Debate na Band: Blogueiro de VEJA diz que Aécio Neves foi o melhor no show de horrores

Publicado em 27/08/2014 05:37
"Poucas propostas decentes, muita enrolação, fuga pela tangente, dados infundados e promessas vazias", diz Rodrigo Constantino, de veja.com

O debate na Band: Aécio Neves foi o melhor no show de horrores

Terminou agora há pouco o primeiro debate entre os candidatos à presidência, organizado pela TV Bandeirantes. A verdade foi a primeira sacrificada, como de praxe. A língua portuguesa a segunda, em época na qual “nóis pega o peixe” passou a ser aceito como “apenas diferente”, e não mais algo incorreto. Marina Silva não quer que a conquista do tripé macroeconômico se “perda” (sic), o Pastor Everaldo quer que algo “seje” (sic) destacado, e por aí vai.

Mas se a forma fosse o principal ponto fraco, até dava para relevar. O problema é mesmo de conteúdo. Poucas propostas decentes, muita enrolação, fuga pela tangente, dados infundados e promessas vazias. Um espetáculo desprovido de essência, de solidez, de argumentos e propostas efetivas. Perde a democracia, ou talvez seja esta a democracia possível para nosso Brasil de hoje – quero crer que não. Abaixo, um rápido resumo de minha visão por cada candidato:

Aécio Neves

Foi o que se saiu melhor, sem dúvida. Manteve a postura e a calma, conseguiu colocar Dilma contra a parede em alguns momentos, como no caso da Petrobras, em que lembrou da perda de mais da metade do seu valor nos últimos anos e da transferência do noticiário econômico para o policial, com tantos escândalos e um diretor importante preso. Perguntou se a presidente não gostaria de aproveitar a oportunidade para pedir desculpas pela gestão temerária, o que foi um tiro certeiro. Não fugiu do legado positivo de FHC, das privatizações, como fizeram Alckmin e Serra antes. Soube explorar no final a diferença da equipe técnica, a experiência de Armínio Fraga, contra eventuais “aventuras” ou o “mais do mesmo”, que seria caótico. Teve uma tirada excelente ao dizer que “o sonho de todo brasileiro é viver no Brasil da propaganda do PT”. Só faltou emendar que o sonho da cúpula do PT é mais prosaico: sair da prisão! Pecou pela pusilanimidade ao não explorar melhor o Decreto 8.243, de viés bolivariano, preferindo falar em “preservar a separação dos poderes constitucionais”, em vez de mastigar melhor a mensagem e lembrar que representa o caminho da Venezuela, que o ex-presidente Lula considera viver em “excesso de democracia”. Poderia ter marcado ponto ao defender uma redução da maioridade penal logo de cara, o que não fez. E precisa maneirar nos termos para não reforçar a imagem de elitista. Falar coisas como “avilta” e “estertores” é música para nossos ouvidos, bem machucados pelos demais, mas não quer dizer patavina para um público mais simples. Dito isso tudo, é realmente assustador ver a (falta de) qualidade dos demais e pensar que Aécio poderá nem mesmo estar no segundo turno, o que nos dá vontade de jogar a toalha em ato de desespero e abandonar nosso país (o que, para a tristeza dos golpistas, não faremos).

Dilma Rousseff

Tensa, nervosa, na defensiva, e incapaz de responder uma só pergunta de forma direta. Mas treinou antes as táticas de enrolar e fugir, ou de defender o indefensável. Tenta se comparar ao governo FHC ignorando que foi nele que a inflação começou a ser efetivamente derrotada e que parte da crise na época foi causada pelo próprio PT e o risco Lula. Joga a responsabilidade pela estagflação atual na crise externa. Essa terrível crise externa de que Dilma tanto fala é aquela que fez os demais países emergentes crescerem mais que o dobro do Brasil com menos da metade de inflação? Talvez tenha conseguido enganar alguns incautos, mas em geral se saiu mal e deve ter perdido mais alguns votos, ao menos aqueles que não foram comprados. Enfatizou a importância de um plebiscito popular para uma nova Constituinte, o que é clara tentativa de golpe para quem esteve mais atento nos últimos anos. Fugiu pela tangente quando apertada sobre a relação promíscua com a ditadura cubana. Chamou a atenção, também, o fato de que concentrou sua munição mais em Aécio, sendo que Marina acaba de sair como favorita no segundo turno em nova pesquisa do Ibope. Será que o PT não confia nessas pesquisas e acha que o alvo deve ser mesmo o tucano?

