Na FOLHA: Queda atinge principais produtos do agronegócio. Preços perdem 10%

Publicado em 03/10/2014 05:57
por MAURO ZAFALON, na coluna VAIVÉM DAS COMMODITIES

Uma relação de exportação de setembro dos 15 principais itens do agronegócio indica que o valor das vendas externas recuou para US$ 6,6 bilhões, 10% menos do que em igual período do ano anterior.

Desses produtos, sete deles ainda são negociados com valores médios superiores aos praticados no mesmo período do ano passado. Estão nessa lista, no entanto, produtos que têm uma participação pequena na balança comercial do setor.

A carne suína, por exemplo, teve valorização de 40% nos valores médios do mês passado em relação aos de igual período de 2013. As receitas do setor somaram, no entanto, US$ 143 milhões. O etanol é outro produto que está na lista das altas, mas as exportações de setembro se resumiram a U$ 79 milhões.

Os sete produtos que aumentaram de preços no mês passado no mercado externo somaram receitas de US$ 2,2 bilhões nas exportações --38% da soma total das vendas dos 15 produtos do grupo.

Já entre os produtos incluídos na lista dos que têm queda de preços, estão líderes do setor como soja e açúcar.

A soja em grão rendeu, no mês passado, US$ 1,25 bilhão, 27% menos que em igual período de 2013. Nesse mesmo período, os preços médios da soja exportada caíram 5%, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

O Brasil perdeu receitas também nas exportações de minério de ferro, cujos preços médios recuaram para US$ 67,3 por tonelada, conforme a Secex. Esse valor é 30% inferior ao de 2013.

Já as importações de gasolina pesaram menos no mês passado, recuando para US$ 22,2 milhões, 30% menos do que em igual mês de 2013. O preço médio caiu 6%.

Em queda Os economistas do Itaú que avaliam commodities revisaram para baixo as projeções de preço desses produtos. A queda neste ano é consistente e com fundamentos, segundo eles.

Surpresas O ICI (Índice de Commodities Itaú) já recuou 15,5% neste ano e essa queda ocorre devido à combinação de surpresas na oferta global, dólar forte e crescimento econômico global em ritmo menor.

Mais quedas O índice de commodities da RC Consultores também aponta para novas quedas nos preços das commodities. É o terceiro mês seguido de recuo e o índice de setembro é 11% inferior ao pico registrado no final de junho.

Não para O preço do café não para de subir no mercado externo, puxando também as cotações do produto internamente. Em Nova York, o primeiro contrato fechou nesta quinta-feira (2) a US$ 2,09 por libra-peso, 4,1% mais do que no dia anterior. No mercado interno, a alta foi de 3,3%.

Algodão A produção mundial sobe para 26,2 milhões de toneladas na safra 2014/15, segundo o Icac (comitê internacional do produto). Já o consumo fica em 24,4 milhões de toneladas.

Preços O superavit de 1,8 milhão de toneladas na safra vai manter os preços enfraquecidos, segundo o comitê. A estimativa é de 75 centavos de dólar por libra-peso.

FMI vai reduzir previsão para PIB mundial

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A economia global é agora mais frágil do que há seis meses e convive com as perspectivas de um crescimento "medíocre" no futuro próximo, declarou nesta quinta-feira (2) a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde.

"A economia global é mais frágil do que tínhamos previsto seis meses atrás, já que as perspectivas de crescimento potencial foram reduzidas", disse, citando a recuperação frágil da zona do euro.

Lagarde citou o provável rebaixamento das previsões de crescimento que o FMI apresentará na próxima semana, na reunião anual com o Banco Mundial. Em julho, o Fundo previa que a economia global vai crescer 3,4% neste ano e 4% no que vem.

VINICIUS TORRES FREIRE

O mundo não gira, Brasil não roda

Crescimento mundial vai frustrar outra vez, diz FMI, mas Brasil pode minorar seus problemas

O MUNDO CORRE um risco sério de baixo crescimento por muitos anos ainda, discursou ontem a diretora-executiva do FMI, Christine Lagarde. E daí? Daí que, apesar de todas as ressalvas, Lagarde está dizendo que se frustrou mais uma vez a ideia do "agora vai", fracasso em maior ou menor grau recorrente desde 2009. E daí, e o Brasil com isso?

Daí que, para começar, de um modo um tanto irônico, se pode lembrar que, segundo Dilma Rousseff e seus economistas, o Brasil cresceu muito pouco desde 2011 porque o mundo vai mal. Se a perspectiva mundial é de um padrão "medíocre", estaríamos fritos ou ao menos cozidos.

Lagarde discursou às vésperas da reunião semestral do FMI. Insinuou que o Fundo deve rever outra vez para baixo as previsões de crescimento. Lembrou que, em geral, a economia anda mais devagar do que o previsto faz seis meses. Não é bem novidade, embora a lerdeza nos países ditos "emergentes" venha sendo uma surpresa ainda maior.

Em cerca de 70% das 50 maiores economias "emergentes" o crescimento foi menor do que o previsto um ano antes pelo FMI (nas projeções para 2012 e 2013). Em 75% dos emergentes, o crescimento em 2013 foi 1,5 ponto percentual menor que em 2010. As informações são de um artigo de Ghada Fayad e Roberto Perrelli, economistas do FMI.

O artigo de Fayad e Perrelli, publicado em setembro, dá alguma razão para os argumentos de Dilma e cia (note-se que não se trata da opinião do FMI, mas desses economistas). Dizem que no último triênio houve uma rara sincronia de baixa no crescimento entre os "emergentes", coisa em geral vista apenas em momentos de crise aguda.

