Chuva já compromete safra catarinense

Publicado em 25/11/2008 16:16

Os estragos causados pelas fortes chuvas em Santa Catarina chegaram ao campo. Quase 100% da semeadura das plantações de arroz irrigado do Estado - que representa 98% da área cultivada com o cereal - foi concluída pouco antes da precipitação de cerca de 500 milímetros (mm) na região localizada entre o vale do Itajaí e a faixa do litoral norte que se estende até a divisa com o Paraná. E 80% da área, normalmente cultivada sob dez centímetros de água, está coberta por até dois metros.

Em Tubarão, 120 quilômetros ao sul da capital Florianópolis, 90% dos 21 mil hectares ocupados pelo grão estão debaixo d’água. A área cultivada com o cereal no Estado é de 152,5 mil hectares e a previsão de produzir 1,087 milhão de toneladas pode cair em 30% em decorrência do excesso de chuvas.

Dados coletados pelas estações meteorológicas da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri/Ciram) indicam recordes históricos de chuvas no mês de novembro, principalmente nas regiões que vão do centro ao leste do Estado. Em Joinville, o acumulado de chuvas em novembro já chegou a 869,6 mm. Segundo a coordenadora do setor de previsão de tempo e clima da Epagri/Ciram, Maria Laura Rodrigues, a média normal de chuvas nesse mês é de 150 mm.

À chuva dos últimos dias soma-se aquelas que perduraram ao longo de todo o mês de outubro. Rosandro Minuzzi, agrometereologista da Epagri, explica que esse cenário é extremamente prejudicial para a agricultura. "A colheita das culturas de inverno, como o trigo e cevada, por exemplo, está comprometida. As chuvas provocaram o acamamento das plantas, além do atraso na colheita e a soja já está pedindo passagem em boa parte das áreas cultivadas com trigo".

O milho e o feijão, cultivados em quase todas as regiões do Estado, também foram atingidos. Prejuízo nessas culturas é sinônimo de pragas e doenças favorecidas pela umidade. A maça é outra vítima do clima chuvoso que se instaurou por ali. "As lavouras já estavam em fase de florecimento, a polinização das flores foi comprometida e o número de frutos vai ser menor", diz Minuzzi.

Além de favorecer o aparecimento de doenças, a seqüência de chuvas prejudica a aplicação de defensivos agrícolas e também de adubação das lavouras. O produtor Gelson Francisco Martins cultiva mil hectares de arroz na região de Tubarão e viu os 70% de insumos já aplicados na lavoura irem por água abaixo - ele havia investido R$ 500 mil em herbicidas, adubos de base e uréia de cobertura. "Estamos bonbeando a água para os rios que passam por perto. Mas quando a lavoura arranca mal, sai mal no final", lamenta Gelson.

A cebola produzida na região do vale do Itajaí e que deveria ser colhida nos próximos dias corre risco de apodrecer. O Estado é o maior produtor brasileiro do tempero. As hortaliças mais frágeis, como os morangos, já estão completamente comprometidas. "São culturas de menor porte e foram completamente arrasadas", relata Minuzzi. O agrometereologista explica que existem dois cenários distintos no Estado. "Desde o dia três de novembro a chuva cessou do centro até o oeste, o que é benéfico para as lavouras de lá. Mas no restante a situação é muito delicada".

Algumas precipitações de granizo, fenômeno localizado no planalto norte, meio-oeste e oeste catarinense afetaram as plantações de trigo e fumo.

O Centro de Socioeconômica e Planejamento Agrícola da Epagri (Cepa), fez um levantamento preliminar das estragos causados pelas chuvas, mas ainda não conseguem estimar o prejuízo a ser colhido no próximo ano. Cerca de 6% da área coberta com soja foi atingida pelas chuvas de maneira prejudicial. O milho deve ser afetado na mesma proporção. Quase 90% da área prevista já está plantada, portanto as perdas não serão tão negativas, mas a produtividade ainda está comprometida. A produção de trigo, que este ano poderia crescer 37%, também está comprometida.

Dionísio Bressan Lemos, presidente da cooperativa agropecuária de Tubarão, explica que os produtores de arroz da região ainda cogitam o replantio, mas lembra do risco de ondas frias em abril caso a colheita atrase. Ele calcula que de 500 mil toneladas a serem colhidas, 200 mil podem estar comprometidas, o que representaria uma quebra de 40% da safra. Santa Catarina é o segundo maior produtor do cereal. As indústrias de arroz do Estado, que têm capacidade de beneficiamento superior à produtividade catarinense, devem também sofrer as conseqüências dessa quebra de safra.

Jaime Franzner, presidente do Sindicato das Indústrias do Arroz no Estado de Santa Catarina Sindarroz-SC, reconhece que agora o prejuízo está nas mãos dos produtores, mas prevê atrasos no recebimento do grão e ainda perda de qualidade. "O custo da matéria-prima vai subir mais no litoral."



Fonte: Gazeta Mercantil






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Gazeta Mercantil

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