Marina Silva

Postura de Gandhi, de quem paira acima de todos, da disputa partidária, o que é muito irritante para quem não sonha em salvar o planeta só com uma bike e um alface. Não conseguiu escapar de suas contradições, mas tampouco escorregou feio. Para seu público típico, diria até que foi bem, pois quem acende sempre uma vela para o Diabo e outra para Deus tem como alegar que defende de tudo, ou que é contra tudo. Marina é a favor do agronegócio (agora) e da ecologia sustentável. Quer aproveitar o melhor do PT e do PSDB, mas é a resposta para quem não agüenta mais a polarização entre ambos (e finge não ter sido do PT pelos últimos 30 anos). Ganhou pontos com os moderados quando, rebatendo a uma pergunta de Luciana Genro, disse que não dá mais para defender a velha esquerda que se julga dona da verdade absoluta (resta saber se ela não se considera esquerda). Mas quando questionada sobre o programa Mais Médicos, acabou o defendendo, ainda que como “paliativo”. É essa a “nova política” de Marina? Um bolivarianismo paliativo?

Luciana Genro

Uma piada a candidata do PSOL! A velha esquerda caricata, que “acusa” até o PT de neoliberal, lembrando que seu “papai” é não só do PT, como da linha dura esquerdista. A candidata de Gregório Duvivier acha que todos os males do mundo são responsabilidade do tal Capital Financeiro, um monstro mais malvado do que Hitler, pelo visto, como disse jocosamente um amigo. Ela quer combater a inflação com o MST! Mostra intolerância às religiões, especialmente ao cristianismo. E parece crer que as grandes prioridades do país são legalizar todas as drogas, o aborto e garantir mais direitos aos gays e transsexuais. Enfim, o simples fato de alguém com tais “ideias” retiradas diretamente de um panfleto marxista de um século atrás ser candidata e ainda receber o apoio de artistas e “intelectuais” mostra o atraso de nossa política.

Pastor Everaldo

O discurso é bom, mas o mensageiro não convence. Como brincou um leitor, parece que ele aprendeu sobre liberalismo pelo Twitter uma semana atrás. Toca nos pontos certos, fala em estado mínimo, em menos Brasília e mais Brasil, em federalismo com descentralização de poder, em reduzir a maioridade penal e valorizar quem trabalha de verdade, em cortar ministérios, até em privatizar a Petrobras! Mas fica tudo meio solto, sem convencer de verdade, sem o devido embasamento. O discurso certo na pessoa errada.

Levy Fidelix

O mesmo vale aqui. Foi uma surpresa interessante no debate, pois era um dos mais desonhecidos. Tem um jeito engraçado, e resolveu “bombardear” Marina com uma pergunta. Quer privatizar até as prisões (o discurso liberal vai ganhando força finalmente), liberar armas em casa para legítima-defesa e reduzir a maioridade penal. Como o Pastor Everaldo, tem discurso interessante, mas na fonte errada.

Eduardo Jorge

O candidato pelo PV foi a sensação da noite, pelo aspecto pitoresco. Uma espécie de Tiririca entre os outros (Luciana Genro é concorrente de peso quando tenta falar a sério). Pessoas maldosas poderiam até dizer que ele consumiu alguma clorofila estragada ou que tinha alguma substância estranha em sua granola. O fato é que o homem parecia ter saído de um hospício, e não juntava muito o lé com o cré. Chegou a encurtar uma resposta a míseros dois segundos, abrindo mão de seus três minutos, quando sabemos que o tempo é precioso demais em debates. Talvez estivesse com pressa para alguma coisa, em abstinência de granola, com muita fome, não sabemos.

