Mercado de açúcar: BOLO INDIGESTO

Publicado em 20/09/2014 18:51
por Arnaldo Luis Correa, da Archer Consulting

O mercado de açúcar em NY encerrou a sexta-feira depois de mais uma semana de preços atingindo novas mínimas desde 2010. Outubro/2014 fechou cotado a 13.50 centavos de dólar por libra-peso com baixa de 28 pontos (US$ 6.17/toneladas) em relação à semana anterior. Os demais meses de negociação ao longo dos próximos dois anos foram ainda piores do que esse, com os preços desvalorizando entre 45 e 67 pontos (de 10 a 15 dólares por tonelada de queda na semana). E como sói acontecer em situações em que tudo está muito pressionado, tem gente achando que o mercado ainda cai mais no outubro e quando este expirar, o março deverá acompanhá-lo e repetir as mesmas cotações? Será possível?

Dólar mais forte e commodities caindo (petróleo, trigo, soja, milho, açúcar, café) podem corroborar com essa ideia. Aqui, o rumo das eleições pode trazer mais volatilidade ao açúcar. Quanto mais Dilma sobe nas pesquisas, mais cai o preço da ação da Petrobrás, já que o mercado percebe a continuação da política errática do governo em relação aos combustíveis, afetando o etanol e por conseguinte, o açúcar. No entanto, resta saber quanto a mais de cana o Brasil pode produzir no próximo ano. Precisamos de 35 milhões de toneladas a mais do que esse ano. Será possível?

Alimento para os touros: a produção de açúcar acumulada de março até julho é pelo menos 3.6 milhões de toneladas menor do que, por exemplo, àquela de 2010/2011 quando tivemos o mercado negociando na mínima de 13 centavos de dólar por libra-peso. 

Num evento fechado realizado em Ribeirão Preto esta semana, um dos assuntos que vieram à baila sobre a recente queda intensa dos preços do açúcar em NY foi a alta correlação demonstrada entre o preço do petróleo e a commodity. Traduzindo, a queda do açúcar não apenas tem a força dos fundamentos já discutida à exaustão mas também uma ação bastante forte por parte dos fundos. Os ingredientes do bolo indigesto servido pelo mercado aos produtores têm, entre eles, a atitude de esperar que houvesse uma recuperação dos preços antes de fixar o remanescente das vendas, o El Niño que não veio, as puts vendidas para financiar calls que se transformaram em armadilha letal, e – obviamente – a Tailândia ameaçando inundar a entrega contra o vencimento outubro/2014 neste final de mês, com açúcar de baixa qualidade. Difícil digerir tudo isso.

O volume de exportação de açúcar para agosto/2014 foi de 2.3 milhões de toneladas colocando o acumulado de doze meses em 24.66 milhões de toneladas, uma queda de quase 16% se comparado com o volume exportado no mesmo período do anterior. O valor das exportações em doze meses, ficou abaixo dos US$ 10 bilhões pela primeira vez desde maio/2010: US$ 9.96 bilhões. No etanol, a exportação de agosto atingiu pouco mais de 78 milhões de litros, acumulando 1.86 bilhão de litros no acumulado de doze meses, queda de quase 50% em relação ao volume do período anterior, o menor dos últimos dois anos. O valor das exportações atingiu US$ 1.19 bilhão no acumulado.

De janeiro a agosto deste ano, o Brasil exportou 14.9 milhões de toneladas, uma queda de 4.2 milhões de toneladas em relação ao mesmo período no ano anterior. Essa perda de mercado foi liderada pela Ásia, para quem exportamos 1.9 milhão de toneladas a menos (China lidera com 728 mil toneladas), seguida por África com redução de 1.3 milhão de toneladas (Marrocos lidera com 377 mil toneladas e Gana com 208 mil toneladas a menos). 

O straddle de março/2015, preço de exercício de 16.50 centavos de dólar por libra-peso, negocia a 170 pontos. Consiste na venda concomitante da call e da put no mesmo preço de exercício. Se o mercado expirar abaixo de 16.50, você fica comprado a 14.80 centavos de dólar por libra-peso; se o mercado expirar acima de 16.50, você fica vendido a 18.20 centavos de dólar por libra-peso. O risco principal é um aumento da volatilidade do mercado que pode afetar substancialmente o valor de mercado dos prêmios vendidos e, ato continuo, chamar margem. Não parece uma estratégia ruim para os consumidores nem para as usinas dada a situação atual e as escassas alternativas disponíveis. Tem que ser monitorada de perto.

Finalmente alguém altista nesse mercado. O nome dele é Abah Ofon, analista de commodities agrícolas do centenário banco inglês Standard Chartered. Numa entrevista a semana passada na rede americana CNBC, o analista acredita que o ano que vem será um ano de melhores preços para o açúcar em função da redução dos estoques e de menor rendimento da safra de cana. Detalhe: quando dava sua entrevista ao vivo, o vencimento outubro/2014 em NY estava negociando 15.09 centavos de dólar por libra-peso!

O Demarest Advogados, com o apoio da Archer Consulting, promove no próximo dia 02 de outubro, das 13:30 às 18:30 horas, o Seminário: Setor Sucroenergético: Cenário, Acesso à Mercados, Fusões e Aquisições. As vagas são limitadas. Para mais informações, por favor envie e-mail para [email protected] 

Um bom final de semana
 

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Fonte:
Archer Consulting

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