"Será que teremos renda nesta safra?", artigo de Glauber Silveira
Será que teremos renda nesta safra?
*Glauber Silveira
É milenar a relação que controla os preços de mercado, a dita oferta e procura. Para a formação do preço da soja não é diferente..., após três safras mais apertadas nesta relação, e que deram um suporte muito positivo ao mercado de soja, agora para os preços futuros da safra 14/15 vemos um cenário mais pressionado --, mas que não deverá ser tão sinistro como apresentam alguns analistas, pois, afinal, apesar do crescimento da produção, o consumo também cresce...
Na safra 2013/14 tivemos uma produção mundial de 283,9 milhões de toneladas e um consumo de 269,8, para a safra 2014/15. Estima-se que a produção mundial deva alcançar os 304,7 milhões de toneladas e um consumo de 283,4 milhões, ou seja, houve um crescimento da produção de 7% e de 5% no consumo. A grande dúvida é o estoque mundial que o USDA vem divulgando, onde alguns analistas acreditam ser bem menor que o apresentado.
Claro que quando tratamos de commodities as margens geralmente são apertadas, por isso os produtores conseguem influenciar mais no custo que no preço da venda -- apesar de que nesta safra estamos tendo uma influência muito forte pela queda na venda futura da soja brasileira. Isso tem trazido prêmios muito positivos, fazendo a soja valer mais aqui do que em Chicago, e aponta que o mercado parece não estar tão certo dos números do USDA... e quem estaria? Com isto podemos ter momentos positivos, já que no atual cenário já temos renda negativa em algumas regiões brasileiras.
Olhando para a safra no Brasil, temos a perspectiva de plantar uma área 3% maior, saímos de 30.135,4 milhões de hectares em 2013/14 para 31.019,0 milhões em 2014/15. Isto, claro, coloca o Brasil como um grande contribuidor para aumentar ainda mais a oferta de soja projetada em 91 milhões de toneladas, considerando que tudo vai dar certo.
E por isso, considerando que a safra norte-americana só tem risco na hora de colher -- com o aumento da possibilidade de geada --, os produtores tem que fazer as contas de forma muito cuidadosa, pois só assim poderemos alterar nossos custos e ver se ainda poderemos aumentar nossa margem.
Claro que muitos itens que formam o custo de produção já estão consolidados, uma vez que o produtor já os adquiriu, mas mesmo assim a gestão correta destes itens é fundamental..., afinal se não controlarmos corretamente o uso de sementes, fertilizantes e defensivos o custo pode ainda subir em até 20%, custo este que já vem batendo recordes anos a ano.
Segundo levantamento com base em dados da Conab, a semente teve um crescimento no seu custo em R$/ha de 28%, saindo de R$ 137,00/ha na safra 2013/14 para R$ 173,48 na média de municípios brasileiros considerados. Os maiores incrementos de preço foram em Rio Verde-Go e Campo Mourão-PR onde a semente foi adquirida por R$ 227,5/ha e R$ 276,25/há. Cruz Alta-RS também surpreendeu pelo crescimento do preço médio, com um salto de mais de 60%, saindo de R$ 100,00/ha para R$ 162,50/ha nesta próxima safra.
Os fertilizantes, outro item importante nos custos, subiram 16%, quando esperávamos uma redução ou manutenção já que alterações no mercado abalaram o oligopólio do setor no Brasil. Mas pelo visto nada adiantou. Os maiores crescimentos de custo foram com base em Sorriso-MT que na safra 2013/14 foi de R$ 562,83/ha para a safra 2014/15 R$ 871,90/ha, um crescimento de 55% no custo em reais, mas na relação de troca com soja o crescimento chega a 80%.
Agora, o que estamos vendo com os custos de defensivos agrícolas é um verdadeiro absurdo! Houve crescimento de 41% da safra de 2013/14 para a atual, sendo que em Rio Verde-GO o incremento de custo por hectare é de 137%, ficando em R$ 385,75/ha, e para Sorriso-MT em R$ 572,33/ha, o maior custo do Brasil com defensivos.
Com os atuais preços da soja para 2015, as margens ficam muito apertadas, já que o custo de produção chega às alturas e se somam aos problemas conjunturais que já deveriam ter sido corrigidos. Mas entra e sai governo, seja da direita ou de esquerda e nada se resolve. E por isso, o Mato Grosso já apresenta margem média líquida negativa de R$ 220,00/ha se os preços continuarem como estão, por acaso o custo do frete até Paranaguá. E mesmo o PR que tem porto dentro de casa a margem é de apenas R$ 105,00/ha.
Como podemos ver, estamos em uma safra muito crítica em que a gestão dos fatores de produção é essencial. E já dissemos aqui outras vezes, a eficiência do produtor determina sua sobrevivência, estar atento a todas as etapas da produção é uma obrigação mesmo em anos bons. Fechar o melhor pacote tecnológico nem sempre é garantia de boas margens, isso sempre dependerá do resultado final da receita versos custos.
Além disso, o mercado é rápido e implacável, e não podemos deixar de ter segurança para travarmos os custos que hoje, em algumas situações, significam mais de 100% da produção. E apesar da necessidade e obrigação de estarmos prevenidos, ainda acredito na demanda... O mundo precisa de proteína, sabemos que se o preço está bom para o consumidor o mercado compra mais e o preço reage. Por isso, fiquem de olho e não percam o “time”, o melhor momento.
*presidente da Câmara Setorial da Soja, Diretor da Aprosoja e produtor rural em Campos de Júlio -MT
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Telmo Heinen Formosa - GO
A Agricultura é uma competição para ver quem é que vai QUEBRAR por último. É um dos negócios onde se estabelece a chamada "Concorrência Perfeita" - Quando a concorrência é perfeita, em qualquer ramo de atividades, a tendência do lucro é ser ZERO. Tenho a nítida impressão que não só a soja como também o milho da safra 2014/15 enquadram-se neste diapasão. O mínimo que os agricultores deveriam fazer é NÃO AUMENTAR a produção, começando por não aumentar a área... mas parece que já é tarde. A área de soja somente no Brasil deve aumentar 1,5 milhão de hectares em relação à safra 2013/14. Dane-se quem fizer por merecer.