"PT tenta destruir a imagem de Marina, ex-companheira de tantos anos", por Eliane Cantanhede, da Folha

Publicado em 11/09/2014 06:48

ELIANE CANTANHÊDE

Trampolins para Dilma

BRASÍLIA - Marina Silva empurrou Aécio Neves para o terceiro lugar, fora do segundo turno, e Aécio faz tudo para derrubar Marina. Na prática, os dois armam um trampolim para a reeleição de Dilma Rousseff e a eternização do aparelhamento do Estado pelo PT. A oposição, desunida, certamente será vencida.

Marina, claro, não tinha alternativa depois da morte de Eduardo Campos. Era concorrer ou concorrer. Arrastou os quase 20% de votos de 2010, agregou a comoção nacional com o acidente e se beneficiou da forte rejeição tanto ao PT quanto a Dilma. Mas, ao entrar, pode ter apenas garantido a vitória de Dilma.

Aécio também ficou sem alternativa diante da novidade. Era bater ou bater em Marina. Com isso, ele tenta conter a sangria e dar ao PSDB um mínimo de capacidade de negociação no segundo turno, sem ter de aderir de graça a Marina. Mas o efeito favorece diretamente Dilma.

A questão de Aécio também é de calibragem --o quanto bater para garantir um patamar minimamente seguro de votos sem inviabilizar um acordo do PSDB com o PSB no segundo turno e num eventual governo Marina. A derrota já no primeiro turno será arrasadora para o PSDB, mas o partido tem quadros reconhecidos e eles podem se tornar indispensáveis para Marina governar.

Marina parou de crescer, mas mantém boas condições de ganhar. A situação de Aécio é que continua não sendo nada animadora. Ele está numa posição que candidato nenhum deseja: já que vai perder, tentar perder o mais honrosamente possível.

Do outro lado, a campanha de Dilma usa seu imenso tempo de TV para massificar mentiras e mistificações. Os bancos nunca lucraram tanto quanto com Lula e Dilma. Acusar Marina de aliada de banqueiros por causa da educadora Neca Setúbal é indigno. Tanto como compará-la a Jânio e Collor. Depois de anos desconstruindo o legado tucano, o PT tenta destruir a imagem de Marina, ex-companheira de tantos anos.

No Estadão: PT diz que tática deu certo e Dilma volta a ligar Marina a banco

por TÂNIA MONTEIRO, VERA ROSA E RAFAEL MORAES MOURA - O ESTADO DE S. PAULO

Pesquisas internas mostram que ataques à autonomia do BC e discurso do risco de regressão de programas sociais surtem efeito

BRASÍLIA - O comando da campanha da presidente Dilma Rousseff vai ampliar a tática de colar na adversária do PSB, Marina Silva, o rótulo de “candidata da elite” tutelada por “banqueiros”. A estratégia foi decidida após pesquisas analisadas pelo PT indicarem que os ataques têm surtido efeito e lançam dúvidas no eleitorado sobre a viabilidade da candidata de governar o País.

Encomendadas pelo marqueteiro João Santana, as pesquisas qualitativas - que avaliam impressões dos eleitores - indicaram que banqueiros são vistos como “vilões” não apenas pelos mais pobres, mas também pela nova classe média. É com base nesse diagnóstico que o PT quer desgastar Marina. A ordem no comitê da reeleição é associar a ex-ministra do governo Lula a uma mulher que fala uma coisa e faz outra.

 Ed. Ferreira/Estadão

Dilma Rousseff concede entrevista coletiva no Palácio do Alvorada

“Eu não criei ‘bolsa banqueiro’ e também nunca recebi ‘bolsa banqueiro’. Não recebi e não paguei”, disse Dilma, nesta quarta-feira, 10, no Palácio da Alvorada, em resposta a Marina. No dia anterior, a candidata do PSB disse que o governo petista criou a “bolsa empresário”, a “bolsa banqueiro” e a “bolsa juros altos”. 

Marina fez a declaração ao reagir a um comercial da campanha de Dilma, que atacou a proposta de autonomia do Banco Central. O vídeo sugere que a candidata do PSB é e será submissa aos banqueiros, se for eleita. A socióloga Neca Setubal, herdeira do Banco Itaú, é coordenadora do programa de governo de Marina. 

