Paralisação recorde do governo americano tira direção do mercado de grãos e pressiona preços

Publicado em 15/01/2019 16:35

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O governo federal norte-americano está paralisado pelo recorde de 25 dias - a mais longa da história dos EUA - com Donald Trump focado em conseguir aprovar no orçamento a verba de mais de US$ 5 bilhões para a construção do muro na fronteira com o México, uma de suas maiores promessas de campanha. Até que todos cheguem a um consenso no Congresso dos Estados Unidos, há inúmeros setores paralisados, entre eles o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), o que tem deixado o mercado vazio de informações. 

Nesta terça-feira, Trump teria recusado o acordo proposto por um senador americano para aliviar os efeitos da paralisação. Além disso, democratas não estiveram presentes em um almoço proposto pelo presidente, em um acordo entre bipartidário e tudo segue travado. 800 mil servidores não recebem há quase um mês. 

Um número atualizado mostrou que o impacto no crescimento da economia americana, a cada semana de paralisação, é de um recuo de 0,13% com os trabalhadores parados, de acordo com informações passadas por autoridades da Casa Branca. 

E como explicou o analista de mercado Cristiano Palavro, da ARC Mercosul, o mercado de grãos é um dos que mais sofre com a falta de informação. Sem dados oficiais, os negócios perderam a direção e os traders acabam adotando uma cautela ainda maior à espera dos números quando os mesmos forem divulgados. Ainda segundo o executivo, faltam números para a especulação. 

"Os profissionais em Chicago não acreditam em uma retomada dos setores paralisados nesta semana, e poucos indicativos de que possa ocorrer na próximas também. Essa paralisação está atrapalhando bastante o mercado de grãos, em função da falta de informação, tanto da estimativa de safra, estoque, exportações, posição dos fundos", diz Palavro. 

Ainda segundo informações da ARC Mercosul, no fim de 2018, o jornal Washington Post havia contado 6420 alegações falsas de Trump em seus 2 primeiros anos de Governo. 

Um dos boletins de que o mercado mais sentiu falta neste período foi o WASDE - o reporte mensal de oferta e demanda, uma vez que sem esses números o mercado fica sem uma tendência, ou sem linha para defini-la, no longo prazo. Dessa forma, os traders acabam gerando, ainda segundo o analista, uma especulação momentânea, baseada em números vindos de operadores comerciais, consultorias privadas, lineups de portos e instituições como estas. Os traders sentem ainda a falta do reporte semanais e das notas diárias de vendas para exportação. 

A situação tem um impacto ainda mais severo no mercado de grãos, mais especificamente no mercado da soja, uma vez que acontece no meio da guerra comercial travada entre os EUA e a China e durante encontros de líderes de ambos os países, já que também não são reportadas informações sobre o avanço das relações entre as duas nações. 

"Apesar das declarações positivas, permanece o receio quanto ao real avanço do acordo, já que ações concretas não estão sendo visualizadas. Trump está sem credibilidade nestas informações. Em um passado recente, mudou posicionamentos de forma intempestiva, e tende a ser extremamente sensacionalista. Todos ficam com o pé atrás quanto ao que ele fala, aguardando coisas concretas aparecerem", explica Palavro. 

Do mesmo modo, porém, há sinais de que os dois países buscam de forma considerável chegar a um acordo, principalmente frente ao avanço de reuniões acontecendo este ano. Entre 7 e 9 de janeiro, delegações dos EUA e da China se reuniram em Pequim e voltam a se encontrar agora em Washington nos próximos dias 30 e 31. 

"Porém é política. Isso (do avanço nas negociações) não é definitivo", alerta o analista. 

Há ainda todas as especulações sobre a possibilidade deste acordo não envolver a soja. O presente momento é 'confortável' para os chineses diante de elevados estoques da oleaginosa nos EUA e com a nova safra brasileira chegando ao mercado. Afinal, apesar de alguns problemas, ainda se trata de uma colheita robusta. E neste momento também os preços da soja sul-americana são, de fato, mais competitivos, além de a soja brasileira contar ainda com vantagens de mais qualidade. 

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>> Demanda da China por soja busca retomar sua força em 2019

Paralisação impacta economia dos EUA enquanto democratas rejeitam convite de Trump para negociar

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WASHINGTON (Reuters) - A economia dos Estados Unidos está sofrendo um abalo maior do que o esperado com a paralisação parcial do governo, mostraram estimativas da Casa Branca nesta terça-feira, enquanto os democratas do Congresso rejeitaram o convite do presidente dos EUA, DonaldTrump, para discutir o assunto.

A paralisação alcança seu 25º dia nesta terça-feira sem que Trump ou os líderes democratas no Congresso mostrem sinais de que irão ceder no ponto que a desencadeou --o financiamento para o muro que Trump prometeu construir ao longo da fronteira com o México.

Trump convidou um grupo bipartidário de membros do Congresso para um almoço para discutir o impasse, mas a Casa Branca disse que democratas rejeitaram o convite. Era esperado que nove republicanos comparecessem.

Trump está insistindo para que o Congresso libere 5,7 bilhões de dólares no momento em que cerca de 800 mil servidores públicos federais estão sem receber durante a paralisação parcial.

"Já é a hora de democratas virem à mesa e fazerem um acordo", disse a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders.

Líderes democratas na Câmara dos Deputados disseram que não orientaram membros a boicotarem o almoço de Trump, mas que pressionaram aqueles que foram convidados a considerarem se as negociações seriam produtivas ou se seriam apenas uma oportunidade fotográfica para o presidente.

"Estamos unidos", disse o líder da maioria na Câmara, Steny Hoyer, a repórteres na manhã desta terça-feira.

A administração Trump estimou inicialmente que a paralisação custaria à economia 0,1 ponto percentual em crescimento a cada duas semanas que servidores continuassem sem pagamento.

Mas nesta terça-feira, surgiu um número atualizado: 0,13 ponto percentual a cada semana, em razão do impacto do trabalho que não está sendo executado por 380 mil servidores de folga, bem como trabalho pendente de prestadores federais, disse uma autoridade da Casa Branca.

A paralisação parcial é a mais longa da história dos Estados Unidos e seus efeitos começaram a reverberar ao redor do país.
 

Na Folha: Em ano de incertezas, renda da soja no país dependerá de guerra comercial, por Mauro Zafalon

O principal produto da pauta de exportação do Brasil, a soja, terá dias incertos pela frente. A safra recorde já não deve ocorrer mais e, mesmo com a quebra de produção interna, os preços poderão cair, informa o jornalista Mauro Zafalon, na FOLHA DE S. PAULO.

Colheita de soja na Carolina do Norte (EUA)

Colheita de soja na Carolina do Norte (EUA) - Charles Mostoller - 29.nov.18/Reuters

Tudo vai depender de eventuais acertos entre EUA e China. A guerra comercial travada pelos países resultou em uma taxação de 25% no produto americano pelos asiáticos.

Os Estados Unidos, os maiores produtores mundiais, praticamente continuam fora do mercado chinês. O resultado é que o país da América do Norte deverá terminar o ano-safra, em 31 de agosto, com estoques recordes de 26 milhões de toneladas de soja.

Qual o perigo para os produtores brasileiros que não fizeram vendas antecipadas? Além de ter uma produção menor, devido ao clima, poderão vender a soja com valores menores.

Leia a coluna na íntegra no site da Folha de S. Paulo

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Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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