O resumo geral é que nossa democracia é mesmo dominada por amadores, malucos ou safados, e assusta, como já disse, o fato de que o candidato que se destaca em termos de postura e apresentação de ideias corra o risco de sequer chegar ao segundo turno. É de tirar nosso sono mesmo…

Rodrigo Constantino

 

Eleições 2014

No 1º debate, Dilma e Aécio buscam polarização, e Marina ataca os dois

Novidade na corrida eleitoral, candidata do PSB afirmou que gestões do PT e do PSDB 'deram o que tinham que dar'; Aécio lembrou escândalos de corrupção na Petrobras; e Dilma resgatou o discurso de 2010 com críticas à gestão FHC

Felipe Frazão, Talita Fernandes e Eduardo Gonçalves
 
 

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A candidata Marina Silva (PSB) e o candidato Aécio Neves (PSDB), durante o debate dos presidenciáveis promovido pelo Grupo Bandeirantes, em 26/08/2014

A candidata Marina Silva (PSB) e o candidato Aécio Neves (PSDB), durante o debate dos presidenciáveis promovido pelo Grupo Bandeirantes, em 26/08/2014 - Ivan Pacheco/VEJA.com

Até poucos minutos antes do primeiro debate entre os candidatos à Presidência, na TV Bandeirantes, as campanhas de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) ainda estudavam quem criticaria primeiro – e como criticariam – a nova adversária Marina Silva (PSB), cuja entrada na corrida mudou o cenário eleitoral no país. Mas não foi preciso: insuflada pelos números da pesquisa Ibope, divulgada horas antes, foi Marina quem assumiu a artilharia mais pesada e sempre direcionada aos dois rivais simultaneamente. Foram diversas frases, como: "A relação de vocês, PT e PSDB, aparta o Brasil". Ou: "Essa polarização já deu o que tinha que dar" e "nos governos do PT e do PSDB, cada um tem um apagão para chamar de seu".

Repetindo o bordão de que sua candidatura retrata a "nova política" contra a polarização de petistas e tucanos no poder, Marina ainda tentou desarmar seus adversários elogiando as gestões dos ex-presidentes Lula – na área de inclusão social – e Fernando Henrique Cardoso – fiador da estabilidade econômica. "Se olharmos para a história, as conquistas dos últimos vinte anos não vieram dessa ideia de gerente. O Lula não foi gerente, foi um homem de visão estratégica. O FHC não é um gerente, é um acadêmico com visão estratégica. Hoje o Brasil vai ser entregue em condições piores do que quando foi entregue à presidente, que se colocava como gerente."

Quando tiveram a primeira oportunidade, conforme as regras do debate, para dirigir perguntas uns aos outros, os três candidatos mostraram logo as estratégias de cada campanha: 1) Marina perguntou para a presidente Dilma Rousseff por que suas propostas apresentadas ao país em reação à onda de manifestações de junho do ano passado não saíram do papel – evocar os protestos é um dos trunfos do marqueteiro de Marina, uma das poucas conseguir capitalizar diante do desgaste de políticos na época; 2) Dilma questionou Aécio sobre índices de desemprego nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso em comparação aos doze anos de administração do PT – a tática é um resgate do discurso de 2010 de andar colada aos oito anos de governo Lula e forçar comparações com os anos FHC; 3) Aécio Neves questionou Marina sobre a "falta de coerência" entre o discurso da nova política e as alianças que sua chapa firmou nos estados, por exemplo com o PSDB em São Paulo – foi uma tentativa de trazer para o debate a alta popularidade do governador Geraldo Alckmin.

Dilma ainda foi surpreendida por um petardo disparado pelo candidato do PSC, Pastor Everaldo, que a questionou sobre o financiamento de um porto para a ditadura de Cuba ainda que o Brasil tenha gargalos para escoar a produção em seu próprio território. A saída da petista foi afirmar que nos últimos anos o Brasil firmou parcerias com novos países e citou os Brics – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul que lançou um banco de desenvolvimento e fundo de reservas. Para Aécio, a pergunta incômoda partiu de Eduardo Jorge, do PV, para que explicasse sua opinião sobre a legalização do aborto, tema que provocou embates nas eleições de 2010. "O senhor concorda que as mulheres brasileiras que interrompem a gravidez sejam consideradas criminosas?”, disparou, em tom agressivo, o candidato do PV. O tucano respondeu que concorda com a legislação atual. Já Marina, que é evangélica, foi indagada por um jornalista da emissora se introduziria o criacionismo na grade escolar. "O ensino religioso é facultativo. Em 16 anos de atividade parlamentar, ninguém nunca me viu apresentar um projeto defendendo o criacionismo."