A campanha de Dilma bate na tecla de que, com a autonomia do BC e a redução do papel dos bancos públicos - sugeridas pela plataforma do PSB -, programas sociais como o Minha Casa Minha Vida serão atingidos. O argumento é o de que, com a fórmula sugerida por Marina, o governo não subsidiaria mais esses programas e a prestação da casa própria ficaria mais alta. 

“Esse povo da autonomia do BC quer o modelo anterior: um baita superávit, aumentar os juros pra danar, reduzir emprego e reduzir salário. Porque emprego e salário não garantem a produtividade, segundo eles. Eu sou contra isso”, disse Dilma. 

Após dizer que quer ouvir todos os setores na campanha, “incluindo os bancos”, a presidente voltou ao ataque. “Agora, entre isso e eu achar que os bancos podem ser aqueles que garantem a política monetária, fiscal, cambial, vai uma diferença”, disse. “Quando a gente tem o mandato do povo, a gente tem de respeitar as relações de poder expressas na Constituição.”

Consequências. Em conversas reservadas, coordenadores da campanha de Dilma dizem que a estratégia de ataque a Marina também pode amenizar os efeitos do escândalo envolvendo as denúncias do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa. 

Entretanto, a blitz contra a ex-ministra não é consenso no PT. “Não se pode tratar a Marina assim”, afirmou o ex-deputado petista Paulo Delgado. “A Dilma se esquece de que a Carta ao Povo Brasileiro foi escrita a pedido do (Olavo) Setubal, do Itaú”, emendou, em referência ao documento divulgado em 2002, na vitoriosa campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, para acalmar o mercado. “Devemos falar de nossas propostas, e não atacar Marina”, disse o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), um dos “bons políticos” que a candidata do PSB quer ter como aliado em um eventual governo.

‘Quero crescer’. Na entrevista de ontem, Dilma admitiu que é “ruim” a indicação da agência de classificação de risco Moody’s de que pode rebaixar a nota de crédito do Brasil. “Eu queria estar crescendo a 10%, meu querido”, respondeu a presidente ao repórter do Estado. “Em matéria de crescimento, vocês podem ter certeza: serei eu a pessoa que mais vai querer crescer. Eu sei que há problemas porque nós tivemos uma transmissão da crise por inúmeros mecanismos. Inúmeros.”

Folha: Mitos e verdades sobre a independência do BC

Tema provoca embate entre as equipes de Dilma e Marina

por GUSTAVO PATU, DE BRASÍLIA, e MARIANA CARNEIRO, DE SÃO PAULO

1 - A independência do Banco Central significa entregar a política econômica a banqueiros
MITO Independência significa, em geral, dar mandatos fixos aos dirigentes da instituição, não coincidentes com os do presidente da República. Há regras para demissão em caso de desempenho inadequado ou insatisfatório.
É uma forma de evitar a ingerência do poder político sobre a fixação dos juros e sobre outras ferramentas usadas pelo BC para combater a inflação e regular o setor bancário.
A indicação do presidente e dos diretores do BC, porém, continua sendo feita pelo Planalto, com necessidade de aprovação do Senado.

2 - A independência do BC subtrai poderes do governo eleito de intervenção na economia
DEPENDE O BC fixa os juros e dispõe de reservas em moeda estrangeira para influenciar a cotação do dólar. As políticas monetária e cambial têm impacto decisivo no crescimento da economia e na inflação. Ao governo restariam, para influenciar na atividade econômica, os gastos públicos e o crédito dos bancos oficiais.
Por outro lado, nos países em que é adotada a independência ou a autonomia do Banco Central, governo e Congresso são os responsáveis por estipular os objetivos a serem cumpridos. Nos EUA, por exemplo, o banco central tem de perseguir metas de emprego e inflação fixadas pelo Congresso.

