Solos argentinos perderam até 40% de sua aptidão agrícola

Publicado em 01/12/2016 11:06

Na Argentina, as diversas safras marcadas pelo refúgio dos produtores na soja, por falta de rentabilidade nos cereais, aprofundou a perda de nutrientes nos solos destinados à produção agrícola. Os técnicos e assessores que seguem observando a fertilidade dos solos advertem que, nos últimos anos, caiu substancialmente o nível de matéria orgânica e que há um balanço negativo em minerais essenciais para os rendimentos, como o fósforo, o nitrogênio e o potássio.

Essa é uma questão que, há muitos anos, o engenheiro Miguel Pilatti, especialista em solos da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Nacional do Litoral (UNL), vem tratando sobre.

"Os solos do centro de Santa Fe, por exemplo, perderam 40% de sua capacidade produtiva e o balanço de matéria orgânica não será resolvido com as rotações que vêm sendo propostas", advertiu Pilatti, em entrevista ao Clarín Rural.

Para que os solos conservem sua aptidão produtiva, com condições favoráveis para a atividade biológica, se necessita de uma porcentagem de 3% de matéria orgânica nos primeiros 15 centímetros do solo, segundo o engenheiro. "Atualmente, se chega apenas a 2,1% e custa muito trabalho recuperar cada ponto", diz.

Para incrementar a matéria orgânica nos solos e também para consumir os excedentes hídricos, é preciso aumentar o peso das gramíneas nas rotações (milho, trigo, aveia, cevada etc.) e também apostar nas pastagens que possuem raízes mais profundas, como a alfafa, diz Pilatti.

No contexto de que é preciso recuperar a fertilidade, o engenheiro da UNL recomenda planificar os esquemas com a premissa de deixar no solo entre 10 a 15 toneladas de matéria seca por hectare por ano.

Há vários especialistas no Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina (INTA) que coincidem com esse diagnóstico e também na necessidade de apostar na intensificação, na rotação de cultivos e na fertilização como estratégias para reduzir brechas nos rendimentos.

Rodolfo Gil, especialista em conservação e manejo de solos do INTA, recordou que o solo é um "recurso frágil" que requer proteção e um uso responsável. "É fundamental reverter a diminuição dos conteúdos de matéria orgânica e de nutrientes nos solos da Região Pampeana para recuperar sua capacidade produtiva e reduzir as brechas de rendimentos", diz Gil.

Gustavo Ferraris, especialista em nutrição de cultivos do INTA, contou que, nos últimos anos, os solos da região pampeana sofreram um processo de degradação devido à subfertilização e à realização de um único cultivo: a soja. Ele também destacou que o plantio direto e a rotação permitiriam melhorar e amortizar esses efeitos.

O especialista apontou também que, durrante todo o tempo em que a oleaginosa ocupou a maior parte da superfície agrícola do país, isso também contribuiu para o desenvolvimento endêmico de pragas e enfermidades, devido ao uso dos mesmos herbicidas em várias safras consecutivas.

Segundo o INTA, a soja pode render até 25 sacas de 60kg por hectare, mas com a aplicação correta da tecnologia e com a rotação de culturas, poderia render muito mais. "É dizer que é uma brecha de rendimento que precisa ser considerada", disse Ferraris.

A conclusão do INTA é de que, para manter a capacidade produtiva dos solos é importante considerar não somente a fertilização do cultivo em particular, mas também a nutrição do sistema em conjunto, e isso pode ser alcançado por meio da aplicação e integração das boas práticas de manejo que acompanham a fertilização.

Tradução: Izadora Pimenta

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Fonte:
Clarín Rural

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