Brasil precisará investir mais de R$ 3 trilhões para zerar emissões no transporte rodoviário de cargas até 2050, aponta estudo
Desde os investimentos na produção de novos combustíveis e na ampliação e modernização da infraestrutura, até a renovação da frota, a descarbonização do transporte rodoviário de cargas no Brasil, essencial para o cumprimento das metas do Acordo de Paris, deverá demandar cerca de R$ 3,42 trilhões em investimentos nos próximos 25 anos. É o que revela o estudo “Roadmap para o Transporte Rodoviário Net Zero”, do Pacto Global da ONU – Rede Brasil. O trabalho, que contou com o apoio da Scania e a parceria estratégica da Confederação Nacional de Transportes (CNT), será lançado durante a COP30, em Belém.
Elaborado pela Mitsidi Consultoria, o documento apresenta um mapeamento inédito dos mecanismos de fomento - linhas financiamento e medidas de incentivo - disponíveis para a descarbonização do setor, analisa o grau de maturidade das tecnologias de baixo carbono e seus custos, além de sugerir ações práticas que empresas podem adotar para reduzir emissões no transporte de cargas.
“Esse trabalho reforça que o Net Zero não é apenas uma resposta à crise climática, mas uma oportunidade de reposicionar o Brasil como protagonista global na transição energética. Com inovação, planejamento e cooperação entre setores, é possível transformar um dos maiores desafios da nossa economia em um vetor de desenvolvimento sustentável”, afirma Guilherme Xavier, diretor do Pacto Global da ONU – Rede Brasil.
O documento tem como premissa os achados do estudo “Transporte Rodoviário Comercial Net Zero 2050”, lançado em 2022 pelo Pacto Global e Scania, que propõe uma estratégia estruturada para acelerar a substituição gradual de combustíveis fósseis por 5 alternativas tecnológicas: biodiesel renovável, diesel verde (HVO), biometano, veículos elétricos a bateria (BEV) e veículos elétricos movidos a hidrogênio verde (FCEV). O estudo considerou também as metas de redução das emissões assumidas pelo Brasil e formalizadas em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (sigla em inglês, NDC).
“A nossa missão vai além da oferta de tecnologias que contribuam para a descarbonização do setor de transporte pesado. Atuamos nas frentes que viabilizam a redução de emissões e endereçam os desafios que ainda temos para ganhar escala nas alternativas ao fóssil.”, diz Patrícia Acioli, diretora de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade da Scania.
Segundo as projeções mostradas, o país tem potencial para reduzir em até 73% as emissões do transporte rodoviário pesado, desde que haja uma ação coordenada entre governo, setor privado, instituições financeiras e sociedade civil, contribuindo para que o Brasil atinja a sua meta na NDC. As emissões residuais (16,17 MtCO2eq em 2050) deverão ser neutralizadas em 2050 com o uso de tecnologias de captura e/ou por meio dos créditos de carbono, visando alcançar a neutralização de carbono.
Colaboração multissetorial e visão de futuro
Há 2 anos, oPacto Global da ONU – Rede Brasil e a Scania se uniram para criar o Hub de Biocombustíveis e Elétricos. A proposta é fomentar um centro de discussões voltado à descarbonização do transporte rodoviário reunindo especialistas, pesquisadores, empresários, tomadores de decisão e governo para promover um ambiente que favoreça a geração de projetos e iniciativas que acelerem a transição do setor para uma economia de baixo carbono. O Hub conta com a participação de quase 90 empresas que representam 15% do PIB nacional.
O projeto se propõe a oferecer às empresas participantes uma jornada de capacitação, por meio de clínicas, buscando o entendimento sobre biocombustíveis e eletrificação para a descarbonização do setor de transportes do modal rodoviário, podendo se estender à cadeia de valor. A jornada proporciona também networking entre seus membros por meio de encontros regulares de implementação dos projetos, compartilhamento de boas práticas.
Desafios e oportunidades
Responsável pela maior parte do transporte de cargas no país, o modal rodoviário também é um dos principais emissores de gases de efeito estufa (GEE). A transição dos combustíveis fósseis para alternativas sustentáveis é inevitável, embora envolva grandes desafios e oportunidades.
O estudo propõe aprimorar o financiamento e os incentivos para a adoção de tecnologias de baixo carbono, estimulando a integração entre stakeholders e a colaboração entre os diferentes elos da cadeia de valor.
A publicação reúne as principais percepções do mercado e apresenta ações estruturantes de curto, médio e longo prazos, tanto no âmbito macro — envolvendo bancos e governos — quanto no micro, voltado às empresas. Também são identificados riscos e estratégias de mitigação para cada etapa da transição.
Entre os principais entraves apontados estão a burocracia no acesso ao crédito, a falta de infraestrutura adequada e a ausência de políticas públicas claras que impulsionem a substituição dos combustíveis fósseis.
“Os achados do relatório técnico servem como norteadores para priorização das ações e nos ajudam a mobilizar atores de infraestrutura e políticas públicas, visando criar caminhos para um ambiente de negócios que acelere os avanços necessários”, destacou Patricia.
O levantamento reforça que a descarbonização do transporte rodoviário de cargas não é apenas uma necessidade ambiental, mas também uma oportunidade econômica. Com vocação produtiva, diversidade energética e capacidade de inovação, o Brasil pode liderar a mobilidade de baixo carbono no cenário global.
“O destaque importante é o fomento da diversidade de soluções e o olhar vocacional alinhado à especificidade de cada região do país. Este não é apenas um caminho de prosperidade ambiental, mas também de prosperidade econômica e social”, conclui Ana Carolina Dias, dra, Gerente de Transição Energética e Mobilidade Sustentável, coordenadora do estudo pela Mitsidi.
Confira a seguir, os principais destaques da publicação:
- Financiamento como eixo central da transição: foram mapeados 21 mecanismos de fomento, com predominância de biocombustíveis. Foco na linha produtiva, criar linhas para pequeno e médio porte. Maior parte capital próprio não avança. Os investimentos estimados somam R$ 3,42 trilhões até 2050, com média anual de R$ 136,84 bilhões e previsão de criação de 42 mil novos pontos de abastecimento.
- Preferências tecnológicas: biometano e veículos elétricos lideram as escolhas empresariais, seguidos por biodiesel renovável, diesel verde e hidrogênio.
- Principais barreiras: custo elevado para renovação de frotas mais sustentáveis; dificuldades no acesso ao crédito; falta de clareza nas políticas públicas que impulsionem a adoção dessas tecnologias; e ausência de infraestrutura adequada são os principais entraves.
- Ações estruturantes: o roadmap propõe 132 iniciativas distribuídas em quatro objetivos — facilitar o financiamento de frotas sustentáveis; diversificar investimentos e incentivos; criar um ecossistema de infraestrutura e regulação; e ampliar o engajamento entre governo, empresas e sociedade.
- Projeções para 2050: frota necessária de 1,27 milhão caminhões elétricos e movidos a biocombustíveis de longa distância, geração de 833 mil empregos acumulados e redução de 1,63 GtCO₂.
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