3 - O Banco Central do Brasil já é independente
DEPENDE Em tese, tem autonomia operacional, o que significa que pode adotar a política necessária (alta ou baixa de juros) para alcançar seu objetivo. Seu mandato é perseguir a meta de inflação fixada pelo Conselho Monetário Nacional, que é formado pelos ministros da Fazenda, Planejamento e pelo presidente do Banco Central. Durante o governo Dilma Rousseff, porém, a autonomia foi questionada. No mercado financeiro, a interpretação corrente é que o Banco Central ficou mais tolerante com a inflação e admitiu que o limite máximo da meta (6,5% ao ano) estava de bom tamanho. Tudo para evitar desacordo com a política da presidente, de turbinar o crédito público, incentivar o consumo e tentar evitar a desaceleração da economia.

4 - O setor financeiro é influente na condução da política econômica
VERDADE Governos que gastam bem acima de sua receita, como o brasileiro, precisam regularmente de dinheiro emprestado e, portanto, da boa vontade dos bancos e dos poupadores. Qualquer credor exige que o devedor demonstre capacidade de pagamento -que é avaliada a partir do ponto de vista e dos interesses do credor.

5 - Um Banco Central independente resultaria em menos inflação
VERDADE Segundo o professor do Insper Ricardo Brito, estudos sugerem que a independência do BC torna a inflação mais previsível. Isso desencorajaria reajustes de preços preventivos, reduzindo a inflação no futuro. Mas o manejo dos juros explica pouco o crescimento dos países no longo prazo. Mais relevante é o ambiente de negócios.

6 - Os bancos não gostam de Dilma porque ela reduziu as taxas de juros
EM TERMOS A presidente de fato derrubou as taxas na primeira metade de seu mandato, mas hoje os juros e os gastos com a dívida estão praticamente nos mesmos patamares herdados de Lula. Na visão dos economistas mais ortodoxos, influente no sistema financeiro, baixar juros sem reduzir os gastos públicos e a inflação foi uma opção equivocada.

7 - A independência do Banco Central geraria taxas de juros mais altas e mais custos
MITO Para o ex-diretor do Banco Central e sócio da Mauá Sekular, Luiz Fernando Figueiredo, a dúvida sobre a autonomia ou não do Banco Central nos últimos anos aumentou os custos para o país: "O Brasil poderia pagar juros menores nos seus títulos se a independência fosse institucionalizada". Seu argumento é que a previsibilidade reduz as incertezas e, com isso, credores cobram menos para emprestar ao governo.
Mas poderia haver custos em termos de emprego no curto prazo. Um BC independente que desejasse reduzir mais rapidamente a inflação teria de elevar as taxas de juros até uma piora do mercado de trabalho suficiente para estancar o consumo e os reajustes. Os defensores dessa política dizem que os efeitos negativos seriam temporários. Já os críticos afirmam que é possível fazer essa correção gradualmente.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Folha de S. Paulo + Estadão

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Olivi, a paixão mórbida dos petistas por um elemento natural não renovável, está em vias de sofrer uma guinada histórica.

    Nesta fase da campanha eleitoral o staff petista, composto de seus maiores lumes, debruçou-se num estudo com o objetivo de “LANÇAR UM PROGRAMA”, para o segundo turno da campanha das eleições presidenciais, que promete revolucionar o planeta terra.

    É sabido que o petróleo é uma fonte de energia não renovável, mas em virtude do governo petista ter se especializado no ramo, vide o histórico das ações da Petrobrás durante o governo petista, concluíram que ela (Petrobrás) é uma fonte infinita de recursos monetários. Diante disso “fizeram o diabo” e, encontraram uma solução, vão lançar o programa “MAIS PETRÓLEO”!

    Para que este programa seja coberto de êxito, vai-se editar uma Medida Provisória instituindo que a partir desta data o petróleo torna-se uma fonte renovável de energia, revogando-se as disposições em contrário.

    PRONTO! A REELEIÇÃO ESTÁ NO PAPO !!

    Antes de encerrar, segue uma frase de um grande pensador:

    “OS VIVOS SÃO SEMPRE E CADA VEZ MAIS GOVERNADOS PELOS MAIS VIVOS”.

    Apparício Apporely – BARÃO DE ITARARÉ.

    ....”E VAMOS EM FRENTE” ! ! !....

    0