As causas da lerdeza, "na média", segundo os economistas: 1) Consumo (importações) menores nos parceiros comerciais; 2) Retirada de estímulos fiscais (gasto do governo, grosso modo); 3) Economias superaquecidas no início do período; 4) Taxa de câmbio supervalorizada no início do período ("dólar barato").

Outro fator relevante seriam os "gargalos estruturais" (como falta de infraestrutura). Ou boa administração econômica nos "bons tempos" (isto é, com menos desequilíbrios externos e financeiros).

O Brasil se encaixa nessa descrição? Sim. Padecemos de fraqueza da economia mundial. Mas o governo gastou mais a fim de incentivar a economia, não o contrário. Estava superaquecido em 2010 (crescendo além da conta, encomendando inflação). O dólar estava barato. A gestão econômica foi fraca. Etc. Ou seja, não muda muito o diagnóstico mais consensual de que temos problemas em várias frentes.

Para Fayad e Perrelli, os emergentes vão continuar lerdos caso não removam "gargalos", incrementem a produtividade e passem a produzir bens de maior valor agregado. Bidu.

Para Lagarde, no mundo em geral, evitar o novo padrão "medíocre" depende de ir devagar com o corte de gastos (recomendação para o mundo rico), reforma do mercado de trabalho e mais investimento em infraestrutura, iniciativas que andam mal paradas.

Ou seja: teremos um 2015 e 2016 ainda fracos. A economia mundial lerda é um problema a mais, mas temos de lidar com os nossos problemas de sempre.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

O pânico de volta aos mercados

Em momentos de muita incerteza e volatilidade, os exageros são regra nas ações dos mercados

As últimas pesquisas eleitorais provocaram um grande ajuste --para baixo-- nos preços dos principais ativos brasileiros. O índice Bovespa perdeu mais de 10% e as ações das principais empresas estatais sofreram um tombo ainda maior. Os juros futuros deram um salto de mais de cem pontos, com os títulos do governo, com vencimento em 2019, pagando juros de 12,3% ao ano. Por último, a cotação do dólar em relação ao real chegou a furar o limite superior das expectativas recentes e foi negociado para o mês de outubro a mais de R$2,50.

Tenho à minha frente, vários gráficos construídos pelo Andre Muller --economista-chefe da Quest Investimentos-- mostrando a evolução dos preços dos mesmos ativos citados acima no período entre maio de 2002 e maio de 2003. Como vivi intensamente aquele momento --por estar no comando da gestão das carteiras de renda fixa e câmbio da Quest Investimentos-- ao rever os gráficos do André não pude deixar de fazer uma comparação com os dias de hoje. Ela apareceu naturalmente em razão da minha reação intuitiva aos movimentos de mercado, talvez os últimos traços de minha vida passada de operador de mercado. E quero passar isto para o meu leitor da Folha.

Como agora, em maio de 2002 os mercados estavam convencidos da vitória do candidato do PT e de um desastre na economia. E, por isto, os movimentos dos preços são hoje muito parecidos, com exceção da intensidade do ajuste que foi muito mais forte no período pré Lula presidente.

E seguindo a tal intuição digo que, como sempre em momentos de muita incerteza e volatilidade, os exageros são regra no comportamento dos mercados. E, se estiver certo, quando os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais forem conhecidos, os mercados poderão sofrer mais uma correção discreta. É a velha máxima compre no boato, venda no fato mais uma vez presente na vida do especulador experiente.

Se a presidente Dilma obtiver a votação expressiva que as pesquisas recentes apresentam e abrir uma diferença muito grande em relação ao seu concorrente --seja ele, seja ela--, no segundo turno o mercado vai reagir diante de um fato já precificado hoje; se seus resultados forem menos brilhantes e, por isto, as chances de um candidato da oposição no segundo turno forem maiores do que as esperadas hoje, um novo suspiro do morto vai influenciar as cotações de mercado.

Mas o fato determinante para criar as condições para um grande ajuste nas cotações dos ativos que hoje fazem parte do chamado kit Dilma --dólar, juros e ações da Petrobras-- serão os primeiros movimentos da presidenta reeleita na formação de seu governo.

Não menosprezo a possibilidade de um novo cavalo de pau, que foi a expressão usada pelo então todo poderoso chefe da Casa Civil de Lula, o hoje sumido ex-ministro José Dirceu, para caracterizar a política econômica da época. E digo isto por entender que em política sempre existe espaço para surpresas como esta.

Vejamos alguns fatos que podem levar a presidente Dilma a liderar o dito cavalo de pau --versão 2.

O primeiro é o susto que ela e seu grupo de militantes do PT passaram quando, poucos dias atrás, a derrota nas eleições e o fim do sonho petista de hegemonia política eram um fato altamente provável.

Em segundo lugar, a vitória --se vier-- será por uma margem muito pequena e, mais do que isto, com a sociedade dividida ao meio.

Em terceiro lugar, o aprendizado doloroso de uma máxima dos políticos mais experientes: apertar os cintos nos primeiros dois anos para soltá-los no final do mandato quando as eleições se realizam.

Se isso ocorrer, alguns sinais serão visíveis a olho nu, pelo menos para os analistas mais atentos. Em primeiro lugar, um presidente do Banco Central com credibilidade com o mercado financeiro para trazer a inflação para perto do chamado centro da meta. Em segundo lugar, um ministro da Fazenda com personalidade para enfrentar o caráter despótico da presidente. E acima de tudo, uma meta para o superavit primário do Tesouro bastante elevada e com o compromisso de ser obtida sem as manhas de malandro tangerina utilizadas no primeiro mandato.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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