalida vai preferir as regiões mais ricas”.

Ou seja, se nossos médicos não são efetivamente médicos, então Dilma prefere importar escravos cubanos que também não são efetivamente médicos. Isso lembrando que o Brasil possui 200 milhões de habitantes, enquanto Cuba possui apenas 11 milhões. Não era mais fácil levar enfermeiros brasileiros para essas áreas, para “quebrarem o galho” exatamente como esses “médicos” cubanos fazem? Isso geraria empregos aqui, e não transferiria dinheiro de nossos trabalhadores para o ditador cubano.

“Infelizmente no Brasil não temos médicos em número suficiente. Formar médicos leva tempo: seis anos de graduação, três a quatro anos de residência. Por isso, tivemos de trazer médicos do exterior”, afirmou a presidente. Mas não são médicos! Afinal, não passam no Revalida. E o próprio PT dificultou a formação de médicos nesses últimos 12 anos, criando obstáculos para as faculdades de medicina. É muita contradição.

Aécio Neves reagiu, afirmando que a presidente está mentindo quando diz que ele é simplesmente contra o programa em si: ”É uma pena que o resultado das pesquisas eleitorais afete tanto o equilíbrio da candidata que hoje tem a responsabilidade de dirigir o País”. E acrescentou:

“Não há nada que desqualifique tanto o debate político e desonre tanto a democracia quanto o uso da mentira e de artifícios como o de colocar na boca do adversário palavras que ele não disse. Práticas que se tornam ainda mais graves quando partem da presidente da República. [...] Para que não haja duvidas: não vou acabar com o Mais Médicos, vou aprimorá-lo. Não vou acabar com o Bolsa Família, vou aprimorá-lo”.

À medida que as pesquisas eleitorais mostram aumento na rejeição aos petistas, a postura artificial de “paz e amor” cede lugar à verdadeira essência deles: o discurso do ódio, as ofensas, as mentiras raivosas. Lula chegou a atacar a imprensa, pintar seus candidatos como vítimas, e pedir para que comecem a reagir:

“A gente aprendeu que levava um tapa numa face e virava a outra. E nós não podemos mais virar a outra. Nós precisamos agora é começar a reagir e fazer as coisas que a gente tem que fazer. [...] A lógica é essa: aquilo que a gente faz, a gente mostra. Aquilo que a gente não faz os adversários mostram. E você sabe quem são seus adversários. Você liga a televisão e todo o dia você apanha às 8h da manhã, você apanha às 3h da tarde, às 7h da noite. Às 6h da manhã você já está apanhando”.

É muita cara de pau. Lula desqualificou as pesquisas ainda, pois quando elas mostram algo incômodo, devem simplesmente ser ignoradas. Só valem quando mostram coisa boa. Alexandre Padilha não consegue decolar, tem apenas 4% das intenções de voto em São Paulo, mas Lula acha que está tudo ótimo e que ele vai vencer. Não serve nem para o PT fazer uma mea culpasobre o Mais Médicos na forma atual? Quer prova melhor de que o povo não aplaude coisa alguma esses cubanos infiltrados no país?

A verdade é que o PT empobrece muito o debate político nacional. O país precisa de propostas, de debates sérios, calcados nos argumentos, na viabilidade dos projetos, na origem dos recursos escassos, na escolha das prioridades. O PT nunca quis isso. Para o partido, o mundo é um palanque onde as bravatas precisam ser cuspidas em troca de aplausos sensacionalistas. Falta seriedade, honestidade.

Os médicos brasileiros apanharam muito do PT nos últimos meses. Foram tratados como egoístas que não querem ir para o interior, para lugares mais pobres, ignorando a falta de infraestrutura desses locais e a ausência de um plano de carreira decente para os médicos. A presidente Dilma chegou a afirmar que os cubanos eram mais atenciosos. Não sou médico, mas faço meu diagnóstico político e alerto, nos moldes do Ministério da Saúde: o PT faz mal à democracia brasileira.

Rodrigo Constantino

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O Globo + VEJA

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2 comentários

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Olivi, no inicio do século passado, na segunda década, mais precisamente em 1.927 foi publicada a “Carta de Lavoro” pelo governo fascista italiano de Benito Mussolini.

    Em 2.002 foi publicada a “Carta ao Povo Brasileiro” pelo PT e, após a tomada do poder, demonstrou ser um governo, não fascista, mas extremamente “falsista” – nova unidade léxica – com fonética semelhante aos preceitos fascistas de seus integrantes, cujos desvios de condutas são de conhecimento público.

    FRASES DE EFEITO: FUI TRAÍDO! NÃO SABIA! E, a frase que demonstra o êxtase: “O MENSALÃO NÃO EXISTIU”!!

    ....”E VAMOS EM FRENTE” ! ! !....

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Não adianta trocar o Governante da hora, mantendo a mesma ideologia que o PSDB e PT adotam. É como trocar as moscas, no mesmo monte de m... [Estrume]. Não sabe o que é uma ideologia? Veja uma definição técnica do que é uma ideologia, aqui: http://www.youtube.com/watch?v=zZECwWYtmKg

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