No quarto bloco, os candidatos puderam voltar a fazer perguntas entre si. Aécio perguntou se Dilma gostaria de usar o tempo de resposta para pedir desculpas sobre as denúncias de corrupção e pela crise financeira que assola a Petrobras. "Um colega seu de diretoria está preso", afirmou o tucano, em referência ao ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava-Jato da Polícia Federal. Dilma afirmou que a afirmação era uma "leviandade" e mais uma vez recorreu à comparação com os anos 1990: "Quem investiga é um órgão do governo que antes não tinha essa autoridade, a Polícia Federal. Nós nunca escondemos embaixo do tapete os crimes de corrupção”.

Dilma e Aécio ainda trocaram farpas sobre outros temas sensíveis, como o decreto bolivariano que ela assinou criando conselhos populares em órgãos da administração pública. “A participação popular é importante. Mas na formatação que busca trazer o PT, é algo que avilta um poder que deve ser independente e soberano, que foi eleito pela sociedade brasileiro", disse Aécio. A petista disse que o PSDB “sempre teve receio de participação social".

Com formato longo – três horas de duração, terminando na madrugada de quarta-feira –, o debate esfriou no final. Os três principais candidatos evitaram mais confrontos ríspidos e o debate terminou com longos e repetitivos discursos. Nas considerações finais, Marina citou Eduardo Campos, morto em acidente aéreo, disse que vinha de uma "realidade traumática" e que pretende "governar com os melhores". Dilma citou seu vice, Michel Temer, do PMDB – a presidente pretende investir no apoio de prefeitos do partido para tentar reverter sua rejeição no interior de São Paulo. Aécio despediu-se anunciando que, se eleito, nomeará para o Ministério da Fazenda o ex-presidente do Banco Central de FHC, Armínio Fraga, artífice do chamado "tripé econômico" – inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal. Foi uma alfinetada do tucano em Marina, que frequentemente usa o "tripé econômico" em seus discursos.

Em quarto

O mediador

Ricardo Boechat: o mediador

O debate entre os candidatos à presidência  que a Band promove agora é um sucesso no Twitter, no Facebook,  em outras redes sociais e, certamente, dará muita repercussão nos próximos dias. Mas é um fracasso de audiência na TV aberta. A Band ocupou o quarto lugar na briga pela audiência.

Aos números: a média de audiência do debate até agora, com duas horas no ar,, de acordo com números prévios do Ibope para a Grande São Paulo, foi de cinco pontos. A Record e o SBT, no mesmo horário, cravaram seis pontos. E a Globo liderou com folga: 21 pontos.

Por Lauro Jardim

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Fonte:
veja.com

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2 comentários

  • cllaudio heleno cassol Santa Maria - RS

    - Quanto aos candidatos, ainda, precisamos, acreditar sem saber, Deles, o que fazer, para sairmos da Paralisia Governamental Federal, que somente Destrói Qualquer Sonho de ´País/Brasil, Desenvolver-se e Criar Riquezas Necessárias, para AUMENTARMOS O NÍVEL de VAGAS DE TRABALHO, ENSINO COM NÍVEL MAIS ELEVADO e TÉCNOLOGIAS MAIS MODERNAS, em todos os Segmentos de Produção e Ensino. Com elevação do Nível de Empreendedorismo com Segurança Jurídica, que não temos, desde que, Assumiu a Presidência o PT/Lula com vice industrial, mas sem Atividade ou pró atividade. Dilma/Michel Temer/pmdb, lamentável, em todos aspectos. Agora, somente nos RESTA VOTAR para MUDANÇA SIGNIFICATIVA. Tanto AÉCIO/mg. quanto Marina/Beto Albuquerque, SÃO PARA OS PRÓXIMOS 4 QUATRO ANOS. Infinitamente MELHORES em TODOS OS QUISITOS QUE O BREASIL, e, os BRASILEIROS, PRECISAM, QUE É CONFIANÇA.TEXTO PARA REFLEXÃO, do Economista ADV. CLAUDIO HELENO CASSOL.DIA 27.08.2014.

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  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Olivi, nesta data, em pleno século XXI, vivenciamos algo inusitado: nunca antes na história deste país o passado foi tão valioso!

    Esta citação prende-se ao fato dos últimos acontecimentos na seara política. No primeiro debate dos presidenciáveis, uma postulante, Marina Silva, demonstrou seu domínio da metafísica, prática desenvolvida no Aristotelismo, séc. III a. C. É um novo modo de se fazer política?

    TENHO MUITO MEDO DO “NOVO”!! (invólucro de papiro!)

    ....”E VAMOS EM FRENTE” ! ! !....

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